LITERATURA INFANTOJUVENIL


MALBA TAHAN: UM HOMEM QUE NÃO CALCULÁVAMOS

Malba Tahan cujo nome é Júlio César de Mello e Souza, nasceu no Rio de Janeiro em 06 de maio de 1895 e faleceu em 18 de junho de 1974. Produziu 69 livros ficcionais e 51 relacionados à Matemática. Seu livro mais conhecido é O Homem que calculava que foi traduzido para 12 idiomas, entre eles: alemão, italiano, espanhol, catalão e inglês (Estados Unidos e Inglaterra).

Formou-se em Engenharia Civil na Escola Politécnica em 1913, mas optou em ser professor de Matemática. No decorrer de toda sua vida lecionou em escolas brasileiras de renome, além disso, realizou conferências no Brasil e fora dele. Era idealista e se envolvia com causas humanitárias, por exemplo, a campanha contra a discriminação aos leprosos (hanseníase).

O livro O Homem que calculava é muito complexo para mim que tenho a mente subjetiva e um tanto avessa aos números. Dele li e reli o livro A arte de ler e contar histórias, mas só falarei deste livro na próxima Coluna.

Neste momento quero abordar a fundamental importância do entrelaçar da literatura com as diversas áreas, incluindo a Matemática. E começo dizendo que acreditar que narrar histórias é uma prerrogativa de uma determinada profissão ou que para cumprir essa tarefa é necessário dom inato é uma crença equivocada. Assim como é inverdade atribuir apenas ao professor de Português/Literatura esta função. Defendemos que o fundamental é a disponibilidade comunicacional e afetual de todos os mediadores, em especial, no âmbito da escola.

A escola, em especial, a Educação Infantil que é a base para as construções cognitivas do indivíduo deve trabalhar sempre de modo concreto e coerente com maturidade emocional de seus educandos. Vale destacar que não se pode tirar do indivíduo a responsabilidade de sua aprendizagem, mas a mediação em nossas vidas é uma constante, pois somos seres inacabados e inconclusos. (FREIRE, 2006)

Assim, acreditamos na imprescindibilidade da relação professor - aluno; bibliotecário – aluno, sendo os primeiros atores mais experientes e, o segundo, menos experiente.

Ao se falar de Malba Tahan, em geral pensa-se apenas no campo numérico e matemático, mas estudando sua vida é fácil descobrir um homem múltiplo. Isso é percebido, por exemplo, no tom vibrante ao redigir o texto de apresentação da obra As Mil e Uma Noites, cuja versão é de Antoine Galland.

Árabes, armênios, egípcios, persas e nômades [...], imóveis, sem respirar, refletiam na expressão dos rostos todas as palavras do orador. Naquele momento, com a alma toda nos olhos, deixavam ver, claramente, a ingenuidade e a frescura de sentimentos que ocultavam sob a aparência de uma dureza selvagem. (GALLAND, 2004, p.17, grifo nosso).

Analisando o conjunto de sua obra é facilmente perceptível a criatividade desse homem. Começando pela origem de seu pseudônimo, um fato sui generis. Aos 23 anos o autor cria um personagem para si, redigindo a sua própria biografia da seguinte forma:

Malba Tahan nasceu em 1885 na aldeia de Muzalit, Península Arábica, perto da cidade de Meca, um dos lugares santos da religião muçulmana, o islamismo. Foi prefeito da cidade árabe de El-Medina, estudou no Cairo e em Constantinopla. Aos 27 anos recebeu uma grande herança do pai, iniciando uma longa viagem pelo Japão, Rússia e Índia. Morreu em 1921, lutando pela libertação de uma tribo na Arábia Central. (FICHA..., 2017).

Apesar da dificuldade no acesso às informações a respeito de Malba Tahan, apresento a seguir algumas curiosidades garimpadas em, sua maioria, sites na internet. A primeira:

O nome Tahan foi tirado do sobrenome de uma de suas alunas (Maria Zachsuk Tahan) e significa moleiro. O nome Malba significaria oásis. A mudança de nome tornou-o tão famoso que o presidente Getúlio Vargas autorizou-o a usar o nome Malba Tahan na sua cédula de identidade. (MALBA..., 2008).

Malba Tahan, por defender com grande intensidade as suas ideias, teve admiradores e opositores. Escolho falar apenas dos admiradores. Jorge Luis Borges coloca a obra O Homem que calculava entre as mais notáveis da Humanidade. (HISTÓRIA..., 2009).

Monteiro Lobato, em 14 de janeiro 1929, após o recebimento de um exemplar desta obra, envia a seguinte correspondência ao autor:

“O Homem que calculava” já me encantou duas vezes e ocupa lugar de honra entre os livros que conservo. Falta nele um problema – o cálculo da soma de engenho necessário para a transformação do deserto da abstração matemática em tão repousante oásis. Só Malba Tahan faria obra assim, encarnação que ele é da sabedoria oriental – obra alta, das mais altas, e só necessita de um país, que devidamente a admire; obra que ficará a salvo das vassouradas do Tempo como a melhor expressão do binômio “ciência-imaginação”. Que Allah nunca cesse de chover sobre Malba Tahan a luz que reserva para os eleitos. (CITAÇÕES..., 2017).

É interessante observar que o manancial imaginativo de Malba Tahan, contamina as pessoas que o leem. Isso pode ser notado, por exemplo, na apresentação que o poeta Olegário Mariano faz no livro, Lendas do deserto, escrito por Malba Tahan. Nele o poeta fala do autor como se fosse um personagem:

A nossa convivência é tão íntima que ainda há poucos dias ele teve a franqueza de mostrar-me, à altura do peito, um pouco acima do coração, a cicatriz que uma lança lhe abrira quando em julho de 1921, nos arredores de El-Riad, lutava como um novo Antar do século XX, pela liberdade de uma pequena tribo perdida na Arábia Central. (TAHAN, 1996, p.7).

Portanto, minha avaliação é que Malba Tahan deve ser valorizado também pela capacidade de unir com muita maestria – razão e imaginação, além disso, entendo que mediar leitura de textos literários também é tarefa dos professores de todas as disciplinas. E como professor de Matemática, Malba Tahan é modelo a ser seguido.

Na próxima Coluna que terá o título - Malba Tahan A Arte de ler e contar histórias: livro antigo ou moderno? vou opinar a respeito dessa obra publicada pela primeira vez em 1957.

 

Sugestões de leitura:

CITAÇÕES Monteiro Lobato. Disponível em: <http://citacoes.in/autores/monteiro-lobato/>. Acesso em: 20 mar.2017.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. 34.ed. São Paulo: Paz e Terra, 2006.

GALLAND, Antoine. As Mil e uma noites. Tradução: Alberto Diniz. 22.ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004. v.1.

HISTÓRIA da Matemática: Malba Tahan. Disponível em:
<http://www.mat.ufrgs.br/~portosil/malba.html>. Acesso em: 20 jan. 2009.

MALBA Tahan, ou melhor Júlio César de Mello e Souza. Disponível em: <http://www.champ.pucrs.br/matema/malba_tahan.htm>. Acesso em: 26 dez. 2010.

MALBA Tahan (Prof. Júlio César de Mello e Souza. Sobre o autor. Disponível em: <http://www.record.com.br/autor_sobre.asp?id_autor=874>. Acesso em: 20 fev. 2017.

TAHAN, Malba. Lendas do deserto. 15.ed. Rio de Janeiro: Record, 1996.


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SUELI BORTOLIN

Doutora e Mestre em Ciência da Informação pela UNESP/ Marília. Professora do Departamento de Ciências da Informação do CECA/UEL - Ex-Presidente e Ex-Secretária da ONG Mundoquelê.