LITERATURA INFANTOJUVENIL


CAVEIRA, MUITO PRAZER....

Poucas pessoas param para pensar na diferença entre esqueleto e caveira, mas eu que gosto de narrativas assombrosas faço isso. Será que sou esquisita?! Confesso que na década 1980, quando comecei a trabalhar no Sesc-Londrina, era tão magra que me chamavam de ponto de exclamação. Isso nunca me incomodou. 

Não me importava porque com minha agitação e esse apelido me sentia um esqueleto-em-ação! Não sei se por me lembrar da minha tia Augusta contando histórias de cemitério de forma tão divertida, eu até gostava. Assim, desde sempre coleciono textos e livros infantis com as palavras (caveira e esqueleto). Isso me lembra o poema de Mario Quintana:

Hai-Kai

No meio da ossaria
Uma caveira piscava-me...
Havia um vagalume dentro dela.

Outro texto que eu gosto e rio é a música na voz de Alvarenga e Ranchinho.

Romance de uma caveira

Eram duas caveiras que se amavam
E à meia-noite se encontravam
Pelo cemitério os dois passeavam
E juras de amor então trocavam
Sentados os dois em riba da lousa fria
A caveira apaixonada assim dizia
Que pelo caveiro de amor morria
E ele de amores por ela vivia
Ao longe uma coruja cantava alegre
De ver os dois caveiros assim felizes
E quando se beijavam em tons fúnebres
A coruja batendo as asas, pedia bis
Mas um dia chegou de pé junto
Um cadáver novo de um defunto
E a caveira pra ele se apaixonou
o caveiro antigo abandonou
E o caveiro tomou uma bebedeira
E matou-se de um modo romanesco
Por causa dessa ingrata caveira
Que trocou ele por um defunto fresco.

Rio quando Gomez Addams faz declaração de amor para Mortícia Addams sentados em pleno cemitério no filme A família Addams. Pode parecer macabro, mas pra mim é uma cena sensacional!

Assim, fiz uma seleção de livros infantis que narram histórias de ossaria para aqueles que se divertem como eu:

Há uma história de cemitério que é disseminada no Brasil de várias formas. Eu já vi o Rolando Boldrin contando-a em seu programa. Outro dia encontrei essa história em forma de poema escrito por um menino de 13 anos chamado Jonas Worcman de Matos no livro A casa do Franquis Tem, livro que divide a autoria com seu pai José Santos, com ilustrações fenomenais de Jótah. O livro não tem nem caveira e nem esqueleto no título, mas gostei e acabei incluindo aqui:

PASSANDO PELO CEMITÉRIO

Saía da escola,
já estava anoitecendo.

Eu ia para casa do Rogério
e vi uma menina
atravessando o cemitério.

Fui lá e disse:
“Estou com medo
de passar por aqui sozinho,
Posso ir com você?!

E ela respondeu, bem baixinho:
“Mas é claro!
Quando estava viva,
sentia a mesma coisa,
amiguinho...” 

Outra versão dessa história está no livro intitulado Sete histórias para sacudir o esqueleto de Angela Lago (desculpem a digressão, mas ela foi para outra dimensão no mês passado e deixou seus fãs atordoados!). Nele o título da história é Encurtando o caminho:

Tia Maria, quando era criança, um dia se atrasou na saída da escola, e na hora em que foi voltar para casa já começava a escurecer. Viu uma outra menina passando pelo cemitério e resolveu cortar caminho, fazendo o mesmo trajeto que ela. Tratou de apressar o passo até alcançá-la e se explicou: - Andar sozinha no cemitério me dá um frio na barriga! Será que você se importa se nós formos juntas? – Claro que não. Eu entendo você – respondeu a outra. – Quando eu estava viva, sentia exatamente a mesma coisa.

Em um livro escrito por Ricardo Azevedo e ilustrado por Guto Lacaz (Esqueleto, tomate e pulga) há três histórias bem humoradas, a primeira é a de um esqueleto muito criativo que vai se imaginando em algumas situações cotidianas, por exemplo: assusta, com um Bu!, um ladrão no momento de um assalto ao banco, vira celebridade e é entrevistado por um repórter que não consegue tirar respostas coerentes dele. Imagina se um dia ele fosse estudado em uma aula de biologia, entre outras perguntas as crianças gostariam de saber: é macho ou fêmea? Imagina também saindo no Carnaval balançando o esqueleto e, afirma que com certeza sairia cantando: “Quando eu morrer/Não quero choro nem vela/Quero uma fita amarela/Gravada com o nome dela.”

Quero destacar ainda um livro da Coleção Meus Monstros (FTD) cujo título é O esqueleto. O texto é do escritor espanhol – Enric Lluch e ilustrado por Mercè López. O texto é muito criativo e divertido, mas as ilustrações do Ossudinho (personagem principal) têm uma expressividade carnal (espero que me compreenda leitor!). O livro conta a vida de um esqueleto que quer ser jogador de futebol e a família tenta provar que isso seria impossível. Que tristeza vê-lo espiar, pelo buraco do muro, os outros meninos jogando.

Esse tema atrai outras conversas como fantasma e drácula, então não resisto...

Gosto também de brincar com a palavra fantasma. O meu livro infantil preferido nesse tema é Fantasmas chateados de Rogério Borges, publicado pela Editora Moderna. Tenho a 1ª. edição, de 1992. De tanto ler essa história, sei de cor o pedaço que as crianças mais gostam: seu fantasma bobão, cara de melão, não me pega não. 

Preciso falar da Coleção Draculinha de Carlos Queiroz Telles e Eneas Carlos Pereira da Editora FTD, que é formada por cinco títulos: A vida acidentada de um vampirinho, Draculinha, um astro em Hollyblood, Draculinha no Pantanal, Férias na Draculândia e Na próxima eleição vote no Draculão. Não consigo ter certeza, precisaria reler esses livros, mas se a memória não me falha é no A vida acidentada de um vampirinho que o draculinha por não ter uma bola de borracha, pega um crânio e sai jogando uma pelada divertidamente.

Coleciono também livros infantis que abordam a morte, até já fiz uma coluna falando deles. Ampliei minha coleção e quero falar de O Baile das caveiras, que não se trata de um livro assustador, ele é até um pouco romântico. Foi escrito por Jonas Ribeiro e ilustrado por Cris Alhadeff. Começa com uma dedicatória ao artista Sidney Magal – “que faz tanta caveira dançar e balançar o esqueleto.” Quero falar também do livro Só um minutinho de Yuyi Morales. Quero falar do Moscas e outras memórias de Eve Ferretti. 

Só que essa conversa é para outro dia, de preferência em noite de lua cheia.

Sugestão de leituras:

ALVARENGA e Ranchinho. Romance de uma caveira. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=8WOTNBQoxO8>.

AZEVEDO, Ricardo. Esqueleto, tomate e pulga. São Paulo: ÔZé Editora, 2011.

BORGES, Rogério. Fantasmas chateados. São Paulo: Moderna, 1992.

LAGO, Angela. Sete histórias para sacudir o esqueleto. 2.ed. São Paulo: Cia das Letrinhas, 2010.

LLUCH, Enric; LÓPEZ, Mercé. O esqueleto. Tradução de Heloisa Prieto. São Paulo: FTD, 2012.

MATOS, Jonas Worcman de; MATOS, José. A casa do Franquis Tem. São Paulo; FTD, 2008. p.41.

RIBEIRO, Jonas. O baile das caveiras. Juiz de Fora: Franco Editora, 2010.

TELLES, Carlos Queiroz; PEREIRA, Eneas Carlos. A vida acidentada de um vampirinho. São Paulo: FTD, 1989. (Coleção Draculinha)

TELLES, Carlos Queiroz; PEREIRA, Eneas Carlos. Draculinha, um astro em Hollyblood. São Paulo: FTD, [199?]. (Coleção Draculinha)

TELLES, Carlos Queiroz; PEREIRA, Eneas Carlos. Draculinha no pantanal. São Paulo: FTD, 1990. (Coleção Draculinha)

TELLES, Carlos Queiroz; PEREIRA, Eneas Carlos. Férias na Draculândia. São Paulo: FTD, [199?). (Coleção Draculinha)

TELLES, Carlos Queiroz; PEREIRA, Eneas Carlos. Na próxima eleição vote no Draculão. São Paulo: FTD, 1993. (Coleção Draculinha)


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SUELI BORTOLIN

Doutora e Mestre em Ciência da Informação pela UNESP/ Marília. Professora do Departamento de Ciências da Informação do CECA/UEL - Ex-Presidente e Ex-Secretária da ONG Mundoquelê.