BIBLIOTECAS ACADÊMICAS


BOTANDO A BOCA NO TROMBONE: MARKETING, DIVULGAÇÃO, PUBLICIDADE E ATIVIDADES AFINS NA BIBLIOTECA ACADÊMICA

Não basta botar o ovo, cacarejar é preciso!

Muitas são as atribuições dos bibliotecários em bibliotecas acadêmicas, desnecessário seria inumerá-las. Dentre as atribuições que envolvem este trabalho destacam-se a propaganda, publicidade, divulgação ou marketing dos serviços da biblioteca.

Conceituar este trabalho me parece um tanto complicado, tenho certeza que vários autores já se referiram com propriedade e não pretendo fazer aqui uma revisão bibliográfica do assunto. Pretendo abordar apenas alguns aspectos que foram surgindo ao longo do tempo em que fui desenvolvendo algumas ações de "marketing" na área.

Antes de mais nada, fica a impressão de que a biblioteca acadêmica e os demais tipos de bibliotecas não sobrevivem sem publicidade. A sua manutenção e desenvolvimento dependem desta ação. Toda atividade humana está envolta em um contexto político e estratégias de publicidade são fundamentais para sua sobrevivência como equipamento essencial nas organizações de ensino superior. Este fator, adicionado ao posicionamento da profissão de bibliotecário no "imaginário" de nossa sociedade, oferece um complicador ainda maior, pois não estamos tão bem colocados assim.

Outra impressão oferecida por essa realidade é a de que a biblioteca é vista como um setor um tanto quanto passivo dentro das organizações, confirmando um certo paradigma da passividade do profissional, do "guarda-livros" para tomarmos o termo dos contadores. Esse paradigma confirma-se em muitas situações, até mesmo em características específicas da formação técnica do profissional, bastante acentuada nas disciplinas de processamento técnico de publicações.

O que resulta é a imagem de um profissional voltado para tarefas internas à Biblioteca, preocupado apenas com o que acontece nos limites desse equipamento e desconectado do contexto em que está situado. Essa andorinha não fará o verão.

A atividade de publicidade exige exposição, o profissional deve estar preparado para expor-se antes de expor o órgão que administra, essa é a questão: muitos profissionais optam por uma não exposição e acabam limitando, e até mesmo travando, o processo de comunicação da Biblioteca com sua comunidade. A imagem da bibliotecária atrás de sua mesa olhando por cima de seu óculos já não dá conta (se algum dia deu) dos desafios que se apresentam à Biblioteca.

O processo de comunicação exige uma postura aberta, "antenada" do profissional e, para isso, ele deve desenvolver sua capacidade de interlocução, de relacionamento com os membros de sua comunidade (direção, docentes, discentes, órgãos administrativos e técnicos).

Obviamente, as oportunidades de divulgação dos serviços da biblioteca não vão bater na porta da sala do bibliotecário (isso é muito raro!); na maioria das vezes, o profissional é que deve buscá-las na sua comunidade e para isso tem que sair da Biblioteca. Deve entender que ele é o principal agente de propaganda, divulgação e marketing desse equipamento. Ele é o representante legítimo dessa atividade, se não defendê-la, quem tomará sua frente?

Em muitos momentos ouvimos queixas de profissionais lastimando que são poucos os que conhecem e valorizam o trabalho da Biblioteca. Pois bem, se são poucos, isso pode ser entendido como um sintoma de que não estamos desenvolvendo nossa capacidade de comunicação com a comunidade. Não estamos nos fazendo entender?

Diz a máxima que "quem cala consente", portanto, precisamos, mais do que nunca, desenvolver nossa capacidade de comunicação individual e de massa. Como? Difícil imaginar todas as situações e possíveis oportunidades mas creio que um bom caminho começa com um profissional aberto ao contato com a comunidade. Essa abertura deve manifestar-se com atividades por vezes obrigatórias como a realização de treinamentos com usuários, atividade que pode parecer singela, mas requer uma capacidade razoável de interlocução e expressividade. Outros meios e veículos estão à disposição da comunidade e muitas Bibliotecas acadêmicas se utilizam deles. Desde um veículo como um marcador de texto ou "mosquito" (como denominam nossas colegas do nordeste) levando informações da Biblioteca e até mesmo em programas de tv veiculados pelas próprias instituições de ensino (canais universitários ou não).

A condução de um planejamento e execução de um programa de divulgação e marketing da Biblioteca deve evidentemente levar em conta as caracteríticas da instituição de ensino, de seus recursos, meios de divulgação, de seus veículos. Do "mosquito" ao programa de tv, passando pelo folder da instituição, da Biblioteca, jornal ou revista impressa da comunidade, o principal agente de inserção do tema Biblioteca e assuntos afins é o próprio bibliotecário.

Oportunizar os recursos de comunicação da Instituição em favor da Biblioteca é um caminho dos mais desejáveis e exeqüíveis. Para tanto, o profissional deve identificá-los e buscar os meios para inserir a Biblioteca na pauta desses veículos.

Nem sempre o acesso aos veículos de comunicação é facilitado porém, me lembro de um jornalista palestrante informando à platéia, formada por profissionais de diversas áreas, o quanto é complicado planejar a pauta desses veículos e o quanto se utilizam de assuntos sugeridos por profissionais de outras áreas, ou seja, queria sugerir aos ouvintes que propusessem pautas, assuntos para compor a grande quantidade de pautas que deveriam cumprir para editar seus veículos (jornais, revistas, programas de tv, de rádio, etc). Realmente não deve ser fácil achar tanto assunto para um veículo diário, semanário e até mesmo quinzenal. Portanto, convidava ... "Colaborem!"

Dentre as ações possíveis, abra canais de comunicação com os responsáveis por esses veículos, coloque-se à disposição para colaborar no que for possível, seja em ações de apoio ao trabalho jornalístico como fornecimento de informações, acervo, documentos, etc., seja diretamente propondo pautas relacionadas com a Biblioteca e seu trabalho. Nada se consegue sem um pouco de coragem e cara-de-pau. Ninguém vai lembrar de você se você estiver escondida na Biblioteca, exponha-se!

As experiências em contato com esses veículos proporcionam grande aprendizado e, sem dúvida, são um esforço mais do que justificável no sentido de oferecer e divulgar mais informações sobre a Biblioteca à comunidade acadêmica, afinal, somos a área que possui a maior quantidade de informações armazenadas e disponíveis nas Instituições. Esse esforço justifica-se, também, no sentido de oferecermos um retorno de publicidade aos investimentos feitos na Biblioteca, e todos sabemos, não são poucos. Há sempre uma expectativa da administração superior das IES que seus investimentos sejam valorizados, cabe aos profissionais que os administram promovê-los, valorizá-los. Mãos-a-obra.

Resumindo algumas experiências que tivemos, pude observar peculiaridades desses veículos. Pois bem, vamos a eles:

Rádio

Veículo rápido, informações objetivas, concisas. Tivemos a oportunidade de veicular boletins de um minuto e meio a três pela Rádio Bandeirantes AM e FM de São Paulo falando sobre bibliotecas, leitura, livros, bases de dados, serviços bibliotecários, ações governamentais na área, etc. Com audiência estimada em 2 milhões de ouvintes por dia na região metropolitana de São Paulo, inserimos por volta de 15 boletins e, provavelmente, tenha sido a maior audiência para o tema bibliotecas e afins que conseguimos. Falando para um público extremamente diversificado, tentamos abordar assuntos que pudessem oferecer informações úteis aos ouvintes e por vezes algumas curiosidades que "apimentassem" os assuntos. Exercitamos não só nossa capacidade de dicção, locução mas, sobretudo, a capacidade de selecionar, adaptar e interpretar assuntos para torná-los palatáveis a quaisquer ouvintes, desde os mais graduados aos mais simples, humildes e por vezes sem nenhuma instrução. Aprendemos, também, que em nossa área nunca faltará um assunto para tratarmos com quaisquer que seja o público.

TV

Veículo mais complexo por trabalhar a imagem e por isso mais rico em informação. Trabalhamos com inserções no Canal Universitário - CNU, transmitido por cabo na capital paulistana, com audiência média de 30.000 telespectadores por dia. Na maioria das vezes inserimos temas relacionados às potencialidades informacionais das bases de dados científicas/acadêmicas disponíveis nas bibliotecas universitárias, Inserimos, também, através de alguns temas escolhidos, amostras de publicações mais importantes do acervo, e de forma mais enfática, falamos sobre os serviços disponíveis nas Bibliotecas. A experiência da linguagem da televisão foi bastante empolgante pois leva em conta toda uma ambientação e movimento que também passa informação, além, é lógico, do texto que deve ser bastante claro, despido de linguagens técnicas, acessível. Preocupe-se e dê palpites nos ângulos das "tomadas" de imagens e no que será focalizado em primeiro e segundo plano. Você é que sabe o que é mais importante ser mostrado na Biblioteca. Evite, obviamente, os pontos fracos de sua Biblioteca ou de seus serviços. Por vezes, desavisadamente, são justamente esses pontos que os produtores enfocam.

Jornais / veículos impressos

Veículo que permite desenvolvermos com maior tempo o nosso tema. Importante quando participamos, também, da elaboração do texto. Seja no formato de revista ou de jornal, participamos com algumas inserções exporádicas como tema principal ou segundário e recentemente, durante o ano de 2002, fomos agraciados com uma página toda do jornal semanário da Instituição, a Folha Universitária. A experiência, bastante intensa de desenvolvermos um texto de 4 mil caracteres por semana, mobilizou toda a equipe de bibliotecários da Instituição e creio foi muito interessante para todos. Do planejamento das pautas semanais ao aprendizado de ritmo e desenvolvimento dos textos, edição de imagens, seleção de temas, revisão, aprendemos muito, produzimos mais de quarenta artigos abordando boa parte dos principais temas que envolvem o trabalho de uma biblioteca acadêmica, tentando, sempre, traduzi-los em linguagem bastante acessível a todos. Com edições de 25 mil exemplares por semana há uma potencialidade de divulgação das ações da Biblioteca e um prazer especial em vê-los nascendo, sendo distribuídos a cada membro de nossa comunidade, ganhando cores, cheiro, realizando-se em um pedaço de papel, página 7, com sabor e ansiedade. Compartilhamos esse prazer dos privilegiados jornalistas e, sem dúvida, nos trouxe um conforto enorme pois há muito o que dizer de nossos trabalhos e, sabemos, a comunicação é um ponto crítico, sempre.


Como conclusão dessa jornada de aprendizado e experiências fica sempre a sensação de que muito temos a fazer, que nunca é o bastante mas também há o reconforto do trabalho iniciado, a sensação de que aproveitamos as oportunidades para realizar um trabalho senão de um profissional de comunicação e marketing, pelo menos sincero, feito com base no que podemos oferecer em nossas Bibliotecas. De alguma forma, planejada ou intuitivamente, cumprimos nossa missão. Alguns tijolinhos foram postos neste grande edifício, participamos dessa obra, metemos a mão na massa. Sempre com alguma coragem e cara-de pau, expondo-se, dando a cara pra bater e conseguindo os espaços que precisamos. Mãos a obra, se ninguém bater em sua porta, não espere, vá e bata você na porta deles.

Como ninguém é de ferro e sempre há alguém buscando sarna para se coçar, estamos propondo uma nova iniciativa de divulgação de Bibliotecas, Arquivos, Museus, Centros de Documentação e Informação e afins. Como ainda não temos o ok final e não conseguimos o tempo necessário para colocar " o bloco na rua" , não posso adiantar muita coisa mas posso dizer que o veículo será a televisão. Aguardem!

OBS: As edições da Folha Universitária com mais de quarenta artigos sobre as Bibliotecas e assuntos afins estão disponíveis em formato pdf aos interessados. Caso haja interesse escreva para o e-mail amoreira@uniban.br e enviaremos.


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ARTUR DA SILVA MOREIRA

Bibliotecário, fundou e presidiu o Grupo de Bibliotecas de Instituições Particulares de Ensino Superior – GBIPES (1997 – 2004) e a Comissão Brasileira de Bibliotecas das Instituições Federais de Educação Profissional, Científica e Tecnológica – CBBI (2011 – 2014). Formado pela FESP-SP, turma de 1987. Coordena o Grupo de Trabalho de Cadastro de Bibliotecas e Profissionais da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica e atua como moderador e administrador da Lista de Discussão da CBBI, atualmente com 672 membros.