PRÁTICAS PROFISSIONAIS EM AMBIENTES DE INFORMAÇÃO


COMO OS AMBIENTES DE INFORMAÇÃO PODEM ATUAR NA PANDEMIA E PÓS-PANDEMIA?

A Pandemia do Novo Coronavírus impôs uma multiplicidade de questões que ao mesmo tempo redimensiona os modos de construção, atuação e convivência na sociedade global, considerando as vicissitudes de indivíduos-grupos e das instituições, considerando as representações que contemplam o poder público (Executivo, Legislativo e Judiciário), privado e alternativo, nas esferas nacional, estadual, municipal e local, assim como elementos temáticos circunscritos, tais como cultura, educação, ciência, meio ambiente etc. A pandemia impõe dramaticamente novas condições para atuação das instituições que inclui ambientes de informação como bibliotecas, arquivos, museus e instituições correlatas que se caracterizam pelos seguintes fatores:

  1. virtualização – referente ao conjunto de atividades realizadas à distância ou em caráter semipresencial, com vistas à manutenção do setor produtivo em diversos setores do conhecimento, dinamizadas pelas TIC em ambientes ciberespaciais como redes sociais, ambientes virtuais de aprendizagem, plataformas digitais, softwares, entre outros;
  2. reconfiguração das interações sociais – valorização das relações entre indivíduos e instituições, indivíduos e indivíduos e instituições e instituições, através de atividades de interesse público que congregue setores diversos do conhecimento e se constitua no âmbito da virtualização;
  3. o conhecimento como mola motora da sociedade – a construção do conhecimento, em especial, o técnico-científico como base de orientação para lidar com os diversos problemas causados pela Pandemia que vão desde os cuidados com a saúde, educação até o desenvolvimento profissional e intelectual de modo geral;
  4. reestruturação das políticas de interesse público – valorização de políticas que primem pela inclusão digital, democratização das TIC e valorização das atividades virtuais nos diversos setores do conhecimento que contemplem com ênfase as questões da saúde, cultura, educação, C & T, meio ambiente e tudo aquilo que galvanizar a produção de conhecimentos e atividades em geral;

A Pandemia evidencia que os ambientes de informação precisam de modo lato a adequação as atividades de virtualização, reconfiguração das interações sociais, a valorização do conhecimento como elemento fulcral que norteia a sociedade e a constituição de atividades de interesse público que inclui a consecução de políticas públicas.

Os ambientes de informação possuem uma variedade de tipologias e de aplicações nos setores do conhecimento, o que expressa a dimensão nocional de que bibliotecas, arquivos e museus possuem a capacidade de contribuir e impactar os diversos setores e instituições da sociedade. Diante da reflexão proposta, os ambientes de informação podem atuar na Pandemia e Pós-Pandemia através de três macro elementos:

  1. Elementos técnicos

São atinentes a capacidade que os ambientes de informação possuem para lidar com as TIC, visando uma aproximação mais ampla com o público em tempos de Pandemia. Neste caso, os ambientes de informação podem atuar com elementos técnicos, a saber:

  1. blog e site – ambientes virtuais a fim de conter dados e conteúdos sobre a atuação do ambiente de informação em si e sobre assuntos diversos. Por exemplo, uma biblioteca escolar, pública, universitária ou mesmo um arquivo podem conter um blog ou site para expor os serviços, produtos e atividades gerais oferecidas, assim como dados e conteúdos adicionais de interesse público;
  2. sistemas de informação – softwares comumente desenvolvidos para computadores e notebooks com o intuito de dinamizar o gerenciamento do ambiente de informação em termos de acervo, tecnologia, serviços e produtos. Por exemplo, uma biblioteca escolar, pública, universitária ou arquivo possuem um sistema de informação em que é possível exercer um conjunto de atividades como empréstimo, renovação, busca, consulta e demandas por serviços e produtos por parte da comunidade de usuários;
  3. aplicativos – softwares comumente desenvolvidos para tablets e smartphones com o intuito de dinamizar o gerenciamento do ambiente de informação em termos de acervo, tecnologia, serviços e produtos. Por exemplo, uma biblioteca escolar, pública, universitária ou arquivo possuem um sistema de informação em que é possível exercer um conjunto de atividades como empréstimo, renovação, busca, consulta e demandas por serviços e produtos por parte da comunidade de usuários;
  4. repositórios institucionais – se configura em uma base de dados que contempla a produção científica de uma determinada instituição ou área do conhecimento. Por exemplo, uma biblioteca universitária que congrega a produção científica da comunidade acadêmica, desde artigos, monografias, dissertações, teses, livros, capítulos de livros etc.;
  5. plataformas digitais – ambientes virtuais de aprendizagem com a finalidade de oferecimentos de cursos, eventos e formações em geral para a comunidade de usuários;
  6. uso de redes sociais – ambientes virtuais na internet para difusão e mediação da informação de blog/site, sistemas de informação, aplicativos, repositórios institucionais, plataformas digitais, bem como dos elementos pedagógicos e institucionais.

Sobre os elementos técnicos é fundante pensar na consecução das atividades com aplicativos e redes sociais.

Atualmente para quase tudo há o uso de aplicativos (compra, troca e consumo no contexto da alimentação, locomoção, vestuário e serviços/produtos em geral), mas pouco ainda se reflete em ambientes de informação. É preciso pensar que o distanciamento dos ambientes de informação dos aplicativos implica no distanciamento da sociedade, já que parte considerável do uso da internet e de recursos tecnológicos ocorre por smartphone via aplicativos. Por isso, os ambientes de informação públicos e privados, através de parcerias com o poder público, privado e alternativos, incluindo os órgãos de classe como Conselhos, Associações e Sindicatos, devem buscar o desenvolvimento de cooperações para a efetivação dos aplicativos nos ambientes de informação, visando uma aproximação mais cotidiana junto à comunidade de usuários.

Já as redes sociais captam um conjunto lato de dados e conteúdos do mundo informacional, o que reflete a necessidade dos ambientes de informação se apropriarem das redes sociais, como Instagram, Facebook, Twitter, Linkedin, YouTube, entre outros para a realização das atividades. No entanto, não basta apenas o ambiente de informação dispor da rede, mas conceber uma gestão da informação das redes sociais a fim de promover uma política in totum do conjunto de atividades realizadas, aproximando o ambiente de informação da realidade cotidiana da comunidade de usuários de modo propositivo e criativo.

  1. Elementos pedagógicos

É referente ao conjunto de atividades que os ambientes de informação podem realizar, visando à mediação, acesso e uso da informação, considerando todo arsenal de serviços, processos e produtos disponíveis por meio das seguintes atividades:

  1. serviço de referência virtual – serviços desenvolvidos através de e-mail, chat, telefone, redes sociais, videoconferência, SMS, grupos ou listas de discussão, inteligência artificial (atendimento automático virtual) etc., com vistas ao auxílio bibliográfico para a comunidade, provisão de documentos para a comunidade, serviço de alerta informal (exposições sobre aspectos da ciência e práticas de pesquisa) e formais (lista de novas aquisições de acervo direto e indireto dos ambientes de informação e orientação ao usuário com consultas orientadas e cursos de fundamentação bibliográfica e documentária que estimulem a busca multiplicada na variedade de acervos diretos e indiretos;
  2. serviço de informação utilitária virtual – temáticos: devem ser desenvolvidos a partir de eventos de impacto que envolvem exposições, palestras, exibição de filmes, apresentações culturais, informações nos diversos meios físicos e virtuais disponibilizados pelos ambientes de informação etc. e podem contemplar temas de relevância como: sustentabilidade, cuidados com a saúde (incluindo orientações e estímulos à atividades físicas em crianças, jovens e/ou adultos a depender do tipo de usuário dos ambientes de informação), práticas de empreendedorismo, orientação sobre habilidades profissionais e o desenvolvimento das profissões na atualidade (incluindo mercado de trabalho e possibilidades de inserção mercadológica dos usuários), preservação da memória de uma comunidade, município, Estado ou país, direitos e valores humanos, família, fundamentos de legislação, esportes, política, economia, entretenimento, entre outros; autorais: são serviços mais específicos e comumente partem da escolha conjunta dos ambientes de informação e da comunidade de usuários de alguma personalidade (artística, profissional, técnica, religiosa ou científica) que será minuciosamente valorizada e exposta por meio de serviços estratégicos como palestras, exposições, informações nos meios físicos e virtuais, etc.; culturais: estes são os serviços utilitários mais relevantes dos ambientes de informação, pois atuam cotidianamente nos seguintes temas: mediações culturais, mediações da leitura, questões étnicas e raciais, preservação da memória individual e coletiva, cultura digital, atividades artísticas como música, dança, teatro, pintura, desenho, assim como atividades para o letramento informacional atuando, principalmente, como uma extensão do aprendizado de usuários dos ambientes de informação; utilidade pública: são serviços permanentes a partir de guias, manuais e informações cotidianas disponibilizadas em espaços físicos e virtuais oferecidas pelos ambientes de informação, buscando aproximar os ambientes de informação do dia-a-dia do usuário a partir de temas como: saúde, cultura e lazer e utilidade pública, além de outros assuntos referentes a realidade cotidiana dos usuários;
  3. serviço de disseminação seletiva da informação virtual – através das redes sociais é possível criar categorias específicas de grupos e muni-las com informações específicas. Os perfis de ambientes de informação em redes sociais devem apresentar um caráter eminentemente institucional e dialogar permanentemente com a comunidade a fim de mostrar que o ambiente de informação não está restrito a um espaço físico, mas que pode prover os usuários da informação em qualquer tempo e espaço; lidar com a newsletter. Neste caso é uma alternativa fazer um breve estudo de usuários perguntando sobre quais tipos de assuntos mais despertam interesse aos usuários e muni-los informacionalmente via e-mail, site/blog ou redes sociais; criação de produtos para estimular o uso efetivo da informação pela comunidade de usuários (por exemplo, a elaboração de um aplicativo para o ambiente de informação visando produzir o diálogo sobre os eventos diversos que ocorrem na instituição (escola, faculdade, município, estado etc.); designar em seu próprio sistema de informação, site, blog ou rede social um espaço para sugestões dos usuários sobre quais informações mais possuem interesse a fim de que o ambiente possa se preparar para prover informacionalmente as solicitações indicadas; estabelecer criteriosa seleção do acervo do ambiente de informação e indicar aos usuários, conforme as demandas solicitadas facilitando o trânsito de informações no ambiente de informação – profissional da informação (mediador) – usuário;
  4. ação cultural em nível virtual – atividades voltadas para: construção de projetos culturais para captação de recursos (financeiros, humanos e infraestrutura) e desenvolvimento de práticas nos ambientes de informação; transmissão de informações via serviços e produtos sobre aspectos artísticos, memória e elementos da cultura em geral; estímulo a atividade artística como dança, teatro, pintura, desenho etc. por meio da criação de serviços e produtos de informação; realização de atividades voltadas para memória e patrimônio; práticas para alfabetização de crianças, jovens, adultos e idosos por meio das atividades culturais; eventos como palestras, cursos, minicursos, diálogos formais e informais, grupos de estudo etc. que valorizem o acervo dos ambientes de informação; elaboração de manuais/guias/cartilhas relativos à cultura da comunidade representada nos acervos;
  5. educação de usuários em nível virtual – cursos, oficinas, treinamentos, eventos (seminários, encontros, congressos, simpósios, colóquios etc.), prestação de serviços, fóruns/grupos de discussão voltados para: estrutura dos ambientes de informação – incentivo ao acesso/uso de acervos/fontes, serviços, produtos, recursos virtuais e das condições gerais oferecidas pelos ambientes de informação, bem como para assuntos diversos alusivos as questões culturais, educacionais, políticas, econômicas, jurídicas, científicas e tecnológicas, saúde, lazer e entretenimento, trabalho e emprego, turismo, questões agrárias, utilitárias em geral, entre outras.

Os elementos pedagógicos podem ser mais ou menos aplicados a depender dos tipos de ambientes de informação e dos públicos que os compõem. Por exemplo, os serviços de referência virtual são aplicados tradicionalmente nas bibliotecas, enquanto os demais serviços e atividades podem ser aplicados em quaisquer ambientes de informação como bibliotecas, arquivos e museus, considerando as particularidades de cada serviço e de cada tipo de ambiente de informação. Por exemplo, a educação de usuários em uma biblioteca escolar possui aplicações temáticas dissímeis de uma biblioteca universitária e, por sua vez, apresentam peculiaridades temáticas nos arquivos e museus.

  1. Elementos institucionais

É imanente a dois fenômenos de atuação dos ambientes de informação:

  1. gestão da informação virtual – gerenciamento geral: gestão do ambiente de informação no contexto macro e (multi)temporal, englobando: o planejamento das ações em termos de tempo (mensal, semestral e/ou anual); competências/habilidades que envolve a contratação e alocação dos funcionários (colaboradores) nas funções mais adequadas e profícuas; busca pela autonomia do ambiente de informação para o desenvolvimento das atividades; planejamento dos processos, fluxos e tecnologias de informação; planejamento do acervo, serviços e produtos; acervo: planejamento das políticas de acervo, envolvendo todos os processos possíveis, dinamização do acervo via serviços e produtos, gestão eletrônica de documentos, gerenciamento para uso das fontes de informação e gerenciamento para preservação do acervo; serviços: gerenciamento dos serviços de referência, gerenciamento dos serviços de informação utilitária, gerenciamento do serviço de disseminação seletiva da informação, gerenciamento para educação de usuários, gerenciamento das ações culturais, gerenciamento dos serviços ligados à comunicação do ambiente de informação (formais, informais e também os científico-tecnológicos); produtos: gerenciamento das criações dos ambientes de informação como manuais, guias, cartilhas, aplicativos, softwares, redes sociais, entre outros; pessoal: gerenciamento das relações interpessoais entre o profissional da informação e os colaboradores, do profissional da informação e colaboradores com a comunidade de usuários em seus diversos níveis, do profissional da informação e colaboradores com os gestores gerais da organização a qual o ambiente de informação está vinculado, entre os próprios colaboradores do ambiente de informação e do profissional da informação e colaboradores com a comunidade externa; e avaliação: serviços e produtos, desempenho do profissional da informação (tanto pela organização, quanto pela comunidade), desempenho dos colaboradores (pelo profissional da informação, organização e pela comunidade) e avaliação geral das práticas virtuais de gestão dos ambientes de informação;
  2. parcerias entre os ambientes de informação – em um momento de Pandemia nunca foi tão relevante o desenvolvimento de parcerias interinstitucionais entre ambientes de informação como bibliotecas, arquivos, museus, centros de cultura e meios de comunicação, visando o desenvolvimento de atividades que congreguem os elementos técnicos, pedagógicos e institucionais, no sentido de fortalecer as atividades dos ambientes de informação e amparar às comunidades de usuários.

Os elementos institucionais denotam a capacidade estratégica de articulação dos elementos técnicos e pedagógicos, assim como preconizam uma qualificação de atuação virtual dos ambientes de informação que envolvem acervos, serviços, produtos, pessoal, avaliação e o gerenciamento geral.

Portanto, os ambientes de informação estão eminentemente desafiados na pandemia (e pós-pandemia) à virtualização de suas atividades que devem congregar articuladamente as questões técnicas, pedagógicas e institucionais para uma atuação mais consistente e alvissareira de bibliotecas, arquivos, museus e afins, visando maior inserção nas atividades de interesse público e melhor articulação dentro das instituições públicas, privadas e alternativas.


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JONATHAS LUIZ CARVALHO SILVA

Doutor em Ciência da Informação pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Professor do Curso de Biblioteconomia da Universidade Federal do Cariri (UFCA).