LEITURAS E LEITORES


LIVRARIA: SEÇÃO PARA CRIANÇAS

O conceito de criança como o conhecemos hoje é recente, se o compararmos com a história da humanidade. Há pouco menos de 300 anos a criança começou a ser vista sob outra perspectiva.

Até o século XVIII, a criança era vista como miniatura do adulto. Roupa, tratamento, tudo lembrava o adulto. Não se reconhecia a infância, a criança participava da vida adulta, permanecia pouco tempo na escola, começava a trabalhar cedo e a participar de atividades que hoje são desaconselháveis a ela.

De lá para cá, mudou a sociedade, desenvolveu-se a ciência, a educação e, principalmente, o conceito de infância. Hoje, existem leis específicas (Estatuto da Criança e Adolescente, por exemplo) que asseguram o desenvolvimento da infância e, principalmente, que diferencia a criança do adulto. A incumbência do adulto é proteger e assegurar à criança o seu desenvolvimento na sociedade.

A mudança no conceito estabeleceu o consenso de que infância tem necessidades específicas para cada idade e que, portanto, os espaços e mobiliários devem ser compatíveis à estatura e à segurança dos pequenos. Banheiros, cadeiras em restaurantes, carrinhos em supermercados, bibliotecas infantis, entre outros, receberam adequação, embora alguns espaços ainda ignorem esses preceitos.

Muitos dos espaços destinados aos pequenos, parecem ignorar completamente o que seja uma criança, pois crêem que basta colorir as paredes, empilhar brinquedos, livros, desenhos nas paredes, que já se torna um ambiente adequado para a criança, como é o caso de algumas livrarias infantis.

Nem todas as cidades do Brasil possuem livrarias, mas as que possuem, quase sempre, destinam um espaço para a seção infantil. Quase sempre são muito bonitas, coloridas e só. Pode parecer rude, mas em muitos desses espaços a impressão que se tem é que a criança é a que menos importa.

Quando se pensa no espaço para a criança não se pode ignorar o conforto e a segurança que ele deve oferecer. Deve-se pensar desde o piso, evitar que seja escorregadio, até na estabilidade que o mobiliário oferece, pois a criança sobe, encosta seu peso, corre por entre as prateleiras. Se os móveis forem instáveis, podem causar danos à saúde.

Também é muito comum encontrarmos o mobiliário quase sempre mais adequado apenas a uma faixa etária. Não se projeta que haverá crianças maiores, menores, magras, gordas, etc. É claro que, por uma questão de adequação do ambiente, seja aceitável que predominem móveis para uma faixa etária, no entanto, por que não disponibilizar uma quantidade menor, como acontece nos cinemas, para crianças que possuem um padrão diverso da maioria?

Em relação à organização e disposição dos livros, há um padrão que pode ser, no mínimo questionável, pois nem sempre os livros estão dispostos de modo a orientar o pequeno leitor para a escolha do que deseja. Há uma mistura nos gêneros ali expostos (poesia, contos, jogos, RPG, entre outros) que mais confunde que auxilia o leitor que ainda não domina bem a procura de livros nas estantes.

As seções infantis em nada se parecem as destinadas aos demais clientes. Para os adultos há etiquetas que orientam o leitor em todas as seções. Qual leitor precisa mais de orientação: o adulto ou a criança? Com certeza os dois, mas o adulto possui mais autonomia e vivência para buscar o que deseja do que a criança.

Existe ainda uma frieza e inadequação comercial que não combina com o leitor infantil que passa por uma fase na qual o adulto é modelo. Que necessita de envolvimento emocional para se formar. Mas que nem sempre o funcionário responsável pela seção possui orientação ou formação adequada para tratar com as crianças.

Enfim, o que se espera é que as seções infantis das livrarias façam jus a essa denominação e que invistam na melhoria da qualidade dos espaços destinados à criança, não só na aparência, mas no acervo, nos funcionários responsáveis pela seção, para que a criança tenha suas expectativas supridas, que haja a continuidade no seu processo de formação leitora, de modo a suplantar categoricamente essa visão medieval da criança.


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ROVILSON JOSÉ DA SILVA

Doutor em Educação/ Mestre em Literatura e Ensino/ Professor do Departamento de Educação da UEL – PR / Vencedor do Prêmio VivaLeitura 2008, com o projeto Bibliotecas Escolares: Palavras Andantes.