CINEMA


O INTRÉPIDO HUGHES E O TALENTOSO CHARLES

De uma só vez o lançamento de três filmes que exibem a notabilidade de vidas que se imortalizaram na história da sociedade: O aviador, Ray e Em busca da terra do nunca. Se os filmes são fiéis ou não ao que viveram os biografados isso fica por conta da credulidade ou incredulidade do espectador. As biografias, uma vez registradas em papel, sempre trazem omissões ou acréscimos. E desde que projetadas a fidelidade fica comprometida. Dois deles (O aviador e Ray) são aqui comentados.

O INTRÉPIDO HUGHES

Martim Scorsese mostra as aventuras do milionário americano Howard Hughes, que ganha o seu primeiro milhão de dólares aos 18 anos, fruto de uma herança. Poderia (Hughes) ter ficado embalando-se em uma rede enquanto especularia em Wall Street. Mas assim não foi. De espírito empreendedor, preferiu a aventura de desafios mais tentadores como se dedicar à produção cinematográfica e à indústria da aviação. Os sucessos e insucessos perseguem-no por toda a vida, assim como a esquizofrenia, marca de uma quarentena na infância.

O aviador é Hollywood vista por Hollywood. É o cinema filmando um diretor de cinema, e nem por isso dourando-o, mas mostrando-o verdadeiro, com seus dramas pessoais, fossem emocionais ou financeiros. Mostra a sua glória da mesma forma que expõe os seus fracassos.

Duas seqüências são exponenciais para entendimento do que foi a vida de Hughes: a do processo no Senado e a do isolamento quando das crises psicóticas. A seqüência do julgamento de Hughes no Congresso americano insinua o procedimento Macarthista, a despeito de contribuição financeira feita ao Partido Comunista americano, ao tempo em que expõe a política interna americana ao ridículo ao ser desafiada e enfrentada por um empresário.

A seqüência do isolamento de Hughes em crise profunda de esquizofrenia mostra o estado deplorável que ele teve que enfrentar durante vários períodos. Howard Hughes isolou-se da vida pública a partir de 1970, vivendo recluso por 25 anos até morrer, desses viveu por quatro anos isolado em um hotel. Terminou por vender a TWA e adquirir uma pequena empresa aérea regional. Viveu como decidiu: como aventureiro e desbravador. Um intrépido empresário do cinema e da aviação. As seqüências aéreas de Hell's angels jamais foram superadas na história do cinema.
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O aviador, EUA, 2004. Direção de Martin Scorsese. Com Leonardo DiCaprio, Cate Blanchett, Kate Beckinsale, John C. Reilly, Alec Baldwin, Alan Alda, Ian Holm, Danny Huston, Jude Law, Willem Dafoe.



O TALENTOSO CHARLES


Ray Charles Robinson o Ray Charles, para não confundir com outro Ray Robinson, o boxeador Sugar Ray, teve uma vida dedicada à música, ou melhor, uma vida dominada pela música. É isso que Taylor Hackford mostra do músico Ray Charles. Um autodidata, que passou com naturalidade pelo jazz, blues, gospel e country. Tocou com os melhores músicos da sua época, cantou e tocou nos templos sagrados e consagrados aos grandes artistas e encantou gerações.

O filme contém uma forte carga dramática. A cegueira, quase uma punição pela morte de George, o único irmão, viria a ser uma dádiva para a apuração da audição; a emocionante personalidade de Aretha, a mãe; o vício que o aniquila enquanto homem de família; e a decisão pela música que o faz abandonar as drogas e enfrentar o martírio no enfrentamento da doença, compõem esse belo drama musical e revelam a vida conturbada desse músico completo.

O diretor não deixa que dois temas a serem tratados como politicamente corretos interfiram no filme. Assim, a deficiência visual é tratada como um componente humano em Ray Charles Robinson, sem deixá-lo como um aleijado como desejou a formidável Aretha. O racismo é abordado dentro dos limites do entretenimento musical, embora Ray Charles venha a sofrer conseqüências pela decisão de não mais aceitar a segregação durante seus espetáculos. Cego e negro e pobre tinha que ter talento, ser muito talentoso, para ser aclamado em uma sociedade capitalista e racista.
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Ray, EUA, 2004. Direção de Taylor Hackford. Jamie Foxx, Regina King, Clifton Powell, Kerry Washington, Harry J. Lennix, Bokeem Woodbine, Aunjanue Ellis, Sharon Warren, C. J. Sanders, Curtis Armstrong, Richard Schiff, Larenz Tate.


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JUSTINO ALVES LIMA

Bibliotecário aposentado pela Universidade Federal de Sergipe. Graduado e mestre em Biblioteconomia pela Universidade Federal da Paraíba. Doutor em Ciência da Informação pela Universidade de São Paulo