AÇÃO CULTURAL


SOBRE AÇÃO CULTURAL

Desde longa data, o que mais se ouve, em meio aos formandos dos cursos de Biblioteconomia, é a queixa de ser ele tecnicista, de que as disciplinas são muito técnicas e que os centros de informação mais enfatizados são aqueles em que as técnicas biblioteconômicas precisam ser aplicadas com mais rigor e mais detalhamento.

 

Com o diploma na mão, já no dia seguinte, o profissional inicia o processo indefectível de reprodução da prática, lidando tão somente (às vezes bem, às vezes mal) com a classificação, a catalogação e a indexação da informação. Ninguém parece parar para pensar que essas são partes necessárias e importantes do processo, como meio e não como fim, qual seja o de acrescentar informação/conhecimento ao usuário, através da mediação, para possibilitar a transferência, o uso e a assimilação dessa informação geradora de conhecimento.

 

Aparentemente, ninguém parece perceber também que, como meio, tais atividades preparam e criam condições para que a instituição informacional – seja com apenas um profissional ou com uma eventual equipe, possa buscar, recuperar e disseminar a informação desejada e necessária para que o processo todo atinja a finalidade almejada.

 

Todavia, a reação para acabar com o uso do freqüente e velho chavão (“é muito técnico!”) estaria agora só por conta de profissionais, ao buscarem novos rumos para sua atuação (individualmente ou em equipe), sem desprezar jamais os procedimentos tradicionais da área – claramente imprescindíveis para “pôr a casa em ordem”, porém implicando uma iniciativa inovadora dos cursos, abrindo as perspectivas pedagógicas para uma prática mais proativa, na intermediação do encontro entre o usuário e a informação, e vice-versa.

 

Com estas palavras, inicia-se aqui uma série de reflexões que abordam o tripé informação-discussão-criação de conhecimento, prática transformadora que vai de encontro ao chavão do tecnicismo nos centros de informação. Pretende-se abordar a Ação Cultural, que vai além da biblioteca pública ou da biblioteca escolar, como outros países já perceberam de forma esperta (no bom sentido).

 

A Ação Cultural difere da animação cultural, em que pese o uso mais ou menos indiferente de ambas as expressões na área da Biblioteconomia, principalmente. Entretanto, o conceito e a estrutura fazem a distinção, pois a Ação Cultural (AC) implica um projeto, a partir do público-alvo e de objetivos claramente definidos, girando em torno de imaginação, ação e reflexão, de conformidade com autores brasileiros a respeito.

 

Transpondo essas três esferas para uma situação mais pragmática, é possível ver que a seqüência aí expressa reflete, a partir de um problema detectado, a preocupação, as idéias e o pensamento criativo, como pontos de partida para o que se segue em direção à realidade, à solução concreta.

 

“Sonhei e imaginei”. Não é possível ficar só nisso, sob o risco do pensamento criativo ir-se diluindo e se perdendo, sem que nada aconteça além do sonho (ou do delírio). Assim, é preciso ter os pés no chão, analisar onde se está, tudo o que está à volta, aquilo de que se dispõe e traçar planos de ação, que se constituem em planejar, definir estratégias, encontrar recursos, estabelecer táticas para desenvolver a melhor ação em um ambiente informacional.

 

Após concretizá-la, ainda falta a avaliação do projeto elaborado e realizado. Com o sonho transformado em realidade, é preciso fazer uso do olhar crítico próprio sobre o projeto e sobre essa nova realidade, analisando consciente, interessada e imparcialmente tudo que ocorreu, entre erros e acertos, entre o que vale ser repetido e aquilo a ser evitado em próximas oportunidades semelhantes, sempre levando em conta o norte da meta visada e não o produto obtido.

 

Entretanto, para que se possam estabelecer critérios para avaliar a ação praticada, é preciso senso, bom-senso, conhecimento e discernimento para entender que certas circunstâncias chamaram a atenção para um problema de ordem sociocultural-informacional, em determinada comunidade usuária (ou em potencial) dos centros de informação e que, como qualquer problema, precisa-se de uma solução adequada e compatível, muito além do mero “oba-oba” ou do arsenal meramente técnico, mas contando com ele, sem sombra de dúvida.


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MARIA HELENA T. C. BARROS

Livre-docente em Disseminação da Informação (UNESP); Doutora em Ciências da Comunicação (USP); Mestre em Biblioteconomia (PUCCAMP); Especialista em Ação Cultural (USP); Formada em Biblioteconomia e Cultura Geral (Fac. Filosofia Sedes Sapientiae); Autora de livros e artigos científicos publicados no Brasil e no Exterior