PASSOS E ESPAÇOS DO ESTUDANTE


  • Espaço para discussões, debates e reflexões sobre o estudante universitário, em especial o da área de Ciência da Informação.

SOBRE A VIDA ESTUDANTIL, ONDE TUDO COMEÇA...

Quando recebi a proposta de escrever aqui, demorei um pouco para decidir sobre qual assunto abordar. Tamanha responsabilidade essa, confesso que senti um pouco de receio. Depois de muita discussão com o mantenedor, decidimos abrir um espaço sobre a vida estudantil. Mas por onde começaria? Bem, depois de muitas leituras, convivências e lembranças, decidi contar uma história que aconteceu comigo, antes de me tornar aluna de Biblioteconomia.

 

Depois de aprovada no vestibular, lá estava eu, curiosíssima para conhecer um pouco mais deste universo do qual iria fazer parte e, em pleno período de matrícula, acontecia em Londrina, o Encontro Regional de Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação, ou simplesmente, EREBD Sul 2006. O nome tão extenso, tal qual o da profissão, levou um tempo para ser decorado, mas, não é isso que vem ao caso, e sim, o relato de minha participação neste evento, bem como da sua importância como parte de formação acadêmica.

 

Neste encontro, pude trocar figurinhas e identificar em cada um dos participantes, através de relatos, fatos que marcaram a escolha pelo curso, bem como os preconceitos de outros colegas da universidade, as dificuldades da vida estudantil, entre outros percalços para conseguir o diploma de bacharel em Biblioteconomia. Assim como eu, muitos deles também responderam e ainda respondem às perguntas internas e externas, a respeito da escolha, da identidade do curso e da profissão; ouviram conselhos e críticas alheias – todas com o sincero objetivo de serem salvos, para que desistissem da idéia maluca de querer fazer este curso. Essas conversas nos intervalos, nas caminhadas pelo campus, nas refeições, valeram não apenas como troca de informação e conhecimento, mas também, pela identificação e relação com o outro, havendo a possibilidade de poder fazer dele um aliado para concretizar os ideais que se têm enquanto estudante que quer melhorar o seu espaço. Nessa relação, muita coisa pode ser extraída, como informações de estágios, possibilidades de empregos, participação em projetos, bolsas e auxílios, entre outros benefícios que podemos usufruir dentro deste espaço universitário.

 

Foi ali que obtive informações e indicações que contribuíram muito para meu ingresso no curso. Posso dizer que iniciei em alta, sabendo por onde ir, quem procurar e como encontrar. Não posso deixar de agradecer à aluna que, com um simples conselho, me levou a uma oportunidade única, que depois me proporcionaram outras e, num continuo, fui trilhando meu caminho. Sendo assim, agradeço a todos que me incentivaram e que de alguma forma, com esse apoio, contribuíram para meu crescimento enquanto discente e futura profissional da informação.

 

Mesmo antes de participar deste evento, tive praticamente um semestre de visitas à ambientes de informação; entre uma conversa e outra, recebi indicações do que ler, com quem falar, por onde ir... Foram delas que extraí boas trocas de contatos com estudantes e profissionais da área, indicações de textos, artigos científicos, tópicos, fóruns de discussão, tudo que o me informasse sobre Biblioteconomia, Ciência da Informação e assuntos afins.

 

Essa busca é extremamente necessária para o processo de formação acadêmica. E não apenas durante o período discente, mas por toda a vida profissional. É nesta fase que mais se aprende e não apenas lendo textos, mas também conversando, concordando ou discordando dos vários pontos de vista, relatando casos – sérios ou cômicos – que podem ser muito úteis numa discussão. Esse tipo de informação e aprendizado, não se dá apenas na sala de aula, sob a formalidade do sistema de ensino; mas também, nas conversas de corredor, nos intervalos, nos minutos de espera antes de iniciar uma aula, ou nas tão criticadas conversas paralelas na classe; bem como nos momentos de trabalhos realizados em grupo, quando este se reúne num horário extra classe. Até mesmo quando os estudantes vão para um barzinho, para festas, ou simplesmente quando fazem uma reuniãozinha particular em casa com os amigos; quantos estudantes não agradecem em seus TCCs, aos donos de bares e cantinas, entre outros locais em que “se joga conversa fora”, citando que foram neles, onde mais surgiu discussão e inspiração? Enfim, há outras formas de aprender, que não a mais utilizada em sala de aula, bem como de se manter informado, sendo até mais interessante que meramente se relacionar sozinho com um livro no pseudo-silêncio das bibliotecas. Sim, eu disse pseudo, pois, atualmente com as tecnologias, o silêncio absoluto não existe mais neste ambiente e, mesmo assim, quando se inicia alguma discussão neste local, logo é ela reprimida sob o pedido de silêncio. Desde então, para muitos, confirma-se a idéia de ser a biblioteca um lugar pouco agradável, e que é melhor discutir assuntos científicos ou populares, nos bares, nos restaurantes universitários, ou em outros lugares que podem ser considerados locais de convivência, já que a biblioteca da universidade não propicia a convivência, a discussão e a criação.

 

Naquele encontro, várias linguagens foram utilizadas para discutirmos tanto formal, quanto informalmente temas de nosso interesse. Sendo assim, não menosprezo nenhuma delas, pois todas foram boas fontes de informação. Saímos do espaço da sala de aula para nos expressar e pensar em conjunto, tendo a participação neste processo, não só de alunos de graduação, mas também de docentes e profissionais da área.

 

Essa forma de aprendizado é muito propícia em eventos, onde juntamente com a linguagem formal, está a informal, que considero uma poderosa linguagem, porque é livre e sendo assim, o indivíduo se relaciona com o conhecimento vivendo-o em plena interação com o outro, dialogando e o construindo nesta relação. Essa vivência pode ser bem mais proveitosa que ler vários textos sozinho, sem ter com quem discutir ou alguém para indagar ou esbravejar contra algo que não esteja de acordo. O evento é, talvez, uma chance de formar laços que podem durar por uma vida toda.

 

Bem, o EREBD vem ao texto para ilustrar uma situação onde coisas positivas foram extraídas por mim e, assim acredito, que os eventos podem contribuir nas relações estudantis e profissionais. Este encontro foi extremamente motivador e impulsionou outra ação, com objetivos de proporcionar a outros estudantes o mesmo benefício que tive. Mas esta é uma outra história que poderá ser contada em um outro momento.

 

Para não perder o fio da meada, este espaço surge para abranger uma classe que até então, não só tem pouca atenção, mas por vezes, nenhum destaque no meio biblioteconômico. Pois, além da profissão não ter o devido reconhecimento da sociedade, o estudante de biblioteconomia fica ainda mais a margem, por muitas vezes não ter voz no próprio meio do qual ele faz parte. Esse contingente de pessoas que compõe o universo acadêmico, razão de existir da docência e até mesmo do bibliotecário, os discentes a que aqui me refiro, merecem um espaço que discuta temas de interesse, que relate acontecimentos reais, ou que contenha casos fictícios, mas que sejam ilustrativos de sua vida em comum com os demais. Sendo assim, nesta identificação, você também poderá contribuir, enviando um caso seu ou de alguém que conheça. Tal relato poderá ajudar tanto aos estudantes quanto aos profissionais que, obviamente, já passaram por esse período, bem como aos docentes (neste caso, para que muitos possam, de fato, conhecer essa comunidade). Até agora pouca representada, a comunidade estudantil precisa refletir sobre si mesma. Será que sua identidade é bem definida? Será que ela é homogênea? Considerando as inúmeras diferenças, tanto no que se refere à situação econômica, quanto ao espaço geográfico, e ao contexto histórico e social, acredito que essa classe estudantil deva ser bem heterogênea, cabendo a ela este espaço em que se procura de uma forma possível, abrir um canal de comunicação e troca de idéias. Ele parte também do objetivo de ser um canal de troca de informações, que contribua para a formação acadêmica do futuro profissional da informação. E também, uma possibilidade de construir um ensino melhor de biblioteconomia no país. E por que não?

 

É, essa história continua...

 

 

Agradecimentos:

 

Ao Oswaldo Francisco de Almeida Júnior, mantenedor do site, pela oportunidade e apoio.

 

Ao meu amigo, Lucas Carlos de Oliveira Silva, aluno de Biblioteconomia da Unesp, que contribuiu com suas idéias para a construção deste texto.


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THAÍS R. FRANCISCON DE PAULA

Aluna de graduação em Biblioteconomia na Universidade Estadual de Londrina. Bolsista PIBIC/CNPq. Participante do grupo de pesquisa "Interfaces: informação e conhecimento".