AÇÃO CULTURAL


AÇÃO CULTURAL E INTEGRAÇÃO SOCIAL

Há poucos dias, fui convidada a falar sobre informação, inclusão e cidadania para os profissionais reunidos no 3º Encontro de Bibliotecários da Região de Itapetininga. Lá desenvolvi alguns tópicos ligados aos termos conceituais da questão, quais sejam: informação, informação como registro, setores da sociedade que carecem de inclusão, inclusão social, finalizando com o preâmbulo de nossa Carta Magna.

 

Os tópicos, desenvolvidos a partir de slides apresentados aos participantes, envolveram observações pessoais, que deram o tom da linha de desenvolvimento da palestra e, ao final, suscitaram a discussão e os argumentos do público presente. Tudo dentro do prazo de aproximadamente uma hora e tendo como fonte proposital apenas a wikipédia, às vezes mais à mão do que qualquer dicionário.

 

No transcurso da volta, dei-me conta de que a inclusão de que se falava, qualificada como a inclusão social pela informação, com vistas à cidadania, comportava ainda um outro desdobramento. E isto eu quero compartilhar com os leitores de Infohome.

 

Vejamos.

 

Se é uma prerrogativa nossa a captação e a organização da informação para disponibilizá-la e disseminá-la, estamos falando que essa informação é a informação registrada, isto é, aquela que se inscreve por meio de suportes adequados e compatíveis com textos, sons e imagens.

 

Todavia, nem sempre isso é suficiente pois, se de um lado, os estoques de informações registradas precisam estar organizados e disponíveis para que se dê o acesso a elas, por outro lado, é preciso que o usuário eventual dessas informações tenha condições plenas de acessá-las, seja por conta do entorno, de suas próprias condições físicas, do nível intelectual e de escolaridade, de faixa etária, de condições lingüísticas, distâncias geográficas, etc. Umas dependem de nossa intervenção, outras não. Entretanto, não foram mencionadas aqui as condições psicológicas decorrentes de uma situação desfavorável e incômoda de pobreza, de desvalimento cultural ou de timidez exacerbada, por exemplo, a impedir que o usuário potencial sinta-se à vontade para entrar, fazer uso e ter bom proveito em qualquer centro de informação.

 

A percepção do profissional, aliada ao estudo da comunidade, deve trazer à tona situações delicadas como as que foram mencionadas acima, em que “alguns setores da sociedade sofreram alguma forma e algum nível de exclusão, tornando-se vítimas de marginalização, alienação ou inacessibilidade aos bens comuns da sociedade”, para que providências sejam tomadas, começando pelas iniciativas locais, inerentes ao próprio trabalho bibliotecário. Caso contrário, estariam caracterizadas algumas situações de exclusão social, que somente seriam revertidas mediante atitudes e medidas inclusivas.

 

Tomar pela mão o usuário não é o melhor gesto. Aliás, podemos pensar que o excluído dos centros de informação é aquele que, por algum motivo, pode ser chamado de não-usuário, mas é sempre um usuário potencial. Nossa preocupação deve estar ligada aos motivos – as barreiras –, tanto do nosso lado quanto do lado do usuário (gosto mais de chamá-lo de cliente, pela clareza da informação que solicita e exigência em como espera recebê-la!). A composição do acervo está adequada a ele? O tratamento técnico adotado é o mais indicado? A disposição do espaço é confortável e facilitadora? O atendimento é ágil e competente? A equipe tem sido re-capacitada com freqüência? E, por aí vai... Quanto ao usuário, como andam a minha disponibilidade e a minha paciência, tanto quanto da equipe? Continuo atenta e observadora, baseando-me nos resultados dos estudos da comunidade usuária? Tenho procurado “pôr-me na pele” do meu próximo, para inferir o que ele sente e como vê aquele centro de informação? Assim, serei eu um intermediário/mediador da informação para o conhecimento que contribui para a exclusão ou para a inclusão social?

 

Como é isso? Tem tudo a ver com as facilidades e barreiras relativas a todo e qualquer acesso (ou o não acesso) à informação.

 

Ao não eliminar ou me omitir na eliminação de qualquer barreira à informação, estarei contribuindo para a manutenção de um quadro excludente no centro de informação ao qual pertenço. No caso inverso, estarei me colocando numa situação profissional inclusiva e cidadã.

 

Esta é uma coluna dedicada à Ação Cultural. Nestes tempos em que se discute e se escreve mais intensamente sobre a inclusão social como uma das possibilidades para tornar o mundo melhor na convivência e mais tolerante às diferenças, tanto a informação como os ambientes inclusivos são fundamentais. E a ação cultural pode ser um fator de inclusão, incorporando informação e ambiente informacional.

 

Portanto, como processo pedagógico-informacional, lúdico até certo ponto, a Ação Cultural que vimos expondo aqui há já alguns meses, mostra-se como um aparato favorável tanto à inclusão social, pelas suas características criativas e necessariamente atrativas, quanto pelo encaminhamento da informação disponibilizada para o público-alvo, visando o avanço no/do conhecimento e, conseqüentemente, à transformação cultural desse mesmo público-alvo; em alguma medida, oferecendo possibilidade de acesso tanto à informação quanto ao meio cultural aos desprovidos de ambos.

 

Se igualdade e justiça são “valores supremos de uma sociedade justa, fraterna, pluralista e sem preconceitos...” (Carta Magna da República Federativa do Brasil), que a nossa prática profissional nos centros de informação (bibliotecas, arquivos e museus) espelhe essa crença. Mais ainda, que sejamos norteados pelos três verbos encadeados de um projeto que fecha sua ação em torno de um processo complexo e inclusivo de informar-debater-criar conhecimento, abrindo oportunidades para tanto nos diversos tipos de centros informacionais.


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MARIA HELENA T. C. BARROS

Livre-docente em Disseminação da Informação (UNESP); Doutora em Ciências da Comunicação (USP); Mestre em Biblioteconomia (PUCCAMP); Especialista em Ação Cultural (USP); Formada em Biblioteconomia e Cultura Geral (Fac. Filosofia Sedes Sapientiae); Autora de livros e artigos científicos publicados no Brasil e no Exterior