CINEMA


Y TU MAMA TAMBIÉN

Indicado para concorrer a mais famosa estatueta de premiação do cinema do mundo E sua mãe também, confirma a boa fase do cinema mexicano. Vencedor de alguns prêmios europeus no ano de 2002, teve a oportunidade de levar um Oscar na categoria de roteiro original.

Um filme aparentemente despretensioso, que na verdade pode ser tido como um libelo lascivo. Y tu mama también é, de verdade, um filme que canta a liberdade sexual, que mostra o sexo na sua intimidade da liberação muito pouco exercida. A personagem central, Luiza, só assume toda a sua essência sexual (nunca revelava por aparência) por saber-se doente terminal; só após essa revelação, epílogo do filme, cabe ao espectador entender como uma mulher casada, tão recatada e que aceita passivamente todas as aventuras do marido, de repente, saí pelo mundo numa despretensiosa viagem, que se revela uma aventura de sexo e orgia. Evidente que tal postura não está declarada inicialmente, mas os loucos desejos escondidos nos íntimos recônditos da condição humana impulsionam-na para tal aventura.

E sua mãe também, é um filme mexicano que tem cara de brasileiro, com seu escracho, seu deboche, sua juventude sexualizada e livre dos preconceitos políticos da geração de 60/70. A personagem principal, uma espanhola, festeja o México como um país de verdade, onde as pessoas vivem no seu sentido mais literal, festejam, amam, curtem o presente. Uma manifestação sempre presente ao povo brasileiro, ou, pelo menos, a como se reportam lá fora ao povo brasileiro.

Cada filme tem sua história, lógico, e uma história. Alguns conseguem ser tão retilíneos que advinhamos o seu final; o que não é o caso de E sua mãe também, que guarda para o final cenas perturbadoras, como a do homossexualismo ou como a da declaração da doença incurável da personagem principal.

Esta última capital para justificar toda a trama do filme. Já a primeira dá o tom necessário para a finalização. A cena em que os dois amigos (os dois outros personagens principais), que instigados pelo sexo a três, levados pelo prazer que a parceira os proporcionam, envolvem-se fisicamente, é tão subjacente como o próprio filme, já que o espectador não a verá, ficará no seu desejo subconsciente. Como estaria embutido nos dos personagens, e não se concretizaria não fosse o envolvimento com uma única mulher. A cena revela a proximidade do desejo que aflora nos personagens, embora negado pela própria essência machista do macho depredador, o que os personagens assumem na sua total plenitude.

Imagine-se uma cena homossexual entre homens quando um deles manteve relações sexuais até com a mãe do outro? A declaração de uma relação sexual envolvendo uma das mães propõe uma nova situação para o desenrolar do filme; não fosse assim no consciente do roteirista o título do filme seria outro. No entanto, tal declaração não soa emblemática para os personagens, como a troca de casais, assumida pelos mesmos. A revelação perturbadora de que um transou com a mãe do outro, nada mais é do que uma catarse, um acerto de contas para dirimir cenas de ciúmes em relação a uma terceira pessoa, Luiza, que há bem pouco tempo nada significava para eles, apenas mais uma mulher.

O ponto nodal do filme reside justamente na não aceitação da partilha de uma mulher que significa a oportunidade de um afirmar-se perante o outro. Reflitamos: ambos transaram as namoradas um do outro, várias vezes; a mãe de um foi seduzida pelo outro; partilharam a mulher que varava estrada com eles em busca de uma aventura, até então inexistente; lógico que só faltava uma coisa: amarem-se, carnalmente. E é esta cena que é antológica neste Y tu mama también. O diretor soube como ninguém infernizar a vida sexual dos dois amigos que acima do bem e do mal, ou muito pouco incomodados com essa vertente cristã, se divertiam em rolar sexo com quem quer que fosse. A partir do homossexualismo praticado, cada um vai para seu lado, evitando que a vida cruze de novo os seus caminhos, ou melhor que os conduza à cama, nada condizente com o passado glorioso de provadores do sexo oposto.

E sua mãe também, do mexicano Alfonso Cuarón, concorreu ao Oscar 2003 de melhor roteiro original e perdeu para o badalado Fale com ela, de Pedro Almodóvar. O seu último prêmio foi o melhor filme de língua não-inglesa (uma espécie de melhor filme estrangeiro) da London Films Critics Awards. E sua mãe também é um filme para ser visto. E celebrado como mais um dos bons filmes do cinema mexicano.


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JUSTINO ALVES LIMA

Bibliotecário aposentado pela Universidade Federal de Sergipe. Graduado e mestre em Biblioteconomia pela Universidade Federal da Paraíba. Doutor em Ciência da Informação pela Universidade de São Paulo