O PERIGOSO JOGO DA PAIXÃO
Disseminou-se que os franceses têm uma habilidade inigualável em manejar suas liberdades afetivas. Talvez este conceito corrente tenha sido construído de forma equivocada a julgar pelas narrativas literárias e fílmicas. O filme “A bela Junie” é um exemplo desta contradição. Já na primeira seqüência, um diálogo travado entre um casal de namorados aproxima os mortais comuns dos incomuns franceses:
- Ester - Não retornarei à noite com você.
- Mathias - Não vou perguntar nada.
- Ester - Você precisa ser sempre tão perfeito?
Para Ester era preciso sim fazer perguntas, questioná-la quanto ao seu retorno, saber que havia interesse nos seus passos. O que o transcurso da narrativa vai mostrar é que a perfeição de Matthias não significava generosidade, e sim disfarce. Escondia uma relação com terceiros.
A bela Junie, França, 2008, mostra
Embora seja o filme francês suporte de disseminação para a estabelecida corrente da liberdade afetiva e sexual, que de tão livre confunde-se com libertinagem, não é isso que demonstra a película no seu conjunto. Ciúme, posse, ofensas são descritas de forma convencional, beirando o lugar comum. Assim em “A bela Junie” cabem desequilíbrios passionais figurados em chantagem, agressão física, fuga e suicídio, tendo como pano de fundo o amor, ou melhor, a paixão.
Um dos núcleos passionais mostra o drama de Matthias, que namorando Ester, é assediado por Henri e entrega-se ao mesmo. Admitida a sua opção sexual sente-se atraído e apaixona-se por Martin, todos são colegas de classe. Chantagem e agressão física mostram como os mortais são comuns independente do espaço cultural. O envolvimento Mathias/Henri/Martin termina na polícia, algo impensável para os padrões franceses.
O outro núcleo termina de forma mais trágica. Otto, o namorado da bela Junie, descobre o envolvimento da mesma com o seu professor de italiano. Nemours, até então objeto de paixão das alunas, apaixona-se por Junie. Preterido, licencia-se de suas aulas e passa a vagar atrás da aluna diuturnamente. A estudante com medo de ceder à paixão, e depois ser descartada como acontecia com todas as mulheres enamoradas do professor, prefere fugir, ir embora sem deixar pistas. Otto, preterido por Junie toma outra decisão: a morte. A bela Junie queria um homem para sempre e encontra em Otto, morto, este amor eterno.
Embora
Junie/Otto/Neumors, Matthias/Ester/Henri/Martin vivenciam o perigoso jogo da paixão, agravado pelo envolvimento de terceiros. Se é que se pode denominar paixão como um jogo. Mas se pode dizer que é algo perigoso que se estabelece entre o limite da euforia e da depressão. E que ao final (do jogo?) quase sempre existem perdedores de ambos os lados. Poucos são salvos.
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A bela Junie. França, 2008. Direção: Christophe Honoré. Roteiro: Gilles Taurand e Christophe Honoré, baseado