AÇÃO CULTURAL


A ABORDAGEM DE ÁREAS DO CONHECIMENTO NA AÇÃO CULTURAL

Escrevo este artigo na cidade de Taubaté-SP. Vim até aqui para fazer uma determinada pesquisa nos Arquivos da Cúria Diocesana, onde já estive antes e nos quais se é atendido mediante agendamento prévio.

 

Trata-se de história de família, cujo foco está na cidade portuária de Ubatuba-SP, no século XIX.

 

Como, neste caso específico, só trabalho a partir de fontes documentais originais ou cópias autenticadas, procurei verificar onde estariam as fontes que me interessavam.

 

Os registros anteriores à proclamação da República eram todos feitos na e pela Igreja Católica. Como Ubatuba não é sede de bispado, esses registros foram para a diocese mais próxima e lá depositados; no caso, Caraguatatuba-SP.

 

Por uma série de informações desencontradas, Caraguatatuba, num contato mais antigo, informou-me que os registros procurados por mim estariam em Paraibuna-SP; não estavam. Desta vez, fui informada de que estariam em Taubaté; também não estavam.

 

E aqui me encontro em um quarto de hotel, frustrada e aborrecida, esperando chegar o horário de transporte para minha casa, em São Paulo.

 

Que fazer? Leitura? Aqui as livrarias são poucas e distantes (estou no Centro e sem carro). Assim, fui à banca de revistas da praça central: comprei dois livros de literatura popular, uma revista que me dá conta das novas mazelas do Governo, e uma outra de palavras cruzadas.

 

Forcei minha vista e tentei uma alternativa. A recepcionista do Arquivo, quando perguntada sobre os pontos turísticos da cidade, mencionou umas sete ou oito igrejas e nada mais. Desanimei.

 

Escrevo tudo isto, em parte para desabafar minha frustração e, em parte, para ligar este texto com o objetivo da coluna sobre Ação Cultural, em Infohome.

 

Para quem não sabe, Taubaté está localizada no Vale do Paraíba, uma região entre o Rio de Janeiro e São Paulo, que já foi o domínio dos barões do café, com sua riqueza e luxo requintado, no século XIX, garantindo até mesmo a sobrevivência do Império e a manutenção da famosa Guarda Nacional, dos contingentes de militares e paramilitares na Guerra do Paraguai, etc., etc.

 

Hoje, os barões deram lugar aos capitães de indústria e às multi e transnacionais, que mudaram a fisionomia do Vale e transformaram as rodovias em verdadeiras avenidas, com caminhões e automóveis encostando os parachoques uns nos outros, nos dois sentidos da pista.

 

Além disso, é uma região que tem muita história, e riqueza cultural, folclórica e artesanal de primeira linha.

 

Soube, ontem, que uma universidade daqui recebeu documentos antigos e valiosos que estavam abandonados no porão de um solar, e assumiu o projeto de seu resgate e restauração. Soube, também, que essa universidade está fazendo um trabalho criterioso de expurgo de pragas bibliófagas e de recuperação física de outros documentos arquivísticos, tendo à frente uma historiadora e sua equipe, viabilizando esse resgate com verbas do Governo e de outros parceiros. É uma notícia bastante auspiciosa, que certamente trará novos elementos ou a confirmação de fatos históricos, culturais ou religiosos da região!

 

Monteiro Lobato, um dos nossos maiores escritores, é nascido na região, em local bem próximo à cidade de Taubaté. O Sítio do Pica-pau Amarelo existe – de verdade – e consta que tem um grupo de atores que representam os personagens de Lobato para receber visitantes; em geral, das escolas ou turistas.

 

Vejam os leitores que, mesmo sem falar no ITA e no CTA (Aeronáutica), que também ficam nesta região do Vale, falei da História, dos Arquivos e fontes documentais, Igreja Católica, século XIX e República, Transportes (a “Pássaro Marrom”, que serve à região, está fazendo uma promoção, com frases que divulguem o Vale do Paraíba, a serem premiadas!), Ciclo do Café e os barões, Império, Guarda Nacional e outros contingentes militares, Indústria, Folclore, Artesanato, Restauração (arquitetônica e documental), Monteiro Lobato, Literatura Infantil. São itens importantes como temáticas para Ação Cultural em centros de informação formais (bibliotecas, arquivos e museus) do Vale do Paraíba, alguns “às moscas” e inoperantes, os quais poderiam recuperar sua imagem e a memória local, para turistas e para os próprios moradores - como fazem intensamente os povos de outros países - por meio de projetos baseados no informar-discutir-criar conhecimento.

 

Todas as áreas do conhecimento, além dos atos e fatos que levam à construção de um patrimônio científico e cultural, possuem instituições formais de divulgação/disseminação da informação que fazem ou deveriam fazer o papel não menos nobre de popularização de conhecimento para um outro tipo de público, mais amplo que o usual. Fica como sugestão.

 

Nesse sentido, por que não destacar o papel dos médicos importantes oriundos do Vale? Por que não destacar o vulto de seus militares famosos, inclusive heróis e patronos de nossas armas? E os políticos e governantes? Por que não enfatizar o que os nobres do Império fizeram de notável, além de doar riquezas e plantar café, gerando desenvolvimento? Na polêmica atual sobre a compra de aviões de caça, por quê não abordar aspectos técnicos e tecnológicos dessa indústria e desse produto, bem como o ensino de excelência que o ITA e outros institutos da região oferecem?

 

Há tantas questões em aberto, que os usuários da informação poderiam tomar conhecimento delas para discuti-las e retomá-las; como quer Milanesi, plantar mais pontos de interrogação. É preciso criar amplas oportunidades de conhecimento, sem se fiar apenas na curiosidade pessoal e fortuita e na informação individual.

 

É preciso que os responsáveis pelas bibliotecas, arquivos e museus também pensem nisso.


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MARIA HELENA T. C. BARROS

Livre-docente em Disseminação da Informação (UNESP); Doutora em Ciências da Comunicação (USP); Mestre em Biblioteconomia (PUCCAMP); Especialista em Ação Cultural (USP); Formada em Biblioteconomia e Cultura Geral (Fac. Filosofia Sedes Sapientiae); Autora de livros e artigos científicos publicados no Brasil e no Exterior