AÇÃO CULTURAL


POLÍTICA PÚBLICA E POLÍTICA LOCAL EM CENTROS DE INFORMAÇÃO E CULTURA

Os centros de informação e cultura (arquivos, bibliotecas e museus) geralmente estão sujeitos às políticas públicas, sejam elas ligadas à cultura ou às áreas da ciência e da tecnologia. Navegam e flutuam ao sabor dos seus ventos.

 

Como podemos interpretar, pois, as políticas públicas?

 

Ao mesmo tempo em que política define-se como “um sistema de regras respeitantes à direção dos negócios públicos”, ela é o “conjunto dos objetivos que enformam determinado programa de ação governamental e condicionam a sua execução”, conforme nos ensina o Novo Dicionário da Língua Portuguesa, de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (Nova Fronteira, s.d.). Portanto, tem a ver com a inspiração ideológica que a moveu, os princípios que a estabeleceram e o processo que a faz executar.

 

Quanto a ser pública, o mesmo dicionário nos diz que é ou está voltada para o povo, à coletividade, enquanto próprio do direcionamento do governo.

 

De qualquer forma, pode-se entender que são normas e/ou diretrizes voltadas a um coletivo, em função de algum objetivo maior que se deseja atingir, em nível de plano macro, isto é, geral.

 

Entenda-se também que, independentemente deste ponto de reflexão, cada instituição - no caso, os centros de informação e cultura – tem de estar afinada com a política pública vigente para o setor, mas ela própria cria e define sua política interna, que a envolve em nível micro, ou seja  específico, local.

 

Como isto se dá?

 

A política interna corresponde às opções que interessam ao centro de informações e cultura, decorrente de discussões e reflexões, ou mesmo só de lideranças, podendo estar registrada ou explicitada em documentos ou não, perpassando a instituição de forma apenas tácita, mas presente e perceptível. Assim, ela pode aparecer de forma clara e consistente, de forma fluida e pouco explícita; todavia, explícita ou totalmente ausente, desenha o rumo das ações ou da inércia de percurso.

 

Nesta coluna de Infohome sobre Ação Cultural, vale a pena abordarmos esta questão. A pesada e freqüente dificuldade com verbas, recursos humanos e tecnológicos, além da valorização  que deveria atingir os centros de informação e cultura, pode ser contornada por meio de uma política interna que supra a falta de uma política pública satisfatória para o setor.

 

As leis de incentivo fiscal, mediante projetos bem feitos e bem enquadrados, podem facilitar e alterar o cenário dos centros de informação e cultura; vale ressaltar, entretanto, que depende da equipe que operacionaliza o centro ou de um elemento dessa equipe que faça sua opção (gerando, assim, uma política) para que o centro em que atua seja dinâmico e voltado para o exercício da ação cultural. Mas, também é preciso pensar que as pessoas se alternam como tomadores de iniciativas ou à frente de determinadas instituições e que, independentemente da opção preferida, essa atividade possa vir a perder força.

 

Porém, um público já habituado a um determinado centro com programação e oferta de serviços dinâmicos e interessantes, dificilmente irá aceitar qualquer retrocesso no que lhe for oferecido, sob pena de passar a usuário de outra(s) unidade(s) que atenda(m) os seus anseios.

 

Aos pouquinhos, por motivos diversos, pode-se perceber que a ação cultural vai se expandindo e sendo praticada mais amplamente. Os cursos de graduação da área ainda não são unânimes em oferecer disciplinas para capacitar os profissionais para planejá-la, implantá-la e coordená-la, pelo menos não de forma obrigatória. O que se percebe, até pelo retorno de leitores desta coluna, é que há interesse no assunto e uma demanda reprimida em todas as regiões do Brasil, bem além do eixo Rio-São Paulo. Com poucos cursos avulsos e pouco material de instrução, Infohome vai fazendo o seu papel de disseminar informação e conhecimento relativo a esse processo informacional- pedagógico, que agrega em seu formato conhecimento e cultura  por meio de elementos lúdicos e de um dinamismo que lhe é próprio.

 

É muito gratificante constatar que a Ação Cultural, em qualquer centro de informação e cultura, de qualquer área do conhecimento ou nível de público, faz a diferença, mantendo ou aumentando o patamar de avanço e de satisfação do usuário, ao facilitar tanto a apropriação quanto a assimilação da informação: aquela correspondente à sua necessidade, aquela insuspeitada que lhe acrescenta algum saber e/ou que supre sua curiosidade, até mesmo ocasionando o fenômeno da “serendipity”.

 

Nesse sentido, voltamos ao título deste texto. Se a política pública for omissa ou não ajudar suficientemente a equacionar os problemas relativos à informação, sempre poderemos implantar e praticar uma política local da instituição, em centros de informação e cultura (arquivos, bibliotecas e museus), suplantando uma educação fragilizada e uma cultura pouco cultivada e valorizada, cuidando para que nossos jovens, dentro ou fora da escola, possam usufruir – mas também produzir – conhecimento, a partir de uma prática criativa e bem fundamentada.


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MARIA HELENA T. C. BARROS

Livre-docente em Disseminação da Informação (UNESP); Doutora em Ciências da Comunicação (USP); Mestre em Biblioteconomia (PUCCAMP); Especialista em Ação Cultural (USP); Formada em Biblioteconomia e Cultura Geral (Fac. Filosofia Sedes Sapientiae); Autora de livros e artigos científicos publicados no Brasil e no Exterior