PASSOS E ESPAÇOS DO ESTUDANTE


  • Espaço para discussões, debates e reflexões sobre o estudante universitário, em especial o da área de Ciência da Informação.

RECÉM FORMADO: PERÍODO DE ENTRESAFRA, LIMBO OU PURGATÓRIO?

Olá queridos leitores!

 

Após um tempo sem aparecer, resolvi fazer alguns apontamentos já que não faço mais parte deste segmento. Ou faço? Bem, não sei mais...

 

Os leitores devem estar curiosos com o título, muitos já fazem algumas suposições e outros devem considerar essas palavras de mau gosto. Inicio aqui minha reflexão questionando com vocês, afinal, muitos aqui já não fazem mais parte deste universo, outros ainda estão nessa fase e outros estão no mesmo barco que eu. Ou estariam na mesma safra? Ou então seria entre uma safra e outra? Ou há aqui quem se considere estar no purgatório, ou pior, no limbo? Ironias a parte e um pouco de humor, vamos ao que interessa.

 

Após um período de estudos, com o objetivo de atingir o grau de bacharelado em determinada área de trabalho, o individuo finalmente conclui o curso e se torna então um profissional. Fácil assim? Evidente que não. Pois bem, entre o término das aulas até a colação de grau – cerimônia necessária e por vezes obrigatória em algumas instituições de ensino, que dá o grau de bacharel ou licenciado, habilitando, ou melhor, permitindo ao recém formado a atuação no mercado de trabalho -, o ex-estudante espera muitas vezes um período de um ou até dois meses para a tal cerimônia. Durante este período ele não pode tirar o registro de classe e por causa disso, muitas vezes perde vagas de emprego ou até concursos. Depois de colado grau, o recém saído do forno para o mercado, ainda passa um tempo procurando emprego, ou prestando concursos, ou inicia uma pós-graduação Lato Sensu, ou neste espaço de tempo resolve tentar uma pós Stricto Sensu, ou seja, um mestrado, sendo que em cada programa, há o seu tempo de seleção e espera. Até iniciar outra atividade seja ela qual for que não seja a graduação, o atual recém formado passa por um tempo sem trabalhar, sendo assim, não é tão rápida e fácil esta passagem, como muitos pensam.

 

Certo, como eu me enquadro na maioria destes casos, resolvi refletir um pouco sobre cada palavra e situação de espera, já que se tornou necessário definir um pouco a aplicação e uso de cada uma. Farei em ordem cronológica dos fatos.

 

Seguindo a linha de pensamento antropológica, a graduação tem dois rituais de passagens. O primeiro é quando o estudante ingressa na universidade, ou seja, trata-se dos Bixos, Bixetes, Calouros (as), ou para os mais sensíveis, os Ingressantes. Este ritual é marcado pela passagem do Ensino Médio para o Ensino Superior, se inicia no concurso vestibular e vai ao primeiro período da faculdade. O segundo ritual, é quando o aluno conclui o curso. O inicio desta fase se dá já no ultimo período do curso. Uso a palavra em destaque, para que pensem o sentido da palavra, de intervalo de tempo, de inicio e fim, pois é isso uma graduação ou pós, ou qualquer experiência, trata-se de um curso, seja no sentido temporal ou não.

 

No ultimo período, o aluno começa a se preparar para não dar de cara com o desemprego. Sendo assim, ele começa a pesquisar empregos na área, concursos, e pensando em garantir alguma vaga, o indivíduo até participa de algumas provas de concursos ou testes seletivos. Eis que aí sai o resultado e dependendo da data da convocação, o infeliz não pode assumir o cargo e perde o emprego. O problema: antes de entrar na próxima safra, tinha que ter concluído a outra. Ou então, o estudante quer tentar um mestrado e não pode porque ainda não concluiu o curso. Há alguns programas de pós que não aceitam atestado de conclusão futura ou o próprio aluno ainda não se sente preparado para tentar, devido a correria de entregar o TCC. Mais uma vez, problema na entressafra... Sendo assim, considero aqui, que o período de entressafra é aquele cujo estudante ainda não concluiu a graduação, pois ele não pode trabalhar na área e em alguns casos, não é aceito em alguns programas de pós-graduação. Este segundo caso hoje já está sendo modificado, pois muitos programas de pós-graduação, seja Lato Sensu ou Stricto Sensu, aceitam atestado de conclusão futura, absolvendo os recém formados a não se sentirem desamparados no “mundo dos profissionais”.

 

Após a conclusão do curso, vem o período de espera que já mencionei: a colação de grau. Sem a participação nesta cerimônia, o ex-estudante futuro profissional que ainda não conseguiu emprego, não pode tirar o registro de classe e aí ele tem que recorrer aos recursos que a sua instituição de ensino oferece. Paga por uma colação de grau antecipada especial, cujo preço equivale muitas vezes a um ou dois convites da sua festa de formatura. Acontece que as pessoas, na maioria dos casos, não sabem desta possibilidade e ficam na espera pela colação conjunta, que conforme já dito, leva de um a dois meses dependendo da instituição ou circunstâncias, como é o caso de greves ou fenômenos como a gripe H1N1, que interferem no calendário escolar... Pois bem, enquanto o ex-estudante e futuro profissional aguarda o recebimento de seu titulo de bacharel, ele passa pelo período do Limbo.

 

Este termo é muito utilizado por praticantes da religião católica que prega a existência do céu e do inferno, existindo entre estas passagens, a possibilidade do período de limbo e purgatório. O purgatório é o período em que uma alma passa por uma avaliação de sua vida terrestre, na qual há dois caminhos, o céu e o inferno. No caso do Limbo, diz a história bíblica antiga, que as crianças não batizadas quando morriam, suas almas iam para o Limbo, que não era nem céu e nem inferno. Há outras fontes que dizem que o Limbo era um período de tempo em que o falecido não se dava conta de sua morte, então sua alma ficava no limbo, à espera de ir para o purgatório. Há também quem compara o limbo com a passagem direta ao céu. Como este texto não se trata de uma revisão bibliográfica e nem seu caráter é religioso, faz-se aqui apenas uma analogia com o conhecimento popular, então o significado de limbo aqui utilizado é o segundo, na qual a alma falecida leva um tempo para se dar conta da sua passagem da “vida terrestre para a vida eterna”.

 

Certo, comparando ao recém formado, que é o foco desta discussão, o caso é muito parecido. Pois este conclui sua faculdade, geralmente com a entrega e defesa de seu TCC, além do fechamento de notas de outras disciplinas. Mas o fato mais marcante do final de ano e fechamento de faculdade é a defesa do TCC e em alguns casos, em algumas universidades, o estágio curricular obrigatório é realizado também no ultimo período ou ano da graduação. Quando esta etapa é concluída, pensa-se na maioria dos casos, que já era hora de entrar em férias. Um verdadeiro alivio! Entretanto, depois das festas de natal e ano novo, depois de alguma viagem de férias e passado o carnaval, surge aí a constatação de que realmente, o ano letivo iniciará e o indivíduo não vai mais ter aquela rotina de aula. Neste período de férias ocorre a festa de formatura e com o “diploma” nas mãos, o recém formado se vê muitas vezes sem ter por onde ir. E aí ele inicia uma nova fase.

 

O Purgatório é aquele período cujo indivíduo deixa de ser estudante para ser um profissional. Data-se logo após a colação de grau. Neste momento, se ele ainda não conseguiu um emprego ou entrar em algum programa de pós-graduação, é comum sentir saudades da faculdade, relembrar tudo o que viveu neste período de tempo, ou melhor, no curso. Cada indivíduo tem sua fase de transição de uma maneira. Há os que vão direto ao céu ou ao inferno e os que passam pelo purgatório.

 

A maioria dos recém formados, geralmente passa pelo purgatório. Leva-se mesmo um tempo para conseguir dar um rumo na vida. Alguns já trabalham em outras áreas e decidem não seguir carreira de formação, e há também os que mesmo trabalhando, preferem seguir em frente e prestam concursos, enviam currículos, tentam mestrado ou especialização, até atuar na área de formação. Há aqueles que durante a faculdade foram estagiários e após a conclusão se tornam desempregados. Há vários casos de recém formado, os que estagiaram, os que não estagiaram, os que se dedicaram a pesquisa e/ou outros projetos, enfim, a estes que me refiro, pois muitas vezes, saem da graduação sem emprego e passam pela fase de espera, ou seja, o purgatório.

 

É aquele momento em que até conseguir o esperado resultado, se questionam se fizeram a escolha certa de curso, ou se nele, fizeram as escolhas corretas, se dedicaram verdadeiramente, quando percebem que não foram aprovados em alguns programas de pós-graduação ou concurso. Como se não bastasse o julgamento que cada indivíduo faz de si mesmo e da sua formação, sempre há os terceiros que entram em cena. Os pais, preocupados com o filho, se será alguém bem sucedido e se seu investimento renderá frutos; aquele tio que pergunta as raras vezes que o vê, ou a avó que sempre que repetem a ela que você já se formou, volta a repetir a mesma pergunta: mas já está trabalhando? Ou então os vizinhos, com aquele sorriso estridente. Os ex-colegas, os amigos, os ex-professores, enfim, sempre tem alguém preocupado em saber sua condição empregatícia. E aí vem a parte que eles acham que lhes cabe, o julgamento. “Você tem que procurar direito, tem que tentar, não pode desistir. Concurso é assim mesmo, tem que estudar muito! Está vendo só, não se dedicou direito a faculdade, não conseguiu emprego ou passar no concurso”. Há também os conselhos a respeito de algumas propostas que o sujeito rejeita “Ah, não se pode escolher o salário meu filho, inicio de carreira é assim mesmo. Ãh, R$500,00? Ah, mas está bom menino, depois eles aumentam!”. São vários os conselhos ou opiniões, mas o fato, é que nesta etapa muitos refletem ou julgam. São vários os fatores, as vagas, os salários, os locais de emprego, a função, entre outros aspectos que levamos em conta ao aceitar um emprego ou sermos recusados por eles.

 

Passado este período finalmente surge uma oportunidade. O recém formado mal vê a hora de ser um profissional da área. Ele mal vê a hora de mudar do plano teórico para o prático. É chegada a hora de partir da fila de espera para finalmente seguir a vida eterna profissional. O indivíduo finalmente passa em um concurso e depois de meses esperando, ele é convocado. Ou então ele é o selecionado e aí ele consegue o emprego. Ou então, o sujeito passa em um programa de pós-graduação Stricto Sensu e ingressa no mestrado. Enfim, “saí deste inferno!” pensa o infeliz. E aí começa sua jornada, dura e solitária de ser um profissional.

 

Pode ser que esta empreitada seja muito feliz e eterna, conforme a pregação do céu e inferno. Mas pode ser que ela tenha ainda que passar do céu para o inferno, alternando pelos períodos de purgatório. Cada (des) emprego e/ou a experiência em um mestrado ou doutorado, - para aqueles que seguem o caminho da pesquisa sem interrupção -, pode ser tanto céu como o inferno. Não há como saber, isso vai do julgamento e vivência de cada um.

 

Se seguir uma linha de pensamento mais espiritista, pode-se retornar de uma vida para outra. De repente, ao ver e julgar que a escolha pelo curso não foi a melhor, havendo possibilidades de iniciar outra formação, o sujeito pode reencarnar em outra vida estudantil.

 

Bom, se o emprego ou pós-graduação vai ser o céu ou o inferno; se o recém profissional da informação vai sair de uma vida pra outra, reencarnando em outra vida estudantil; ou seja lá o que for acontecer com o sujeito recém saído da graduação, devemos convir que este papo deveria ficar para uma outra hora, outro texto talvez.

 

Apesar de este texto ser lançado em um momento festivo e religioso, ou seja, - um momento pascal -, deixo claro que não quis fazer aqui uma apologia contra religião alguma. Tratou-se apenas de uma analogia do conhecimento popular, sem querer ofender ou distorcer o que crêem os praticantes da religião católica e da espírita. Também ressalto a importância de entender este texto, do ponto de vista antropológico, no que se  refere à “morte” estudantil, como algo meramente simbólico.

 

Encerro aqui, desejando boa sorte, ou para quem assim preferir, um bom julgamento e encaminhamento da alma profissional. Seja na pesquisa ou na atuação profissional cuja formação recebeu para atuar. Seja logo ou que demore um tempo, mas que um dia, seja o melhor que cada um pode ter e fazer.

 

Feliz páscoa e vida eterna aos profissionais da informação!


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THAÍS R. FRANCISCON DE PAULA

Aluna de graduação em Biblioteconomia na Universidade Estadual de Londrina. Bolsista PIBIC/CNPq. Participante do grupo de pesquisa "Interfaces: informação e conhecimento".