AÇÃO CULTURAL


A RELEVÂNCIA DOS TEMAS EM AÇÃO CULTURAL

A ação cultural, em nosso meio, ainda está muito associada à biblioteca pública e à biblioteca escolar. Assim, podemos encontrá-la com estreitas ligações com leitura, literatura e – como extensão – com a contação de histórias.

 

Entretanto, vimos falando em Infohome que a ação cultural, por ser um processo informacional-pedagógico, dotado de metodologia e instrumental próprios (claramente expostos principalmente por Teixeira Coelho e Luis Milanesi), presta-se à aplicação em qualquer tipo de centro informacional e cultural, sob qualquer temática.

 

Nesse sentido, nos propusemos a abordar hoje a questão dos temas além da leitura, da literatura e da contação de histórias, obviamente importantes e a serem levados em consideração num país com tantos analfabetos e que, lamentavelmente, ainda é atingida de forma brutal pela diferença de classes e pela injustiça que deixa à margem do circuito da educação, do conhecimento e da cultura, tantos cidadãos brasileiros, eternamente nas

“periferias” desses circuitos.

 

Assim, deixemos de lado as utopias e vamos à luta fazendo uso daquilo que a ação cultural pode nos proporcionar, como profissionais da informação que somos: bibliotecários, arquivistas  e  museólogos, disseminando informações, isto é, indo atrás de quem pode se beneficiar delas, mesmo que as desconheçam e sejam alheios a elas.

 

Como desdobramento dessa idéia, timidamente propus, em artigo anterior, que as unidades ou centros de informação e cultura (ou como os queiram denominar) tivessem abordado questões ligadas às últimas eleições, aos postos eletivos, aos processos, partidos e candidatos, etc., esclarecendo-as para o grande público que os frequenta (em geral, pouco esclarecidos quanto a essas questões), no intuito de que seu voto fosse mais consciente e, pelo menos, um pouco mais crítico (entenda-se menos “de cabresto”).

 

Por que levanto essa questão? Por observar que, além dos poucos temas e práticas acima referidos, quase não se apresentam temáticas de outra abrangência ou profundidade, vinculadas à ação cultural.

 

No meu entender, não há riscos para os profissionais que atuam, pois a eles cabe serem os coordenadores de projetos, que envolvem planejamento, ação e avaliação, após o estudo criterioso e metodológico de público-alvo, sem o que se pode considerar imprópria e inadequada qualquer iniciativa nesse sentido. Nessa questão, vale a pena lembrar que a formação do profissional – e mesmo o bom senso – desaconselha que seja ele o “ator” indefectível da ação cultural, a menos que um grande talento o aponte como tal.

 

Retomando a ideia, é preciso entender que, nos dias atuais, estamos cercados por questões candentes e que merecem ser discutidas por todos, incluídos aí os mais desprovidos – involuntariamente – de informação e de conhecimento, e que muitas vezes são as maiores vítimas dessa desinformação e desse desconhecimento.

 

Considerando que as boas ideias devem ser imitadas ou aproveitadas, sugiro que olhemos para as manchetes jornalísticas, a programação da TV ou o conteúdo da Internet, para que nos inspiremos  quanto à nossa própria programação cultural; não que ela necessariamente deva abordar apenas as tragédias que acometem o mundo atual ou a nossa região, mas podemos intercalá-la com outros temas estimulantes e animadores, para contrabalançar. Assim, também podemos dar nossa contribuição discutindo questões relativas à saúde, à religiosidade, à preservação ambiental, ao aborto, à previdência social, aos direitos humanos, às profissões e ao emprego, aos valores morais e éticos, à higiene básica, à infra-estrutura, à educação, aos esportes, etc. sob o ângulo semilar e, ao mesmo tempo diferenciado, da Biblioteconomia, da Arquivologia e da Museologia, as “3 Marias” que se completam.

 

Quando afirmo que inexistem maiores riscos para o profissional da informação nesse processo, estou querendo dizer que, como coordenador de projetos, ele deverá integrar especialistas à equipe temporária de atividades, que desempenharão o papel – eles, sim – de agentes/atores culturais, pelo domínio que detêm sobre determinado tema, diferentemente dos profissionais da nossa área específica.

 

Os centros de informação e cultura deverão estar sempre em processo de diálogo com seu público, a comunidade e a escola, nas proximidades todos, interagindo com eles e procurando captar sua necessidades informacionais, oferecendo-lhes ainda sugestões temáticas, despertando-lhes as interrogações de que fala Milanesi e menos pontos finais. Tudo isso, na tentativa de possibilitar-lhes mais e novas indagações, curiosidades, sonhos, ampliando-lhes um horizonte talvez limitado e certamente limitante.

 

Neste período de transição de governo, em que seus vários níveis e escalões serão alterados, podemos considerar que o discurso em pauta é variado, mas ainda pouco convincente, já que não existem ações concretas para serem postas e tomadas como parâmetros, além de que ora as palavras devem ser entendidas como assim, ora como assado.

 

 Porém, uma coisa já está muito clara para aqueles que atuam na área informacional: se a educação é prioridade, a informação não pode ser alijada do cenário, menos ainda a disseminação da informação, sem restrição à temática, seja ela discutida no âmbito de um leque polêmico ou pouco atual e aparentemente conflitante. Talvez seja esse um procedimento que esteja faltando às nossas unidades informacionais e aos nossos profissionais. O casulo é confortável, mas a crisálida precisa virar borboleta!


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MARIA HELENA T. C. BARROS

Livre-docente em Disseminação da Informação (UNESP); Doutora em Ciências da Comunicação (USP); Mestre em Biblioteconomia (PUCCAMP); Especialista em Ação Cultural (USP); Formada em Biblioteconomia e Cultura Geral (Fac. Filosofia Sedes Sapientiae); Autora de livros e artigos científicos publicados no Brasil e no Exterior