AÇÃO CULTURAL


DE OLHO NA HISTÓRIA

Gosto de escrever sobre a biblioteca pública, porque ela é mais abrangente e recebe todos os tipos de público, com as mais diversas finalidades e múltiplos objetivos.

 

Felipe de Menezes Tello, aqui mesmo em Infohome, aborda com muita clareza os paradigmas que a envolvem. Vale a pena ler sua coluna mensal: apesar de atuar na realidade mexicana, sua reflexões cabem “como uma luva” em nosso contexto.

 

É só acompanhar, com um pouco mais de interesse histórico, e ver que, desde os tempos da Antiguidade, quando surgiram as primeiras bibliotecas que poderiam ser consideradas públicas, podemos perceber que ocorreram mudanças de paradigmas e de encaminhamento, um pouco mais lentos, um pouco mais acelerados, um pouco mais radicais, um pouco mais leves, ao sabor do momento e das circunstâncias.

 

Todavia, o direcionamento, via de regra, tem sido o de encurtar distâncias no encontro entre o usuário (nem sempre foi considerado como tal) e a informação demandada, necessária ou útil. De certa forma, a biblioteca passou e vem passando por um processo de “humanização”, ainda que lento, virando-se menos para a ênfase no acervo e mais para quem usufrui dele.

 

Nesta época de ebulição tecnológica, pode-se perceber mais claramente o quanto se encurtou a distância para o encontro entre o usuário e a informação, confirmando-se o que Ranganathan já havia previsto, muitas décadas atrás.

 

Entretanto, mudança de mentalidade é mais empedernida e, sob o meu ponto de vista – certo ou errado -, não é ela que vai à frente, mas é levada pelas mudanças que ocorrem no meio social e acontecem em momentos de desconforto e saturação do modelo, ou seja, de paradigma.

 

Portanto, posso considerar que a biblioteca pública foi atingida e teve que se adaptar forçosamente às tecnologias que a “atropelaram”, deixando os bibliotecários e outros profissionais da equipe perplexos e atordoados, levados pela nova onda. Mas, a poeira acaba assentando e, assim, como os processos técnicos são imperiosos para a boa organização de qualquer acervo e das informações que ele abrange ou conecta, tais procedimentos continuaram e continuam a ser exercidos com prioridade, como sempre foram.

 

Porém, a modernidade na biblioteca despontou com algumas novidades e, aqui e ali, já se ouve falar, há algum tempo, em cultura, em animação cultural, e expressões afins, mostrando que os tempos se anunciam como sendo outros e que a história continua a se fazer. Como entrave, há o percalço da aceitação não generalizada por parte da mentalidade biblioteconômica e da lentidão burocrática dos cursos de graduação em se alinhar com as novidades prenunciadas. Mesmo assim, vemos que as barreiras estão caindo, pouco a pouco, o panorama mostra as mudanças e a história se faz a partir do cotidiano de alguns.

 

Nos currículos, já podemos ver a introdução de disciplinas optativas sobre a nova temática. Contudo, é externamente que os fatos mostram melhor essa nova preocupação ou indícios de uma nova ênfase: seminários e outras reuniões científicas se sucedem – no Brasil e no mundo – propiciando discussões significativas e a troca de experiências, que estimulam as ideias e a criatividade do público profissional presente. Quando voltam para sua sede institucional, não permanecem exatamente os mesmos e sua atuação será certamente diferenciada, no sentido a que nos referimos. Além disso, é possível que ocorra uma “contaminação” entre colegas, já que a vaidade atinge todo ser humano, em alguma medida, e ninguém gosta de ser suplantado ou “deixado para trás”. Liderar e ser considerado pioneiro, de vanguarda, é importante para o ego profissional.

 

A Biblioteconomia brasileira passa por uma fase decisiva, em evidência mas preocupante, desta vez impulsionada por leis até certo ponto problemáticas, que esbarram na questão  quantitativa. Temos, no território nacional, vários programas de pós-graduação de excelência, que preparam especialistas, mestres e doutores para a área, ou seja, a massa crítica que traça os rumos para as políticas públicas relativas ao setor, ou a crítica a essas políticas, procurando fazê-las voltar ao trilho mais correto ou conveniente. Contudo, não podemos esquecer que guarnecer as pontas, isto é, as unidades, requer um contingente muito grande de pessoal bem preparado, que saiba lidar bem com informação e conhecimento para a comunidade usuária, na própria construção ou renovação do conhecimento. O Brasil passa por uma fase favorável de desenvolvimento cultural-sócio-econômico. Lamentavelmente, mesmo a educação específica parece não acompanhar esse avanço. Na nossa prestação de serviço informacional, é importante tomar consciência do nosso papel ativo, regido tanto pela Constituição de 1988 quanto pelos princípios estabelecidos no Manifesto Ifla/Unesco de 1994 e em suas várias revisões posteriores, que deixam bem definidos o que nos cabe fazer e como atuar.

 

A História, no que nos diz respeito, mudou ao longo dos séculos, e muito mais em dias recentes. Porém, o nosso compromisso de nos informar, para melhor saber informar, continua firme e forte, na situação privilegiada em que nos encontramos, em meio ao universo da informação, da herança cultural e do conhecimento registrado, que felizmente sabemos organizar, administrar, acessar e, mais recentemente, fazer compartilhar com aqueles presentes ou ausentes que chamamos de usuários.


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MARIA HELENA T. C. BARROS

Livre-docente em Disseminação da Informação (UNESP); Doutora em Ciências da Comunicação (USP); Mestre em Biblioteconomia (PUCCAMP); Especialista em Ação Cultural (USP); Formada em Biblioteconomia e Cultura Geral (Fac. Filosofia Sedes Sapientiae); Autora de livros e artigos científicos publicados no Brasil e no Exterior