GESTÃO EMPRESARIAL NA ERA DA INFORMAÇÃO


O USO DA GESTÃO DA INFORMAÇÃO NO DESENVOLVIMENTO DE MODELOS DE RESPONSABILIDADE SOCIAL NAS EMPRESAS

O desenvolvimento dos conceitos sobre Responsabilidade Social, embora tenha tido franco crescimento nas últimas duas décadas, teve início em um período de bastante destaque no que se refere ao estabelecimento de modelos de gestão empresarial. No início do século XX o meio empresarial, ainda impulsionado pela Revolução Industrial, vivia um momento de intenso processo de desenvolvimento. Foi um período de grandes passos para a construção de modelos de gestão, alguns deles seguidos até os dias atuais. Ocorre que, a busca intensa pelo progresso, levou muitas empresas a conduzirem seus processos de modo que os lucros dos acionistas fossem o único foco, em detrimento das necessidades de demais partes relacionadas.

 

Ainda nesse período, um importante fato ocorrido no meio empresarial chamou a atenção para um tema até então pouco conhecido, qual seja, o viés social das empresas. O famoso caso Ford versus Dodge teve grande repercussão em função do clima de disputa que levou dois grupos de sócios aos tribunais americanos. De um lado, Henry Ford, acionista majoritário do Grupo Ford e do outro, a família Dodge, detentora de uma parcela das ações da empresa. O conflito ocorreu pelo fato de que Ford, após apurar os resultados de determinado exercício, decidiu que iria reter os lucros, ou seja, não os distribuiria entre os sócios. O objetivo, segundo Ford, era o de utilizar tais recursos na própria empresa. Tratar-se-ia de uma manobra empresarial muito corriqueira, não fosse pelo fato de Ford informar que tais investimentos seriam direcionados para ações de responsabilidade social. Ford, conhecido por ser um empresário visionário, acreditava que promover o bem estar dos colaboradores faria com que o ambiente de trabalho fosse mais produtivo, além do fato de que um colaborador bem remunerado amplia sua capacidade de compra, fazendo com que a economia se movimente de forma mais eficiente.

 

Essa disputa teve como resultado o sucesso dos interesses dos acionistas da família Dodge, já que o tribunal deu ganho de causa aos mesmos. Contudo, algo havia mudado no meio empresarial, já que os olhares voltaram-se para o viés social de forma mais atenta e isso, certamente, promoveu importantes discussões que levaram a avanços nesse contexto.

 

Mais de 90 anos após esse episódio, o meio empresarial ainda encontra severas dificuldades no que diz respeito ao investimento em questões sociais. Muitas empresas tratam o tema de forma equivocada, em certos casos, lidando com o assunto como se tratasse de filantropia ou assistencialismo esporádico, sendo que ainda existem empresas que simplesmente ignoram o tema.

 

Considero extremamente importante destacar que Responsabilidade Social não se trata de filantropia, mas sim de uma parte importantíssima dos fazeres de uma empresa. Afirmo isso pois toda empresa faz parte de um contexto social, não estando portanto, isolada e à margem das questões que envolvem o todo. Por fazer parte desse contexto sob as formas física, intelectual e econômica, as empresas são causadoras de impactos na sociedade da qual fazem parte, sendo que esses impactos existem sob as formas positivas e negativas. Como impactos positivos destaco a geração de empregos, o desenvolvimento local, a formação profissional, a geração de renda, entre outros. Entretanto, há também que se destacar os impactos negativos, entre os quais, os impactos ambientais, a precarização do trabalho, as mudanças de valores e cultura, entre outros.

 

Esses impactos negativos podem também ser chamados de externalidades negativas, e constituem-se de situações ou ações que causam qualquer tipo de ônus para demais públicos, e que foram causadas pelas empresas de alguma forma. Ocorre que grandes empresas possuem maior capacidade financeira para investir em questões sociais e muitas delas já o fazem, seja para compensar as externalidades ou como ação voluntaria. Empresas de porte médio e pequeno, que também são promotoras de impactos positivos e negativos, geralmente não conseguem avançar de forma substancial nesse campo socialmente responsável. Muitas empresas, aliás, não sabem sequer por onde começar.

 

Destaco que uma das melhores formas de se estruturar um plano de Responsabilidade Social bem sucedido é através da gestão da informação. Isso porque a gestão da informação é capaz de possibilitar a identificação de pontos que são extremamente importantes no estabelecimento de um projeto dessa dimensão. Afirmo isso por entender que a gestão da informação é um mecanismo mediante o qual é possível identificar, coletar, analisar, armazenar e, posteriormente, utilizar de forma estratégica a informação relevante.

 

Inicialmente, considero de extrema importância que a empresa seja capaz de identificar seus públicos de interesse, nesse caso, seus stakeholders, termo utilizado para designar as partes interessadas nos negócios das empresas, entre os quais, destaco os colaboradores, sociedade de entorno, grupos de acionistas, clientes, fornecedores, comunidade acadêmica cientifica. Posteriormente, a empresa deverá prospectar informações precisas e tempestivas sobre esses grupos de interesse, de maneira mais específica, identificar as informações sobre as necessidades desses grupos e qual a relação que essas necessidades podem ter com a empresa.

 

Após a coleta dessas informações, a empresa deverá fazer uma análise minuciosa, considerando dois pontos importantes. O primeiro ponto diz respeito ao viés social e o impacto em termos de valor agregado para empresa e em termos de valor construído para esses grupos. O segundo ponto diz respeito a análise econômica da empresa, considerando os recursos disponíveis para se investir no campo social. O segundo ponto - no caso da ideia partir de uma área tática da empresa - pode incluir também o processo de convencimento de diretorias, conselhos de administração e até mesmo a presidência.

 

Após a análise dessas informações, a empresa deverá apontar qual grupo de interesse ela irá priorizar. Se será seus colaboradores, por exemplo, com a implantação de creche para os filhos; financiamento para formação acadêmica; revisão de política de cargos e benefícios adicionais aos exigidos legalmente; política de preparação para aposentadoria; entre outros. A empresa também pode optar por investir em um projeto de responsabilidade social visando a comunidade de entorno, por exemplo, com o investimento em educação e formação e capacitação; investimento em projetos que visam extinguir o uso de trabalho infantil ou escravo; entre outros.

 

Após identificar o seu público alvo para o desenvolvimento do plano de Responsabilidade Social, a empresa retoma a fase inicial do processo de gestão da informação, realizando o processo de coleta de informações detalhadas sobre esse público escolhido, passando pela análise de informações baseadas nas necessidades dos mesmos e, posteriormente, o cruzamento com as informações financeiras da empresa, seguindo para a fase de elaboração do projeto. Nessa fase, a empresa pode recorrer também a parceiros estratégicos, como fornecedores ou empresas para as quais fornece seus produtos ou serviços, e que tenham interesse em investir na área social.

 

Destaco que criar um plano de Responsabilidade Social exige mais do que o fator financeiro, pois requer empenho e a compreensão de que a empresa faz parte de um contexto social, sem o qual ela não faria sentido algum. Ou seja, a empresa existe em função da sociedade na qual ela foi estruturada. Além disso, é fundamental que a empresa saiba utilizar a gestão da informação nesse processo, para que seja capaz de identificar de forma precisa qual stakeholder deverá ser atendido e de que maneira ele deverá ser atendido.

 

Lembro, finalmente, que a empresa ao investir de forma continua na Responsabilidade Social, está consequentemente construindo uma base sólida de valores que certamente deverá coadunar-se com a sua visão, missão e valores. Como consequência, a empresa ganha visibilidade, satisfação dos seus clientes e respeito da sociedade da qual faz parte.

 

(Publicado no InfohomeTV - http://youtu.be/ke5ECNXH2wI)


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ELAINE CRISTINA LOPES

Doutora em Ciência da Informação (UNESP-Marília). Docente do Departamento de Administração da Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR).