BIBLIOCONTOS


ABC HOTEL

Todo bibliotecário que se dedica ao movimento associativo não pode reclamar de rotina. A atividade é cansativa, não tem o reconhecimento dos pares (da maioria o que se recebe é crítica maldosa), além de ser cheia de desafios. Porém, o lado bom é a experiência de lidar com tudo isto, e ao mesmo tempo manter a pulsação institucional da profissão. A profissão existe materializada pela coesão projetada pelas entidades que a representam.

 

O fato a destacar foi o ocorrido com a presidente de uma entidade profissional que, no programa de sua gestão, estimulou a interiorização de ação do órgão. Com este intento, um evento foi programado para o interior do estado. Uma pequena cidade do norte do estado foi a escolhida para a realização.

 

Tudo programado. Como os demais membros da entidade tinham compromissos na data, sobra para a própria presidente participar e representar a entidade. Para chegar à cidade do evento, só de ônibus. Cinco horas de viagem, por uma estrada estreita, com muitos buracos, curvas e sacolejos. Pretendia ir logo cedo para chegar com o dia claro. Afinal, em cidades pequenas do interior a população se recolhe com o pôr do sol, mas foi em vão.

 

A Presidente chegou à cidade por volta das 23 horas (não conseguira sair cedo como desejado), desce na rodoviária e busca por um táxi. Naquela hora da noite, um taxista proseava com os últimos sonâmbulos do bar.

 

Ao acomodar-se no veículo pede ao motorista seguir para o hotel ABC. O motorista surpreso, diz que não existia, na cidade, hotel com aquele nome.

 

A bibliotecária olha para sua agenda e olha o nome do hotel, e convicta responde ao motorista que o nome era aquele:  hotel ABC!

 

Rapidamente uma discussão se instala. O motorista diz que está há quarenta anos na praça e nunca ouviu falar de hotel ABC, e blá blá blá... A bibliotecária mantém firme convicção na informação. Ademais, só tinha este dado e o endereço do local do evento. Não tinha telefone de nenhum dos contatos na cidade. As horas passam, a madrugada avança e a discussão prossegue.

 

Enfim, pede ao motorista para perguntar se alguém conhece. O taxista a contragosto vai perguntando para cada uma das pessoas com as quais conversava no bar. Ninguém conhecia o tal do hotel ABC, na cidade.

 

Um bêbado que a tudo ouvia sem ser notado por ninguém, se levanta da soleira da porta do bar. Do alto da sua embriaguez, chega perto do carro e diz ao motorista.

 

- Inverte o nome, não seria o ABC hotel, sô!

 

A bibliotecária suspira! – Até que enfim alguém com serenidade. E indaga ao motorista:

 

- É o ABC Hotel?

 

-Bão! ABC Hotel tem, mas a senhora não falô, uai!

 

Ela pensou, pensou. Nesta hora da noite, melhor é não questionar a forma de entrada, mas havia uma necessidade urgente de desenvolver um programa de competência informacional para os taxistas da cidade. Quem sabe em uma próxima meta.

Autor: Fernando Modesto

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FERNANDO MODESTO

Bibliotecário e Mestre pela PUC-Campinas, Doutor em Comunicações pela ECA/USP e Professor do departamento de Biblioteconomia e Documentação da ECA/USP.