PONTO
"Por muitos e muitos anos, a pontuação foi uma questão desesperadamente irregular. Já no século I de nossa era o autor espanhol Quintiliano (que não era Henry James) sustentava que uma oração, além de expressar uma ideia completa, devia poder ser pronunciada de um só fôlego. Como a oração podia ser finalizada era questão de gosto pessoal, e durante muito tempo os escribas pontuaram seus textos com toda espécie de signos e símbolos, de um simples espaço em branco a uma variedade de pontos e riscos. No princípio do século V, são Jerônimo, tradutor da Bíblia, desenvolveu um sistema, conhecido como per cola et commata, no qual cada unidade de sentido era marcada com uma letra que sobressaía da margem, como se iniciasse um novo parágrafo. Três séculos mais tarde já se utilizava o punctus tanto para indicar uma pausa dentro da oração quanto para assinalar sua conclusão. Seguindo essas convenções confusas, os autores dificilmente podiam esperar que seu público lesse um texto com o sentido que eles tinham pretendido conferir-lhe.
"Até que, em 1566, Aldo Manuzio, o Jovem, neto do grande impressor veneziano a quem devemos a invenção do livro de bolso, definiu o ponto em seu manual de pontuação, o Interpungendi ratio. Ali, com seu claro e inequívoco latim, Manuzio descreveu pela primeira vez seu papel e seu aspecto definitivos. Ele pensou que estava preparando um manual para tipógrafos; não podia saber que oferecia a nós, futuros leitores, os dons do sentido e da música para toda a literatura posterior: Hemingway e seus staccatos, Beckett e seus recitativos, Proust e seu longo sustenido." (p. 68).