LEITURA - D. JOÃO V - PORTUGAL
"Assim, se é possível dizer que os livros constituíam uma espécie de ornamento do Paço, ao lado das pinturas e tapeçarias e de toda a ostentação que celebrizou o nome de d. João V, não se pode arriscar ficar exclusivamente nessa chave.
"D João era mesmo movido pela preocupação com o prestígio que advinha de seus atos públicos, assim como era permeável ao espírito de imitação relativo aos modelos que não faltavam em outras cortes européias. Contudo, seria redutor acreditar que o monarca se limitou a ver nos livros troféus ou jóias reluzentes para seu reinado. Mesmo descontados os excessos dos panegíricos e documentos oficiais, nota-se como, já pouco depois de ocupar o trono português, d. João revelava aplicação no estudo que fazia de escritos históricos e políticos. Por sinal, gostava das histórias dos reis seus antepassados, nas quais procurava encontrar exemplos de galhardia e honradez. Alguns cronistas locais arriscavam até afirmar que essa inclinação era tal que chegava a ser excessiva, ou assim se entendeu na época, quando em 1712 o jovem soberano sofria de 'flatos hipocondríacos' com acessos de melancolia e insônias, o que levou os médicos a proibi-lo de ler. Por certo a leitura não era a causa do mal estomacal que afligia o rei e também ele parece ter duvidado dessa hipótese, visto que dois anos depois o secretário de Estado anunciava ao conde de Tarouca a chegada de uns livros 'com os quais S. M. está mui gostoso e divertido'. Mas a imagem vingou. O cônsul francês Duverger comunicava à sua corte, em 1715, que d. João se dedicava tanto a tal atividade que chegava a ler durante nove horas, sendo de temer um prejuízo à sua saúde." (p.76).