LEITURA, SENSUALIDADE
Nossa leitura é sensual.
Dedos tocando a página,
folha, papel, pelo, pele.
Toca na página,
troca de página.
Som que remete ao prazer.
Os olhos percorrem
as letras, os espaços.
Olhos nos olhos do autor.
Silêncios e vazios.
E sons, internos, íntimos,
que acompanham
nossa relação,
nossa intimidade.
Somos íntimos do autor
somos íntimos da história.
Cheiro de papel, papila,
poros, porosidade do papel,
preparando para o final,
preliminares no prefácio,
um se atirar no meio,
em toda a história,
penetrar na história.
Pular e mergulhar
no profundo da história.
A capa repele e atrai.
Orelhas silenciosas,
mas que falam, dizem,
explicam, sussurram.
Lombada larga ou
estreita, retrato
da história,
nomeia o autor.
Locais: sofá, semi-deitado,
costas na parede,
buscando posições;
melhor na cama.
Ser egoísta para se
apropriar da narrativa,
entender o autor,
conhecer cada pedaço,
reescrever cada pedaço,
existir no autor,
ser o autor,
ser o momento,
se transformar,
em cada letra,
em cada palavra.
Sonho real, nas trilhas
do imaginário.
Devagar, lendo
a última página,
a última frase,
a última palavra,
a última sílaba.
Saliva.
Fechar o livro
e voltar a ser
diferente, outro.