CRÔNICAS E FICÇÃO


VIOLA, VIOLÃO, VIOLEIRO

Sou viola, violão, sou violeiro.

Meu coração é viola,

meu coração é violeiro.

Mais que viola, meu

coração é violeiro.

 

Não somos sertanejos, somos

caipiras. Universitários? Não.

Raízes. Somos raízes desta terra.

Vivemos nesta Terra. Violamos

esta terra. Violeiros desta terra.

 

As cordas da viola se confundem

com as minhas cordas vocais,

e gritam, tanto uma como outra,

por meu espaço, lugar, chão,

gritam por minhas lembranças,

berram por minhas raízes.

Nas cordas, exibimos nossas vidas.

Nas cordas, exigimos nossas vidas.

Nossas armas são nossas músicas,

nossos braços, dedos, nossa cultura.

 

Nossa voz só é quebrada

pela mordaça imposta

pela casa grande, pela elite

que tem medo de nossa voz,

que tem medo de nossa viola.

Porque nossas violas são fortes,

juntas, musicam a resistência,

colocam som nas nossas forças.

 

Cada verso relembra histórias,

histórias de nossa gente, nosso povo.

Somos muitas cordas, muitas violas.

Somos violeiros, bemóis e sustenidos,

sustentando em claves de sóis

um coração e uma alma alquebrados.

Alquebrados, sim, mas que saberão

se erguer para exigir a volta de nossas vidas.

 

O som da viola é o mesmo som da esperança.

É o som que ergue nossa cabeça e nossa alma.

Do som da viola sai o som de quem se faz,

do dedilhado, o som de quem sabe que deve agir.

Música e lágrima nos ensinam a não nos submetermos,

a não aceitar uma vida resignada, passiva, quieta.

As violas são muitas e, juntas, tocam alto, forte.

As violas, dos que sabem ou não tocar, cobrem o céu,

cobrem a terra, o espaço, dá força às raízes.

As cordas dos violeiros derrubam pelourinhos,

derrubam culturas impostas, alheias, estranhas

às terras que são nossas vidas, nossas histórias,

nossos destinos. Quem sabe faz a hora.

Tocamos de ouvido, não precisamos de partitura,

pois sabemos e conhecemos cada som de nossa gente,

de nosso povo. A música faz parte de nós,

ela é o que somos e nós a sabemos de cor.

A música é nossa gente e nós a defenderemos.

 

A vida é uma breve semi-fusa no pentagrama

da realidade, mas que deixa, no ar, notas,

sons em sis, lá nos confins da história.

Não há destino, mas acasos, estruturados

em melodias, harmonias, acordes e arranjos,

com nossas interferências.

 

Sou, somos, viola, violão.

Somos violeiros.

 

Autor: Oswaldo Francisco de Almeida Junior

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OSWALDO FRANCISCO DE ALMEIDA JÚNIOR

Professor associado do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Estadual de Londrina. Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UNESP/Marília. Doutor e Mestre em Ciência da Comunicação pela ECA/USP. Professor colaborador do Programa de Pós-Graduação da UFCA- Cariri - Mantenedor do Site.