HELOÁ OLIVEIRA-DELMASSA
Meu relacionamento com a leitura acompanhou também as mudanças em minha própria vida, como se sempre andássemos juntas, mesmo que eu não soubesse.
No começo nossa relação era permeada com as regras, com os pressupostos do viver, já que nos relacionávamos na escola, com os livros didáticos ou com os poucos livros que a professora levava em sala para escolhermos, ou ainda na igreja, nas intermináveis lições religiosas do passado, presente em futuro. Também existiram alguns poucos livros que encontrava perdidos em casa ou que meu irmão me levava. Aí não existia muita autonomia, muito gosto, e muito menos consciência disso.
Os anos foram passando e na universidade aprendi que podia conversar com os textos, e então a pesquisa me apresentou uma nova forma de leitura: de discussão, de descoberta. Por muito tempo a leitura me foi trabalho, mesmo que prazeroso. Lendo, aprendi a respeitar todas as leituras, e aprendi a aprender com os que leem o que não posso ver.
Hoje a leitura me é possibilidade, aprendi a ler muito mais, aprendi (e antes tarde do que nunca) a deliciar-me nas histórias. A tecnologia me ajudou a ter uma infinidade de opções, e me quedo com livros como quem quer falar com todos os amigos ao mesmo tempo. Sacio-me, descubro-me. Nos encontramos também na esperança, na luta, sem a inocência de crença em sua absoluta bondade e com a consciência de seu poder. Seguimos juntas, em paz e em guerra.
Heloá Oliveira-Delmassa - Doutoranda em Ciência da Informação - Marilia / SP