ATENDENDO O USUÁRIO


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XU XU XAN


A menina entra correndo na biblioteca e procura, de imediato, a bibliotecária.

– Preciso fazer uma pesquisa. A professora pediu. Ela é brava e muito exigente. Precisa ficar uma pesquisa muito bem feita, com mais de 5 páginas. Acho que é melhor 6 páginas. Também vou colocar umas gravuras na capa e outras dentro do trabalho. Com as gravuras o trabalho pode ficar com 7 páginas. Puxa! Com 8 páginas ele fica mais grosso e eu ganho uma nota melhor. Se for uma gravura grande, talvez...

A bibliotecária estava atordoada, pois a estudante falava sem nem mesmo respirar.

– Calma. É melhor você começar a pesquisa e deixar que a própria pesquisa determine o número de páginas de seu trabalho. Que tal se você me dissesse qual o tema da pesquisa?

– Bom, pra dizer a verdade, eu anotei em um papel, mas não consigo encontrar mais. Não sei se deixei no bolso de minha blusa ou talvez dentro do estojo. Eu estava com o estojo da Mônica ou com o do Piu-Piu, na aula da professora Serafina? Será que ficou em cima da mesa da cantina? Ou caiu no chão na hora em que o Júnior derrubou meu material? O Júnior é uma peste, eu ainda vou pedir para a Tia falar com a mãe dele, porque ele sempre...

– Se você perdeu o papel com a anotação do tema da pesquisa, é um problema, mas podemos resolvê-lo – disse a bibliotecária cortando a enxurrada de palavras que (como podia, meu Deus?) brotava da boca daquela menina – Tente lembrar alguma coisa do assunto que a professora pediu.

– Só lembro que era alguma coisa parecida com Xu Xu Xan. É que a professora não fala direito, ninguém consegue entender o que ela fala e...

– Está bem, está bem. Quer dizer que você precisa fazer um trabalho sobre... o quê, mesmo?

– Xu Xu Xan.

– Xu Xu Xan?

– Isso mesmo.

“Gente, o que será isso?” – pensou a bibliotecária.

– Vocês estão aprendendo a montar alguma horta?

– Como? Torta? – perguntou a menina.

– Não, horta. Um lugar em que se planta tomates, cenouras, chuchus...

– Aprender a plantar? Nem morta... quer dizer... torta... quer dizer... horta – brincou a usuária – Não é chuchu, é Xu Xu Xan.

– Deve ser algum novo disco da Xuxa.

– Também não é. Ainda bem, porque eu não gosto muito da Xuxa, prefiro a Angélica. A Xuxa é muito chata, ela vive só falando dos “baixinhos”, que “baixinho” é isso, que...

Sem saber o que fazer, a bibliotecária interrompe novamente a tagarela e desiste.

– Vai ser difícil lhe ajudar sem o tema correto. O melhor é você voltar para casa, tentar encontrar o papel extraviado em que consta o assunto da pesquisa e retornar mais tarde. Tá bom assim?

– Não dá! É impossível! Eu tenho um monte de coisas pra fazer. Não vai dar tempo. A pesquisa é sobre Xu Xu Xan, tenho certeza. Perdi o papel, mas ainda me lembro. É Xu Xu Xan. Se não for é algo parecido.

A menina para de falar de repente e sai correndo em direção a um grupo de alunos que acabou de chegar. Minutos depois ela retorna trazendo (ou empurrando) uma colega. 

– Pronto, resolvido o problema. Ela anotou o tema da pesquisa no caderno. 

A amiga abre o caderno e diz:

– A professora pediu para fazer um trabalho sobre Xu Xu Xan.

– Não acredito – pensou alto a bibliotecária, ao mesmo tempo em que puxava o caderno das mãos da nova “pesquisadora”. – Preciso ver isso.

No caderno, com uma letra que a aluna considerava “caprichada”, a bibliotecária leu: “Fazer uma pesquisa sobre Ku Klux Klan”. 

(Oswaldo F. de Almeida Júnior – relatando um caso ouvido em algum lugar)


Autor: Oswaldo Francisco de Almeida Júnior

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OSWALDO FRANCISCO DE ALMEIDA JÚNIOR

Professor associado do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Estadual de Londrina. Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UNESP/Marília. Doutor e Mestre em Ciência da Comunicação pela ECA/USP. Professor colaborador do Programa de Pós-Graduação da UFCA- Cariri - Mantenedor do Site.