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ARQUIVISTA E SUA INSERÇÃO NO MERCADO DE TRABALHO

Finalmente, resolvi aceitar o desafio para iniciar essa coluna, tendo como eixo norteador a área de Arquivologia. Aos leitores, cabe esclarecer que minha pretensão estando à frente desse trabalho, é de única e exclusivamente externar pensamentos e experiências de arquivistas, professores e outros profissionais que estejam atuando junto aos arquivos, de forma que esse espaço represente uma fonte de inspiração e provoque reflexões sobre o fazer arquivístico.

 

Tanto para aqueles que já atuam no mercado de trabalho, como para os que estão chegando lá, esse é um espaço no qual será possível compartilhar resultados, externar ansiedades, dificuldades e preocupações, advindas do cotidiano arquivístico, sem ser exatamente, uma proposta nos moldes do que é feito para uma revista científica ou outros canais de divulgação técnico-científica.

 

Nesse sentido, quero aproveitar a oportunidade para começar falando a respeito do mercado de trabalho do arquivista, no século XXI, quando na literatura da área, de modo geral, se registra um crescimento do número de cursos superiores no Brasil, principalmente, a partir da década de 1980. É de se supor, a partir desse fato, que todo esse contingente de profissionais ao serem inseridos no mercado de trabalho, paulatinamente, conquistem espaços importantes na sociedade, ao executarem suas tarefas com comprometimento com a causa dos arquivos.

 

Apesar dessa trajetória ascendente, no que diz respeito à instituição arquivística, a sociedade ainda tem uma compreensão aquém do desejado. Acredito que para mudar essa realidade, ainda teremos que percorrer um longo caminho e, nesse percurso, as Universidades precisam desempenhar um papel ativo.

 

É notória a confusão por parte das pessoas em geral, a respeito do significado da expressão “arquivos”. Embora essa expressão possa ser questionada, repensada, mudada, o fato é que os arquivos, desde sempre, fizeram parte da formação da sociedade e como tal, são produtos das mudanças sócio-administrativas que vão se apresentando.

 

Infelizmente, para uma parte dos empresários brasileiros, o arquivo ainda é um espaço destinado à guarda de papéis velhos, empoeirados e de nenhuma utilidade. Para esses, resta lamentar a negligência de uma fonte importante de informação, que poderia oferecer mais lucros, menos despesas, mais racionalidade do processo administrativo e maior agilidade na recuperação de informação.

 

Aqueles que compreendem o valor dos arquivos e a importância de mantê-los organizados admitem a importância do trabalho dos arquivistas e esperam que esses desempenhem suas atividades com rigor e a devida qualidade.

 

De qualquer modo, a inserção do profissional no mercado de trabalho ainda é pontual, parcial e, de certa forma, amistosa. Decorre dessa situação, a necessidade de investir em ações que coloquem a profissão em um novo patamar, a partir do qual, a sociedade cada dia mais, venha reconhecer sua importância para a administração e para a história.

 

Nesse aspecto, o movimento associativo tem realizado um trabalho incansável para fortalecer a categoria e disseminar a profissão. A formação também precisa estar atenta às necessidades da sociedade e para isso, o projeto pedagógico do curso precisa garantir as condições necessárias para que os futuros profissionais desenvolvam habilidades, tais como: o empreendedorismo, a flexibilidade, a criatividade, entre outras. O arquivista deve também conhecer a respeito da área administrativa e saiba desenvolver um bom relacionamento interpessoal, sem tais requisitos, é praticamente impossível desempenhar suas funções.

 

É imperativo ao arquivista, assim como em outras profissões, investir em capacitação de modo contínuo, assegurando que esteja em condições de atuar em meio a uma sociedade dinâmica e fortemente marcada pelo desenvolvimento de tecnologias de informação e conhecimento.

 

Os arquivos são mais do que um lugar, um setor, são registros que contêm informações capazes de demonstrar e comprovar os caminhos trilhados pela administração. Da mesma forma como se constituem em fonte para quem precisa enfrentar o processo de tomada de decisão, também são fonte de inspiração para o escritor, historiador ou para o cidadão comum.

 

No Paraná, apenas um curso de Arquivologia está em funcionamento. Criado no ano de 1998, na cidade de Londrina, o curso formou um contingente de arquivistas que a partir de sua atuação em diferentes setores da sociedade, tem contribuído para a mudança da realidade local e regional. Londrina é uma cidade que recebeu o título de “Capital do Café”. É um município localizado no norte do Estado, na “Região Norte Paranaense” que teve maior crescimento das últimas décadas.

 

Até a criação do curso de Arquivologia, grande parte dos empresários londrinenses e da região, desconheciam sua função e, consequentemente, não disponibilizavam vagas para arquivistas em suas empresas. Essa realidade mudou graças ao trabalho de divulgação do curso na cidade e região realizado pelo corpo docente e discente da Universidade Estadual de Londrina, mas também pela atuação direta dos estagiários e dos profissionais inseridos no mercado de trabalho.

 

É gratificante constatar que os arquivistas estão atuando na área e até contratando estagiários para auxiliá-los no trabalho, fazendo com que surja a expectativa concreta de novas contratações. Esses são alguns dos frutos de um esforço coletivo da comunidade arquivística como um todo, que está conseguindo vencer obstáculos com muito trabalho e compromisso com a área.

 

Para corresponder às necessidades desse mercado de trabalho é preciso que o arquivista possua algumas características, dentre as quais destacamos: a criatividade, a interatividade, a flexibilidade. Esse profissional deve ainda, ter consciência da sua importância no âmbito de qualquer organização, não como alguém que cuida de documentos esquecidos pela maioria dos funcionários, mas como aquele profissional que estabelece políticas e diretrizes para a produção documental/informacional, de modo a aperfeiçoar o processo administrativo como um todo.

 

Nesse sentido, os estágios curriculares são uma ferramenta poderosa de convencimento e persuasão e precisam ser pensados e realizados, de forma integrada ao projeto político pedagógico dos cursos de forma que não se transformem em alternativas para alguns empresários não tão conscientes da importância em se manter um arquivista no quadro de funcionários de sua organização.

 

Por fim, para além de conquistar o espaço no mercado de trabalho, o arquivista deve se preocupar com a construção de um arcabouço teórico que sustente suas práticas e o desenvolvimento científico da área. Nesse sentido, abre-se um horizonte de pesquisa que até aqui tem sido absorvido pela área de Ciência da Informação.

 

Wilmara Rodrigues Calderón - Professora Adjunta do Departamento de Ciência da Informação, da Universidade Estadual de Londrina, ministrando disciplinas, mais especificamente, no curso de Arquivologia, desde 1998. Participa desde a criação do Conselho Técnico do Sistema de Arquivos da UEL e, atualmente, exerce a função de Diretora do Sistema. Realizou vários projetos de pesquisa, sendo alguns deles voltado à temática dos arquivos universitários. Doutora pelo programa de Ciência da Informação, da Unesp/Marília.

Autor: Wilmara Rodrigues Calderón

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Seção Mantida por OSWALDO FRANCISCO DE ALMEIDA JÚNIOR

Professor associado do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Estadual de Londrina. Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UNESP/Marília. Doutor e Mestre em Ciência da Comunicação pela ECA/USP. Professor colaborador do Programa de Pós-Graduação da UFCA- Cariri - Mantenedor do Site.