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CULT, CUTE... COOL (1): BREVE RELATO ACERCA DOS RECURSOS E DA INTERFACE DO MECANISMO DE BUSCA CUIL

Em tempos em que a empresa Google obtém status entre as marcas mais valiosas do mundo por dois anos consecutivos – em menos de uma década de existência –, continua a inovar freneticamente em serviços de informação e a expressão “to google” ou “googlar” é inserida por força da metonímia em verbetes de dicionários, enciclopédias e na oralidade; surge um novo mecanismo de busca na web: o Cuil <www.cuil.com>.

 

A notícia que foi amplamente difundida no mês de julho deste ano e que já no próprio Google registra cerca de 1.950.000 ocorrências, soou como pretensiosa uma vez que o Cuil não acanhou em autodenominar-se: “The world’s biggest search engine. The Internet has grown. We think it’s time search did too” – O maior mecanismo de busca. A Internet tem crescido. Achamos que já era tempo das buscas também crescerem.

 

Não tão polêmica quanto a origem do nome do principal concorrente que ainda continua a levantar especulações e processos judiciais, porém mais difícil de fixar uma pronúncia e de se evitar frases de duplo sentido ou trocadilhos – ao menos aqui no Brasil –; o nome Cuil tem sua origem na palavra gaélica (do irlandês arcaico) que significa sabedoria, conhecimento.

 

Os fundadores Anna Patterson ex-Google, seu esposo Tom Costello ex-IBM e  Russell Power que também já atuou em projetos da Google, asseguram que o novo mecanismo de busca realiza uma varredura três vezes maior em páginas na web.

 

A filosofia do Cuil está centrada em quatro princípios básicos que “alfinetam” algumas práticas da empresa Google, no que tange questões quanto às métricas de popularidade e ao uso de informações e dados dos usuários:

 

1)     O tamanho importa: independente da baixa popularidade de um site, o mecanismo de busca necessariamente precisa indexá-lo e listar todos os resultados, pois as informações contidas nesses sites podem ser importantes e alguém pode necessitar delas algum dia.

2)     A popularidade é útil, mas nem sempre é importante: embora um site mais popular em determinado assunto resolva questões e buscas superficiais em grande parte dos casos, buscas complexas exigem análises de relevância mais minuciosas pelo buscador do que apenas uma questão de números de acesso e referência. As palavras e suas diferentes associações são relacionadas ao contexto das páginas web rastreadas.

3)     Organização é fundamental: a organização dos resultados providos pelo Cuil, busca inovar. Os resultados são organizados de tal forma que os assuntos são categorizados e permitem associações diversas, com prévia definição das categorias. Ilustrações acompanham os resultados e são oferecidos alguns recursos para refinamento da busca.

4)     Analisar a web e não seus usuários: a política de privacidade do Cuil se compromete a não coletar dados dos históricos de acesso e hábitos de  busca e preferências ou de envolver dados de usuários. A empresa não acompanha quem realiza as consultas no mecanismo de busca, seja por IP(2), por cookies(3) ou quaisquer outros recursos.

 

Mas por que o Cuil destaca o fato de não utilizar a popularidade como indicador de relevância e a questão da privacidade assegurada aos usuários do mecanismo de busca?

 

A popularidade ou autoridade dos websites como critério de ordenação de resultados e como “filtro da realidade” sofre críticas, pois sabemos que o cálculo matemático por detrás da análise da popularidade de um site pela técnica de PageRank(4) mesmo que tenha, em muitos casos, razões legítimas, pode ser de origem artificial. Apesar de a popularidade não ser um fator exclusivo nesse processo, pois certamente é associada ao conteúdo do website, tal técnica pode não se configurar como a melhor forma de elencar os resultados de uma busca. Os sites mais acessados acerca de um tema ou assunto, não são, necessariamente, os que trazem conteúdos mais condizentes a determinada necessidade de informação.

 

No tocante à privacidade dos dados do usuário durante os processos de busca, o Cuil anuncia na contramão do que a Google declaradamente, por meio de sua “Política de Privacidade”, realiza: uso de dados de identificação exclusiva do navegador do usuário, para uso da empresa ou compartilhamento com terceiros (para fins comerciais).

 

Sem discutir mais demoradamente os princípios ideológicos do Cuil e suas contraposições ao Google, vamos nos ater a algumas considerações sobre a interface e os recursos apresentados pelo Cuil,  a partir de algumas experiências de uso.

 

A estrutura e layout da interface do Cuil é minimalista, a começar pela sua homepage em cor preta e pela ausência de banners e/ou links patrocinados, fatores que evitam a poluição visual.

 

Quando iniciado o processo de consulta, se ativado o recurso “typing suggestions” nas preferências, surge uma lista de opções conforme são inseridos os termos de consulta. Termos compostos ou simples aparecem como sugestão, concomitantemente à inserção de palavras. Os links patrocinados não são ignorados pelo Cuil, são apenas mais sutis e destacam-se como primeira opção na lista de opções de palavras digitadas precedidos pelo endereço URL.

 

Os resultados de uma busca são concatenados em duas ou três colunas (conforme definido pelo usuário) e apresentam, além dos links, imagens, que buscam referência direta ao conteúdo tratado no website. Partindo do princípio de que ilustrações podem auxiliar em uma seleção mais ágil por parte do usuário, o Cuil rastreia imagens no próprio site e elege uma (por meio de algoritmos avançados) para ser disponibilizada juntamente com o resultado. No entanto, por meio de consultas fica nítido que em muitas situações ainda não há uma correspondência direta entre a imagem e o assunto/tema do site.

 

Além dos resultados, seções temáticas são apresentadas em formas de guias permitindo uma navegabilidade mais ágil entre assuntos correlacionados, bem como categorias associadas a esses assuntos são apresentadas e podem ser exploradas. A partir de um simples contato entre o mouse e o botão sensível, são acionadas informações adicionais e definições sobre os termos. 

 

Há também a opção de busca segura “safe search”. Este recurso filtra websites de conteúdo pornográfico ou censurável, mesmo que nem sempre um bom resultado seja assegurado – como não o foi em algumas tentativas de busca – e também possamos questionar o que é enquadrado como conteúdo censurável, como tal definição é feita e por quais critérios.

 

Muito embora o Cuil já indexe sites em português e em outros idiomas (inglês, francês, italiano, alemão, espanhol, etc.) sua interface está disponível, até o momento, somente em língua inglesa, o que pode ser levantado como um fator limitante para o uso do mecanismo de busca de uma forma mais ampla, dada a barreira lingüística.

 

Diferentemente de alguns mecanismos de busca, no Cuil inexistem recursos para consulta avançada por formato de arquivo, idioma, país, tipo de domínio, data, entre outros. A correlação de estratégias de busca por operadores booleanos (and, or ou not) também não é aceita de maneira explícita.

 

Não há um tutorial detalhado para a condução da consulta, apenas na seção “features” são exemplificados os recursos por meio da ilustração de um resultado de pesquisa.

 

Um estudo mais apurado realizado recentemente por Rand Fishkin, um dos fundadores da SEOMoz.org – uma empresa que investiga a otimização de mecanismos de busca –comparou a performance de cinco buscadores: Google, Yahoo!, Live Search, Ask e Cuil. Os resultados apontaram que o “caçula” Cuil tem ainda muito a avançar.

 

Em todos os quesitos avaliados individualmente: relevância (qualidade dos resultados), cobertura (índice do volume e da velocidade do rastreamento), atualidade (cobertura do assunto pela aparição de itens mais recentes), diversidade (qualidade dos resultados em consultas de caráter ambíguo) e experiência de uso (usabilidade do mecanismo de busca), assim como na avaliação total; o Cuil foi o último colocado. Os indicadores do Cuil demonstraram-se bem abaixo do terceiro e quarto colocados gerais, Live Search e Ask, respectivamente.

 

Surpreendentemente o Yahoo! atingiu pontuação superior ao Google nos quesitos de relevância e cobertura o que garantiu a primeira posição na classificação geral, mas em termos de atualidade o Google superou os demais. Já a diversidade e a experiência de usuário foram mais bem avaliadas no Ask, porém a diferença de pontuação entre os demais itens não foi suficiente para elevá-lo na posição geral. O Live Search não obteve indicadores de destaque, mas manteve-se regular nos quesitos individuais, sendo o terceiro mecanismo de busca mais bem avaliado pela pesquisa.

 

Apesar do Yahoo! ter recebido melhor avaliação na pesquisa, indubitavelmente o Google é mais popular. Por esse motivo as notícias de lançamento do Cuil recaíram mais fortemente sobre o Google.

 

Mesmo diante das limitações aqui apresentadas a recente aparição do Cuil gera especulações sobre a possível queda do império da “Glooglarização da Informação”. Ainda que o Cuil esteja no que podemos considerar estágio embrionário, e persiga alguns propósitos distintos do seu principal concorrente, comparações e tentativas de previsões são inevitáveis.

 

Certamente para nós usuários essa concorrência é positiva e estimula o surgimento de serviços de informação mais sofisticados e uma maior diversidade de recursos para acesso a conteúdos na web.

 

Ainda desconhecido pela grande massa (cult), mas esteticamente bem estruturado (cute); para tornar-se uma boa (cool) alternativa para buscas na web, em termos de recuperação da informação, certamente o Cuil tem muito a evoluir. Vamos aguardar!

 

Aliás, se por curiosidade ou equívoco você tentar acessar a uma possível versão nacional do Cuil adicionando o “.br”, você perceberá que já temos um site registrado como <www.cuil.com.br> e...pasmem! Nesse domínio também opera um mecanismo de busca, mas seu projeto, ao menos pelo que consta, é anterior e não tem relação alguma com a proposta estadunidense. 

 

 

Notas

 

(1) Cult – palavra utilizada para representar obras e filmes que não atraem o interesse das grandes massas, mas sim um público mais sofisticado. Cute – expressão inglesa que designa algo atraente, esteticamente apresentável, bonito. Cool – do inglês: legal, bacana.

(2) Internet Protocol Adress – Endereçamento único de um computador que o identifica em uma rede,

(3) Arquivos de texto que um website gera no computador do usuário para armazenar suas preferências, disponibilizando-as em acessos futuros

(4) Técnica utilizada pela Google para determinar e classificar a relevância de um website.

 

 

Referências

FISHKIN, Rand. Comparing search engine performance: how does Cuil stack up to Google, Yahoo!, Live & Ask. 29 jul. 2008. Disponível em: <http://www.seomoz.org/blog/comparing-search-engine-performance-how-does-cuill-stack-up-to-google-yahoo-live-ask>. Acesso em: 8 ago. 2008.

CUIL. About us. 2008. Disponível em: <http://www.cuil.com/info>. Acesso em: 7 ago. 2008.

CUIL. Our philosophy. 2008. Disponível em: <http://www.cuil.com/info/our_philosophy/>. Acesso em: 7 ago. 2008.

 

Renata Curty - Bibliotecária, mestre em Ciência da Informação pela Universidade Federal de Santa Catarina (2005) atua desde 2006 no Departamento de Ciência da Informação da Universidade Estadual de Londrina (UEL) na área de Tecnologia da Informação (TI).

Autor: Renata Curty

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Seção Mantida por OSWALDO FRANCISCO DE ALMEIDA JÚNIOR

Professor associado do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Estadual de Londrina. Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UNESP/Marília. Doutor e Mestre em Ciência da Comunicação pela ECA/USP. Professor colaborador do Programa de Pós-Graduação da UFCA- Cariri - Mantenedor do Site.