ESCOLA JOGA LIVROS NO LIXO
Maria Rehder
Moradores da Zona Leste recolheram as obras
Cerca de 400 obras literárias, incluindo autores renomados como Federico García Lorca, Machado de Assis e
O contador Manoel Rodrigues, 59 anos, conta que levou um susto ao passar em frente à escola por volta das 19h da quarta-feira. “Comecei a mexer nos sacos e para a minha surpresa, além de livros didáticos usados, encontrei clássicos da literatura, como
O bancário
Os moradores da Vila Zelina tentaram entrar em contato com a direção da escola municipal ao ver os livros na rua, mas a unidade estava fechada. “Alguns livros chegaram a molhar porque foram jogados perto de um bueiro, mas a maioria estava em bom estado, garante o contador, que salvou do lixo O Cortiço, de Aluísio de Azevedo, entre outros clássicos.
O bancário conta que um dos moradores do bairro ligou ontem para a escola e teve a informação de que as obras foram descartadas “por causa de cupim”. “É duro você ensinar para os filhos o valor da leitura enquanto uma escola comete esse absurdo. Os livros estão em bom estado e vou doá-los para a instituição espírita Casa André Luiz.”
Circe Bittencourt, coordenadora do Programa de Banco de Dados de Livros Escolares Brasileiros da (Livres/
No entanto, a especialista avalia que falta hoje na rede pública de ensino uma educação formativa de educadores - não só de professores, mas para todos os funcionários da escola - sobre a importância da leitura. “O poder público tem que rever o papel da biblioteca (a escolar e a pública). É preciso criar meios para mobilizar a sociedade para freqüentá-las.”
Ezequiel Theodoro da Silva, professor da Faculdade de Educação da Unicamp e presidente da Associação Brasileira de Leitura, afirma que na maioria dos casos o acervo das bibliotecas das escolas públicas não é planejado e muitas delas ficam em espaços improvisados na escola. “Isso não justifica o descarte de livros, mas há escolas que recebem doações ou grandes remessas cuja a compra foi mal planejada, o que gera um acúmulo de obras as quais a escola sequer tem espaço para guardar.”
O outro lado
A reportagem do JT tentou entrar em contato com a direção da escola, que informou que responderia via Diretoria de Ensino. A Secretaria Municipal de Educação, por meio de nota, informou que a Diretoria Regional de Educação Ipiranga, considerando a gravidade da denúncia envolvendo a Emef Prof. Ruth Lopes Andrade (Vila Zelina), determinou uma apuração preliminar para esclarecer os fatos. Segundo a nota, “a medida permitirá que se conheça as razões pelas quais os livros do acervo da unidade tenham sido jogados fora”.
Maria Rehder, maria.rehder@grupoestado.com.br