GERAL


UM GRANDE BAÚ DE RARIDADES


Marcelo Galli

 

São Paulo, 25 de Novembro de 2005 - A rotina diária austera de orações e estudos dos monges beneditinos contribuiu para a formação de uma biblioteca com mais de 50 mil volumes - em português, inglês, francês, italiano, latim, espanhol e alemão -, localizada na Abadia São Geraldo, no Morumbi, em São Paulo. Inaugurada em dezembro de 1997, a instituição é uma das maiores referências sobre a Hungria no Brasil, com mais de 12 mil volumes e conta ainda com acervo sobre Filosofia, Religião, História, Sociologia e Literatura, entre outros assuntos.

 

Sandra Martins da Rosa, bibliotecária responsável pelo espaço conta que organizar o acervo e informatizar o catálogo para pesquisa, disponível hoje pelo site da abadia (www.asg.org.br), foi um trabalho de fôlego iniciado em 1995. "Tínhamos cerca de 40 mil livros, as estantes e um catálogo antigo, mas defasado. Começamos quase do zero", diz. Depois disso, o conjunto cresceu com os livros cedidos pelos monges que não queriam deixá-los nas suas respectivas celas, com o material doado pela comunidade húngara na cidade e com novas aquisições.

 

Os livros mais antigos do acervo são "Meditações", de Santo Agostinho, de 1607, em latim, e um missal, também em latim, de 1760. No total, há mais de 40 obras raras no local. A biblioteca abriga ainda peças curiosas, como um livro quase imperceptível, com cerca de 5 milímetros de comprimento e 5 de largura. Só com lupa é possível ler seu conteúdo. Com dez páginas e encadernação de couro, foi produzido por uma gráfica alemã na década de 60. Nas páginas do microlivro encontra-se a oração do Pai-nosso em inglês, alemão, holandês, espanhol, norueguês e francês.

 

O acervo da biblioteca começou a ser reunido pelos monges beneditinos oriundos da milenar Arquiabadia de Pannonhalma, da Hungria, que chegaram ao Brasil, no começo da década de 30, para prestar auxílio espiritual à comunidade daquele país instalada em São Paulo e norte do Paraná.

 

Naquela época, segundo uma nota publicada em 1933 por um jornal que também faz parte do acervo, o semanário "Délamerikai Magyar Hírlap" (Periódico Húngaro da América do Sul), a comunidade húngara na capital paulista contava com 30 mil imigrantes, distribuídos pelos bairros Vila Anastácio, Mooca, Vila Pompéia, Ipiranga, entre outros. Hoje, segundo dados do portal Mil Povos, da prefeitura do município, há cerca de 4 mil imigrantes húngaros e 5 a 10 mil descendentes.

 

O "Délamerikai Magyar Hírlap" foi editado entre as décadas de 30 e 60 e tinha circulação no Brasil e Argentina. "Tem gente que vem da Hungria pesquisar esse material", explica a bibliotecária. Revistas húngaras sobre conhecimentos gerais da década de 60 também estão disponíveis. Outra pérola do acervo é uma carta escrita pelo autor contemporâneo húngaro Sándor Márai (1900-1989), datada de 1949, quando estava na Itália, a um destinatário desconhecido da comunidade húngara aqui do Brasil. Amargurado com a situação da Hungria no pós-guerra, Márai critica na missiva o tipo de livros escritos no seu país naquela época: "A literatura húngara está moribunda; na nossa terra e no exterior também está obrigada a isto, sem salvação". O autor, que tem mais de 46 livros publicados, morava nos Estados Unidos quando se suicidou.

 

O próximo passo a ser dado pela biblioteca é integrar o banco de dados desta ao acervo audiovisual produzido pelos monges nesses mais de 80 anos de atuação no Brasil, material que ainda está sendo catalogado. Há ainda um projeto de organização do material pessoal pertencente aos religiosos. Este conjunto tem tesouros como uma coleção de revistas e jornais brasileiros com textos sobre a revolução de 1956 na Hungria, quando o povo magiar se insurgiu contra a dominação soviética.

 

Além do acervo valioso, a Abadia São Geraldo, localizada ao lado de mais uma obra da ordem beneditina húngara no País, o colégio Santo Américo, também guarda histórias interessantes. Entre elas está o fato de que o papa João Paulo II, morto este ano, durante a sua primeira visita ao Brasil, em 1980, ficou hospedado ali.


Fonte: Gazeta Mercantil/InvestNews - 27/11 - 10:00
Divulgado por Rosalvio – Enviado para “bibliotecarios” em 28/11/2005

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OSWALDO FRANCISCO DE ALMEIDA JÚNIOR

Professor associado do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Estadual de Londrina. Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UNESP/Marília. Doutor e Mestre em Ciência da Comunicação pela ECA/USP. Professor colaborador do Programa de Pós-Graduação da UFCA- Cariri - Mantenedor do Site.