GERAL


EM DEZ ANOS, LIVROS GRATUITOS SERÃO 25% DO CATÁLOGO DA UNESP


Roberta Campassi

 

A Editora Unesp, que hoje tem 148 e-books gratuitos (pouco menos de 10% do seu catálogo total), prevê multiplicar o número para mil títulos em dez anos. Ao fim dessa década, os livros digitais com acesso aberto representarão cerca de 25% do catálogo. “Não está mal”, afirma José Castilho Marques Neto, presidente da editora universitária. Para ele, está crescendo no Brasil a percepção de que a produção científica das universidades deve ser disponibilizada gratuitamente, seja nos periódicos, seja nos livros (ainda que estes custem mais para ser produzidos). A Editora Unesp é uma das parceiras do SciELO Livros. Ela também oferece opção de compra dos e-books caso o leitor queira o exemplar impresso, que é viabilizado com impressão sob demanda.

 

Confira a entrevista de José Castilho ao PublishNews:

 

Por que a Editora Unesp escolheu participar do SciELO Livros?

Já existia uma aproximação com eles por sermos uma editora universitária, ligada a uma universidade de pesquisa, e pelo fato de o SciELO ser uma iniciativa de referência com os periódicos científicos. Quando surgiu a proposta de criar o SciELO Livros, não hesitamos um minuto. Colocar nossos e-books lá é mais um aval de qualidade para os nossos os produtos, e é também o nosso lugar enquanto universidade pública de ensino e pesquisa.

 

Como a editora pensa a questão do acesso gratuito aos livros?

É algo que já venho falando há alguns anos. Pesquisa feita com dinheiro público, de instituição publica, deve ter acesso gratuito. E agora essa reivindicação está explodindo lá fora.

 

Que reivindicação é essa?

Há alguns meses, começou um movimento internacional muito forte, uma verdadeira rebelião contra o alto preço dos periódicos científicos liderada por Harvard. Isso começou contra a Elsevier, que é a maior publicadora mundial desses periódicos. A lógica é: o pesquisador é financiado com verbas públicas. Depois, a partir das suas pesquisas, ele produz artigos científicos. Mas, para publicar esses artigos nos periódicos de renome, o pesquisador tem que pagar – e caro – às editoras desses periódicos. E as editoras então ganham bilhões, a partir do trabalho originalmente financiado com dinheiro público.

 

O questionamento dessa lógica está crescendo muito no mundo inteiro, e aqui também. Vale para periódicos científicos e para livros também, embora os livros demandem um trabalho editorial e custos maiores. A UFBA e a Fiocruz, que já estão no SciELO Livros, estão pensando de um jeito novo. E acho que as editoras vão ter que se ajustar a essa nova forma de pensar. Pelo menos na linha de publicações que são financiadas na maior parte com dinheiro público – e que não é a única que as editoras publicam.

 

O que a Editora Unesp oferece gratuitamente?

A nossa ideia foi começar um projeto inovador. Há mais de 15 anos a editora tem um programa de edição dos trabalhos da pós-graduação da universidade. Em 2010, começamos a publicar esses trabalhos em livros digitais gratuitos [conheça o projeto do selo Cultura Acadêmica aqui]. A Pró-Reitoria de Pós-Graduação da Unesp financia a criação dos e-books e nós viabilizamos o acesso. Neste ano, lançamos a terceira leva de e-books [foram mais 44]. Qualquer um pode baixá-los. No entanto, também comercializamos o livro com impressão sob demanda. Quem quiser o impresso, paga pela impressão.

 

No caso de vocês, qual a representatividade das obras de acesso gratuito no catálogo?

Temos hoje 148 livros digitais gratuitos, incluindo os que estão no SciELO [o catálogo total da editora chega a 1.600 títulos]. Queremos chegar a mil e-books gratuitos em dez anos. Como publicamos 200 livros por ano, daqui a dez anos teremos quase quatro mil títulos no catálogo. Cerca de 25% deles, portanto, serão gratuitos. Não está mal.

 

Como a editora decide o que será gratuito e o que não?

Nem todas as obras precisam ser gratuitas, e nem seria possível que todas fossem, porque a editora tem o objetivo de pelo menos se autossustentar. Nossa abordagem é publicar para uma diversidade de públicos, o que significa uma diversidade de bolsos, de interesses, de perfis, de suportes. Uma coisa está clara: a produção que é totalmente financiada com dinheiro público e que tem valor científico comprovado deve circular livremente. Em alguns casos, há questões de contrato que impedem oferecer o conteúdo gratuito. Mas há possibilidades. Um autor que tem cinco livros com a gente, por exemplo, podemos fazer com que um seja oferecido gratuitamente por um determinado tempo, até como estratégia de promoção da obra toda. Ninguém ainda propôs publicar livros internacionais gratuitos aqui, mas há linhas editoriais, por exemplo, do Banco Mundial, que são muitos interessantes e eventualmente poderiam ter acesso gratuito. O fato é que o editor tem que estar com a cabeça extremamente aberta agora, não dá pra reproduzir a lógica do mundo físico no digital.

 

E quão abertas estão as cabeças das editoras universitárias brasileiras?

No âmbito da Associação Brasileira das Editoras Universitárias (Abeu), temos discutido bastante. Mas ainda não há consenso. Minha percepção é que é um movimento que cada vez mais toma conta do meio universitário, e que não é estranho, porque a universidade já tem uma cultura de troca muito forte.

 

O primeiro movimento concreto que observamos no Brasil é o de tornar gratuitos os e-books de títulos esgotados, que já venderam muito, ou mesmo os que estão encalhados. É uma iniciativa legal, mas não é muito diferente do saldão que se faz pra queimar estoque. Isto é, não é uma iniciativa tão inovadora ou tão durável. É diferente de oferecer a primeira edição da obra já em e-book, com qualidade e gratuitamente. Acho que no geral ainda faltam projetos editoriais. Quando falo do SciELO, ou dos nossos e-books, eles são projetos editoriais. Têm metas, têm objetivos. O livro digital não é encarado como um brinde, mas como um produto. E um produto que não segue só a lógica do mercado, mas leva em conta os objetivos da universidade.

 

É importante deixar claro que não estamos levantando a bandeira da gratuidade para tudo! Mas acreditamos que em algumas linhas isso é justo, e a Editora Unesp, no caso, tem porte pra isso. Às vezes a discussão sobre o tema fica um pouco rasteira. No primeiro ano da publicação de nossos e-books, as pessoas perguntavam: “mas o autor não vai receber nada pelo seu livro”? Não é verdade que ele não recebe nada, ele ganha de outras formas. O livro publicado conta muito para a carreira. Influencia o salário que o pesquisador ganha na universidade, o quanto ele é citado e o quanto ele é convidado para participar de eventos – e até para publicar outras obras.


Fonte: PublishNews - 01/06/2012

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OSWALDO FRANCISCO DE ALMEIDA JÚNIOR

Professor associado do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Estadual de Londrina. Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UNESP/Marília. Doutor e Mestre em Ciência da Comunicação pela ECA/USP. Professor colaborador do Programa de Pós-Graduação da UFCA- Cariri - Mantenedor do Site.