DISCURSO DE POSSE DE ROBERTO REQUIÃO, GOVERNADOR DO PARANÁ
(O trecho de interesse para os
bibliotecários foi por nós destacado no início do texto, entre colchetes e no
corpo do discurso em vermelho)
[Além dos programas sociais da água, do leite e da luz, dos avanços na
educação, da política fiscal, da geração de novos empregos, da construção de
estradas e hospitais, uma das ações que mais me empolga, mobiliza e emociona é o
programa de construção de Bibliotecas Públicas
Breve, cada município paranaense, por menor e distante que seja vai ter
a sua Biblioteca, bem provida de livros, interligada à
Internet.
Vocês não imaginam o efeito transformador que uma Biblioteca tem sobre
as nossas comunidades, especialmente nas cidades do interior. Elas são a porta
para um mundo maravilhoso, para a criação, para a fantasia, para a formação.
Criado em uma biblioteca, sei do que falo.]
Por escolha dos paranaenses, assumo pela
terceira vez o Governo do Estado.
Na verdade, estou pouco interessado em
marcas históricas, em recordes. O que importa não é o tempo em que estive e que
ainda vou estar no Palácio Iguaçu.
O que conta são as realizações, o que
fizemos no primeiro e no segundo mandato. As obras, e também as palavras. Já que
nunca dissociei a ação do discurso.
De todas as disputas, desde que fui eleito
deputado em 1982, esta foi a mais difícil de todas. Não acredito que, ao longo
da nossa história republicana, tenha havido no Paraná um pleito renhido quanto
este.
Nunca se viu uma união de forças tão
poderosa, tão obstinada, tão arrogante e, ao mesmo tempo, tão sem escrúpulos
como a que enfrentamos.
Nada os deteve. Passaram como uma horda de
bárbaros sobre as mais comezinhas regras da convivência, da urbanidade.
Possivelmente nem um outro governante paranaense tenha sido exposto de forma tão
desumana, tão desapiedada.
Não estou aqui lamentando fatos. São coisas
da vida e eu as registro.
Certamente, para desagrado de alguns
companheiros que chegaram a pedir que fizesse um discurso de conciliação, de
congraçamento, de paz.
É a velha estória de sempre. O mito da
cordialidade. O oportunismo da "união nacional". Toda vez que se vêem em perigo
ou depois de uma derrota, os interesses dominantes - a direita, sejamos claros -
ressurge com a conversa mole da harmonia, da concórdia, somos todos amigos,
somos todos irmãos e patranhas da espécie.
No processo eleitoral, não demonstraram
nenhuma cordialidade, fizeram de tudo para que fôssemos esmagados, liquidados.
Discursavam com gosto de sangue na boca, com punhal entre dentes. Se vencedores,
prometiam terríveis vinganças.
O que muitos companheiros, Secretários de
Estado, Diretores de Empresas, gente do primeiro, do segundo escalão, dirigentes
do Partido não entendem é que dois lados muito claros e distintos opuseram-se
nesta eleição.
Provavelmente, nunca em uma eleição
paranaense esse antagonismo deu-se tão evidente.
Do lado de lá, reuniram-se todos os
interesses contrariados. Vi-os todos no palanque do adversário. Os que quebraram
e privatizaram o Banestado.
Os que quebraram e tentaram privatizar a
Copel, os que alienaram o controle da Sanepar, não investiram em saneamento e
fizeram ressurgir até mesmo a cólera
Estavam todos lá. Os que deram toda sorte
de vantagens e privilégios às multinacionais e esmagaram o empresário
paranaense. Os que se acumpliciaram com as transnacionais na conspiração para
submeter os produtores paranaenses ao domínio de suas sementes patenteadas. Os
que transformaram o erário quase que em caixa privado e dilapidaram o
Estado.
Estavam todos lá. Os que viveram durante
tanto tempo às expensas das verbas públicas e comercializaram suas opiniões. Os
que fizeram da liberdade de imprensa um negócio muito próprio e muito
próspero.
Estavam todos lá. Os que viviam de fraudar
concorrências, de superfaturar e de fazer das concorrências públicas uma ação
entre amigos.
Estavam todos lá. Aqueles que em oito anos
de governo não produziram mais que 38 mil empregos com carteira assinada. Porque
não cortaram impostos, desprezaram os pequenos, quebraram as empresas públicas,
não investiram em infra-estrutura, não atraíram negócios que gerassem
intensivamente novas vagas para os trabalhadores.
Estavam lá os que não apenas não criaram
qualquer programa social para minorar e atender emergencialmente os nossos
irmãos mais pobres, como eliminaram os que existiam, aumentando a dor da
exclusão, aprofundando a humilhação e a ofensa da miséria.
Estava lá o Banco Itaú, contra quem o
Estado do Paraná demanda na Justiça e que ganhou o Banestado de presente, de
graça, num dos processos mais absurdos da privataria, do desbaratamento do
patrimônio público. Estava lá o Banco Itaú que quer fazer valer contratos
absolutamente insustentáveis contra o interesse paranaense. Estava lá o Banco
Itaú financiando a candidatura de dois dos meus adversários. E estavam lá os
meus adversários aceitando recursos de quem demanda contra o
Paraná.
Estavam lá também pessoas de boa índole,
sinceras, honestas, corretas, empenhadas na batalha eleitoral, acreditando que
aquela fosse a melhor alternativa. Certamente, uma minoria pouco influente
porque o que predominava mesmo era a voz do dono.
Este o lado de lá. E qual o nosso
lado?
O lado dos mais pobres, dos trabalhadores,
dos pequenos, dos agricultores familiares, do fortalecimento das políticas
públicas de saúde, educação e segurança, da recuperação das estradas, da
construção de escolas e hospitais, da criação de empregos, da isenção de
impostos, do microcrédito, do fundo de aval, do programa do leite, da tarifa
social da água, da luz fraterna, da recuperação do Estado, da transparência, da
austeridade. O lado do povo.
Há quem se constranja, fique encabulado ou
até mesmo sinta urticária quando se fala em povo. Os dominantes, essa gente do
mercado, os do lado de lá, os que sempiternamente viveram do sangue, do suor, da
miséria, da exploração do povo. Os que excluem, esmagam, discriminam, ofendem e
humilham o povo. Os que enganam e manipulam o povo.
Essa gente torce o nariz quando algum
governo declara sua opção, seu amor, sua solidariedade para com o
povo.
É impressionante como os valores do
mercado, sua boca torta de fumar o cachimbo da dominação transmite-se e são
assimilados até mesmo por aqueles que estão entre nós.
E lá vem essa conversa toda de populismo,
do horror a um
O nosso lado é o lado do
povo.
E como então aceitar a conciliação que
alguns companheiros urdem?
É interessante. Quando chega a vez, quando
temos possibilidades concretas, reais de fazer alguma coisa por aqueles que mais
precisam, por aqueles que a vida toda restaram à margem, insistem que sejamos
equânimes, que pesemos os dois lados, que olhemos à esquerda e à direita, que
não nos afastemos dos grandes, dos poderosos, dos manda-chuvas. Companheiros de
Governo, paranaenses.
Nesses quatro anos que passaram acredito
que tenha ficado claro a todos para quem governamos. Ou não salta aos olhos a
nossa opção? Será que há alguma dúvida?
Pois bem, nos próximos quatro anos vamos
radicalizar essa opção. Vamos ainda mais a fundo na tarefa de governar para o
povo.
E não é um governo de centro-esquerda, não.
Não venham com esses centrismos, com esse equilibrismo. Somos sim um governo de
esquerda. E que a má interpretação ou a distorção daquilo que disse o Presidente
Lula não sirva de pretexto para que alguns neguem o lado em que nos
posicionamos.
Somos de esquerda, porque ser de esquerda é
ser solidário, fraterno, humano.
É ser gente. É ter os olhos, a alma e o
coração voltados para as desigualdades e as misérias deste
mundo.
O fosso entre os que têm e o que não têm
alargou-se de tal formas nos últimos anos, nesses malditos anos de expansão do
neoliberalismo, que não seria catastrófico antecipar a possibilidade do colapso
da civilização.
Tenhamos olhos para ver. E
vejam.
Hoje a metade da população mundial,
calculada em 6 bilhões e 800 milhões de almas, tem um patrimônio de tão somente
4.500 reais.
A tragédia brasileira da desigualdade, da
exclusão, da concentração de rendas segue o ritmo mundial.
Por mais escandaloso e surpreendente que
pareça quem ganha mais que 800 reais por mês em nosso país está entre aquela
parcela de cinco por cento de brasileiros mais ricos.
Escandalizem-se. Mas reajam, mas façam
alguma coisa, mas desendureçam o coração e arejem o cérebro. Alinhem-se à
esquerda, formem entre aqueles que ainda não perderam a capacidade de
indignar-se e lutar. Perfilem entre os que não perverteram as características
básicas de seres humanos, que não se transformaram em homens lobo dos
homens.
Enfim, recuperemos as nossas condições de
seres humanos. Segundo Aristóteles, "animais políticos"; isto é gregários,
solidários, civilizados, já que civilização pressupõe solidariedade, irmandade.
É isso que nos distingue da barbárie, da irracionalidade.
E o que é a globalização, a sanha do
mercado por lucro, a dominação impiedosa dos países e povos periféricos? O que é
a transformação do individualismo, da competição, da esperteza, da ascensão a
qualquer preço a valores máximos dos nossos tempos? O que é tudo isso que não a
volta à selvageria, ao embrutecimento, à incultura, à grosseria, à rudeza, à
brutalidade, à desumanidade das hordas pré-civilização?
Já próximo da morte, nas reflexões finais
sobre a sua trajetória política, François Mitterrand disse que a direita julga
que o poder é dela, por delegação natural, como se fosse a reprodução do direito
divino dos reis.
Assim, para a direita, a eventual ascensão
da esquerda é usurpação, é antinatural.
Isso é de tal forma difundido, está de tal
forma entranhado em nossa cultura, que muitos, à esquerda ou ditos de esquerda,
ou do centro, parecem constrangidos quando ganham uma eleição. Quase que pedem
desculpas à direita por chegar ao governo, por ocupar um espaço naturalmente
dela, naturalmente dos senhores, naturalmente dos
dominantes.
Talvez seja por isso que, segundo dizem,
nada mais parecido com o conservador que a esquerda quando chega ao governo. Ou
como se dizia no Império: "Nada mais parecido com um luzia do que um saquarema
no Gabinete".
Não aqui no Paraná.
Palavras e obras. Coerentemente. O que
pensamos, o que discursamos, o que
declaramos corresponde, sempre, ao que fazemos.
Desmontaram o Estado, diminuíram-no,
enfraqueceram-no. Afinal, para os neoliberais, a existência do Estado
justifica-se à medida que sirva ao mercado. E todas as políticas públicas são
desperdício de recursos. Recursos que eles querem para pagar as dívidas, o
serviço da dívida. Superávites para acalmar o mercado e sinalizar as nossas
condições de pagamento.
O risco brasileiro é falta de dinheiro para
saúde, educação, segurança, infra-estrutura, geração de empregos, má
distribuição de renda.
Mas o risco, que eles medem como se
medissem a febre e o perigo de vida de um paciente, o risco para eles, é faltar
recursos para pagar a dívida, já tantas vezes paga e ainda assim tornada
impagável pela prestidigitação contábil dos credores, dos rentistas internos ou
externos.
Nós recuperamos o Estado e o Estado passou
a ser um elemento essencial para a retomada do desenvolvimento
paranaense.
Nesses quatro anos, transformamos a Copel
de uma empresa à beira da quebra, deficitária, na terceira melhor empresa de
energia do mundo. E na principal empresa de energia das Américas. De longe, a
melhor empresa de energia do Brasil.
Para o lucro de quem? Dos paranaenses, que
pagam hoje a menor tarifa de energia do país; dos nossos empresários que têm
oferta de energia barata e abundante para o desenvolvimento de seus projetos; de
um milhão de paranaense de famílias mais pobres, que recebem energia de graça
A Sanepar voltou ao controle público e hoje
desenvolve a mais ousada e abrangente política de saneamento do Brasil,
transformando o Paraná em referência nacional em oferta de água e esgoto
tratados.
E a tarifa social da água atende mais de um
milhão e quatrocentos mil paranaenses de menor renda. Porque saneamento é
saúde.
O Porto, livre da sanha dos privatistas, da
especulação, recuperado, saneado, eficiente e lucrativo.
Na Educação, uma transformação
extraordinária. Não há, quem no Brasil deixe de reconhecer os avanços da
educação pública paranaense nesses quatro anos.
A qualidade do ensino, o livro didático
gratuito, o portal da educação, os 40 mil computadores, toda a rede escolar
interligada por rede de fibra ótica, o plano de cargos e salários, a construção
de novos colégios e salas de aula, a volta do ensino profissionalizante, os
extraordinários índices de aprovação dos nossos alunos na Universidade Federal e
nas Universidades Estaduais. Além dos grandes investimentos no ensino
universitário público estadual.
Na Saúde, os esforços extremos para
recuperar as defasagens acumuladas nos oito anos que nos antecederam. Estão aí
os 24 hospitais, em construção, reforma ou ampliação para dar, enfim, aos
paranaenses a base física indispensável a uma política pública de saúde
universal e eficiente.Pela primeira vez, em anos, reduzimos os índices de
mortalidade infantil e somos hoje um dos dois Estados brasileiros que mais
avançou nesta área. Os 126 Centros da Saúde da Criança e da Mulher, que já
estamos construindo, vão fazer com que esses índices sejam reduzidos ainda
mais.
Na Segurança Pública, a implantação de um
novo conceito de segurança: a Polícia Comunitária, próxima das pessoas,
integrada com elas e interagindo com elas.
Daí o Projeto Povo, a Patrulha Escolar, os
Bombeiros Comunitários, o Geoprocessamento do Crime, os Conselhos de Segurança.
Reequipamos as Polícias Civil e Militar, aumentamos o efetivo, reajustamos os
vencimentos.
Avançamos, mas temos a consciência de que
ainda há muito o que fazer.
Para gerar mais empregos, para incentivar
investimentos e aumentar a produção aplicamos a mais ousada política fiscal do
país, que agora serve de inspiração ao governo federal ao editar a Lei Geral da
Microempresa. Hoje, 172 mil micro e pequenas empresas paranaenses são
beneficiadas pela isenção de ICMS ou pela redução do
imposto.
Os resultados espelham-se no alargamento da
longevidade das empresas paranaenses, bem superior à média nacional, e,
principalmente, na criação de novos empregos. Do início do nosso mandato, até
novembro de 2006, foram criados no Paraná 365.623 empregos com carteira
assinada.
Nos oito anos do governo que nos antecedeu
não foram criados mais que 38 mil empregos formais. A diferença é
notável.
Pena que a nossa imprensa, tão rápida na
crítica, não tenha se debruçado sobre esse espantoso confronto de números e não
tenha feito uma das perguntas básicas da boa reportagem: Por
quê?
O programa do microcrédito, que tanto
sucesso fez neste primeiro governo, alavancando milhares de pequenos negócios,
terá dobrado os seus recursos.
Vão ser agora 160 milhões de reais para
financiar quem queira abrir um negócio ou ampliar o que já
tem.
Concluímos nesse dezembro, o ingente
esforço de recuperação da malha rodoviária estadual. Mais de cinco mil
quilômetros devolvidos ao trânsito seguro dos paranaenses. Sem
pedágio.
Com isso, temos prontas as condições para a
implantação de um novo projeto, Os Caminhos da Liberdade, oferecendo
alternativas às estradas pedagiadas.
Não descuramos a batalha contra o abuso do
pedágio. As concessionárias fecham o ano com uma arrecadação estimada de 735
milhões de reais e nem 30 por cento disso foram aplicados em benefícios para os
usuários.
É por isso que temos mais de 40 ações na
Justiça contra o abuso das tarifas e o descumprimento dos
contratos.
A luta contra os interesses dominantes do
mercado se fez também com a implantação do software livre.
Com isso, buscamos não apenas
universalizar, democratizar o acesso à informática como também economizamos
recursos financeiros para o Estado.
Desde que o software livre foi implantado,
em maio de 2003, até agora já economizamos 147 milhões de reais, dinheiro que
desperdiçaríamos com as empresas que monopolizam o setor.
Além dos programas sociais da
água, do leite e da luz, dos avanços na educação, da política fiscal, da geração
de novos empregos, da construção de estradas e hospitais, uma das ações que mais
me empolga, mobiliza e emociona é o programa de construção de Bibliotecas
Públicas
Breve, cada município
paranaense, por menor e distante que seja vai ter a sua Biblioteca, bem provida
de livros, interligada à Internet.
Vocês não imaginam o efeito
transformador que uma Biblioteca tem sobre as nossas comunidades, especialmente
nas cidades do interior. Elas são a porta para um mundo maravilhoso, para a
criação, para a fantasia, para a formação.
Criado em uma biblioteca, sei
do que falo.
O Fundo de Aval, para dar suporte aos
nossos agricultores familiares, é também um outro programa
vitorioso.
Neste novo mandato, iremos além. Vamos
investir um bilhão e trezentos milhões de reais para diversificar a agricultura,
para industrializar a produção agropecuária, para dar suporte a ações como
irrigação noturna, Panela Cheia, trator solidário, incentivar a produção
agroecológica.
Para enfim dar às 320 mil pequenas
propriedades agrícolas em nosso Estado o apoio necessário, a fim de que se
consolidem e se desenvolvam.
Tantos avanços em tão pouco espaço de tempo
não seriam possíveis se não recuperássemos a capacidade do Estado de pensar, de
planejar, de executar. E se não contássemos com um corpo de funcionários
públicos, de profissionais, tão eficiente e capaz como o que
temos.
Paranaenses. As bases para um novo salto
estão construídas, solidamente construídas. As prioridades definidas. Os rumos
claramente delineados. Os objetivos, evidentes.
É a Educação, é a Saúde, é a Segurança, é a
geração de empregos, é o incentivo a novos investimentos e ao aumento da
produção, é o combate aos desequilíbrios sociais e aos descompassos entre as
regiões.
Enfim, acima de tudo, sobretudo, o povo, as
pessoas. O progresso das pessoas, sua promoção, seu desenvolvimento, sua
inclusão neste admirável mundo novo, neste tão injusto mundo
novo.
Nestes próximos quatro anos vamos
radicalizar a política de defesa do meio ambiente.
Não é possível mais contemporizar com a
destruição.
Vejam, oitenta e dois por cento dos
brasileiros moram
É uma perspectiva
apocalíptica.
Ainda assim, a irresponsabilidade de meus
adversários transformaram em mote de campanha, a licença para a devastação
ambiental.
Não consideremos, não cederemos à pressões.
A vida está acima do lucro.
Por fim, não poderia faltar uma palavra
sobre comunicação, imprensa, que vou dizê-la mesmo contra o conselho dos que
querem "deixar disso", e para desassossego dos pregadores da
cordialidade.
O debate sobre o papel da imprensa no
processo eleitoral ganhou o país. Pela primeira vez, em tantas décadas, a mídia
foi colocada sob suspeita. E criticada, coisa que ela detesta mais que o satanás
dá água benta.
A militância dos jornalões a favor de uma
candidatura só não detectou quem não quis. Caso de má fé cínica ou de ignorância
córnea?
Optaram sim por um lado, torceram e
distorceram por ele e quando isso foi identificado e denunciado, reagiram
dizendo que se ameaçava a liberdade de imprensa.
Não tiveram a coragem, o desassombro de
assumir em editoriais a opção feita, mesmo que a não disfarçassem, mesmo que
isso fosse refletido escandalosamente no tom reservado à cobertura de cada um
dos candidatos.
Fizemos um estudo criterioso, científico,
estatisticamente responsável sobre o comportamento da mídia paranaense nas
eleições estaduais. Os resultados todos conhecem, pois os divulgamos
amplamente.
Quando falamos em exclusão social e
econômica, quando falamos sobre as desigualdades, os desequilíbrios, os
privilégios nunca, ou quase nunca, fazemos referência ao monopólio da
informação.
Nunca mencionamos o domínio da mídia por
determinados interesses e, por conseqüência, o afastamento de suas páginas, de
seu vídeo e áudio dos interesses dos dominados, dos apartados, dos segregados,
dos discriminados, dos trabalhadores, do povo, enfim.
Que liberdade de imprensa é esta que acolhe
sempre a voz dominante, a voz do mercado, dos poderosos? Que liberdade de
imprensa é esta que restringe o acesso do povo e de suas manifestações? Que
trata e maltrata os trabalhadores, quase sempre com desdém, com o corte da visão
de classe senhorial?
Que liberdade de imprensa é essa que,
quando critica, quando acusa, mesmo que distorcendo os fatos, concede à parte
ofendida, quando muito, uma misericordiosa meia linha, para que "o outro lado"
se manifeste? É o acepipe cinicamente ofertado antes da execução.Não tenhamos
ilusões, não sejamos ingênuos, não esperemos muito da grande mídia. Ela tem um
lado, nós é que não aprendemos isso ainda e ficamos insistindo em um diálogo de
surdos.
Hoje, apenas seis redes privadas controlam
667 veículos - emissoras de TV, de rádio e jornais diários - atingindo 87 por
cento dos domicílios, em 98 por cento dos municípios
brasileiros.
Há ainda quem ouse dizer que isso não é o
monopólio da informação, que isso não é o controle da opinião pública, que isso
não é uma verdadeira ditadura do pensamento dominante?
É salutar que finalmente o poder da grande
mídia comece a ser colocado em xeque e a sua credibilidade como agente formador
da opinião pública seja questionada.
Mas que comunicação
queremos?
Queremos uma comunicação de interesse
público. Que estimule o debate. Que tenha compromisso com a formação, a educação
e a construção da cidadania.
Que democratize e produza instrumentos de
socialização da informação. Que crie, utilize e valorize espaços de mídia
alternativos, como as rádios comunitárias, a internet, os eventos
públicos.
Queremos uma comunicação que resista à
hegemonia dos meios de comunicação de massa e crie referências críticas ao que
eles veiculam, que não engulam tudo que os jornais nacionais, que as novelas
buscam empurrar goela abaixo do povo.
Queremos uma comunicação que busque o
envolvimento da sociedade e estimule a sua participação. Queremos uma
comunicação de mão dupla, que interaja, que comunique a diversidade de opiniões.
Queremos uma comunicação que favoreça a inclusão do maior número de cidadãos no
debate político.
Nós queremos, enfim, uma comunicação
popular, onde mil flores desabrochem e mil correntes de pensamento se
rivalizem.
Paranaenses estes são os meus compromissos.
E diante de minha mulher Maristela, dos meus filhos Maurício e Roberta, do
Ricardo, renovo-os.
Incluam-me em suas orações, peçam a Deus
por mim, para que Ele me ilumine e me faça forte, firme e corajoso na defesa dos
interesses do nosso povo.
Ao trabalho, que temos mais quatro anos
para consolidar as transformações que iniciamos e dizer ao Brasil que o caminho
do Paraná é o caminho da libertação, da independência, da altivez, do
compromisso com os interesses nacionais e populares.
Afinal temos um lado. O lado da solidariedade, da generosidade. O lado do povo. O lado esquerdo do peito.