SALA DE AULA: DIA A DIA NA UNIVERSIDADE


  • A coluna propõe reflexões sobre o dia a dia na universidade e na sala de aula, desafios do início na carreira docente etc. A inspiração advém de conversas com colegas e algumas leituras, sobretudo, das obras "Pedagogia da Autonomia" e "Pedagogia do Oprimido" de Paulo Freire e "Conversas com um jovem professor" de Leandro Karnal.

PROVA ESCRITA EM CONCURSO PÚBLICO: VIVÊNCIAS E DICAS

Esse texto tem como objetivo apresentar reflexões e dicas sobre a prova escrita a partir das vivências em concursos.

A prova escrita em Concurso Público para a carreira do Magistério Superior em instituições de ensino costuma ser a fase mais temida dos candidatos, afinal é a primeira etapa. Na maioria das seleções esta fase é eliminatória. Existem algumas seleções, no entanto, que definem todas as fases como classificatória.

Por um lado, a seleção que determina a prova escrita como eliminatória reduz o número de candidatos para as próximas fases, mas por outro lado inviabiliza que os candidatos participem das demais fases. Qual é o mais correto ou justo? Acredito que não haja um consenso sobre isso na academia. Já presenciei as duas modalidades em três seleções e confesso que todas têm seus prós e contras.

Eliminatória ou classificatória, a prova escrita determina muito a colocação final do candidato. O medo dos candidatos (meu também) é não ser aprovado na prova escrita, assim, busca-se realizar uma excelente prova. Mas afinal, o que é a prova escrita e o que se espera nessa fase?

Bom, inicialmente, o candidato deve ler atentamente o edital do concurso e verificar as instruções e exigências sobre a prova escrita. Geralmente, os editais apresentam um padrão quanto aos critérios de avaliação, dentre eles: forma (introdução, desenvolvimento e conclusão); conteúdo e desenvolvimento do tema (organização, coerência, clareza de ideias, extensão); linguagem (uso adequado da terminologia própria ou técnica, propriedade, clareza, precisão e correção gramatical, atualização e profundidade).

Quanto à forma: dê ao texto a mesma lógica que se dá a um artigo científico ou ao planejamento de uma aula, explicite na introdução sobre o que o texto versará e qual é o objetivo do texto, atentando-se sempre ao ponto sorteado. Contextualize e direcione o leitor (a banca) para o desenvolvimento das ideias e conceitos e, também, para finalização do texto. Lembre-se de amarrar a discussão e explicitar verbalmente que o texto está se encaminhando para finalização. Como? Utilize recursos da escrita acadêmica, dentre eles: a partir do exposto, considera-se que... conclui-se que...

Quanto ao conteúdo e desenvolvimento do tema: construa o texto de forma que a banca identifique seu domínio e capacidade de relacionar o ponto com a área do concurso. Neste item explore os conceitos, características, funções, objetivos e importância daquele ponto. Sempre que possível indique exemplos: você pode elaborar mapas mentais, fluxos, colunas, quadros, fórmulas, equações, conforme a necessidade e viabilidade do tema do ponto, é claro.

Quanto a linguagem: procure utilizar a mesma linguagem usada para escrever um texto acadêmico, recomendo o uso do impessoal. Utilize termos técnicos se for o caso, para demonstrar ainda mais domínio e conhecimento sobre o ponto.

Geralmente, existem dois modelos de prova escrita: um, e o mais adotado, trata-se de um texto dissertativo sobre o ponto sorteado; e outro, menos comum, trata-se de uma prova com roteiro ou questões estabelecidas sobre o ponto.

Identificar a prova? Não fazer identificação com nome, geralmente indica-se o código de inscrição apenas.

Colocar título? Geralmente, aprendemos que todo texto tem título. Sugiro que você formule um título direto e que contemple o ponto.

Quanto escrever? Existem seleções que limitam a prova escrita à uma ou duas folhas de papel almaço e outras deixam livre, ficando a critério do candidato o número de folhas a ser utilizado. Lembre-se de enumerar as folhas no canto superior direito (pode ser que as folhas do almaço se soltem ou que as dobras fiquem invertidas) e identifique todas elas com o seu número de inscrição.

Outra dica é: menos é mais. Nem sempre uma prova de 10 páginas será melhor avaliada que uma prova de 4 ou 6 páginas.

Fazer citação/referência? Essa é sempre uma dúvida que acompanha os candidatos e que também não há como saber se a banca vai ou não pontuar essa menção. Existem alguns editais que explicitam que serão exigidos domínio e conhecimento do referencial teórico do ponto, isto é, conhecimento dos principais autores do ponto e conceitos basilares. Em alguns casos, dependendo do domínio e experiência do candidato com o tema, é possível indicar ao final da prova elementos de uma quase referência, como nome do autor, título e ano, por exemplo. Porém, ressalto que esse comportamento ainda gera polêmica entre bancas e candidatos, não havendo consenso sobre tal. Caso tenha condições de fazer menção a um autor ou obra que são clássicas e basilares, faça. Caso contrário, não há necessidade de decorar elementos para indicar a referência ao final da prova escrita. Basta que você demonstre na redação o domínio dos conceitos e ao mesmo tempo evidencie a origem de tais conceitos, isso é, sua autoria. Mesmo sendo uma prova escrita, na minha visão é incorreto se apropriar de conceitos e não explicitar sua autoria.

Evite citar a própria banca, pois não sabemos como isso pode soar na avaliação. Se for extremamente necessário, procure fazer uma menção indireta ao grupo de pesquisa ou instituição que o autor (membro da banca) está vinculado.

Evite também fazer autocitação, mesmo que o ponto seja sobre o seu tema de pesquisa, não demonstre presunção. Existem outros autores que podem ser mencionados.

Fazer rascunho? Isso dependerá muito do perfil e experiência de cada candidato e também do tempo que se levará para realizar a prova escrita (geralmente, o tempo de duração é de 4 ou 5 horas). Se optar por não fazer o rascunho, atente apenas para não cometer muitas rasuras e para manter a linearidade do texto (introdução, desenvolvimento e conclusão). Além disso, pode ser que a seleção/banca não disponibilize papel para rascunho, cabendo ao candidato se organizar com as folhas que tem para tanto fazer suas anotações, estrutura do texto, ideais, conceitos etc. quanto redigir o texto definitivo à caneta.

Pode rasurar? Desde que seja um simples traço sobre a palavra ou trecho não há problemas, mas não cometa em excesso.

Pode sair da sala? Se não houver nada explicitado no edital em relação a isso, consulte a banca no dia da prova. No entanto, há também uma discussão quanto a saída dos candidatos para ir ao banheiro, visto que não há fiscal assim como nos vestibulares e outros tipos de concurso. Então, se hidrate durante a prova mas não a ponto de precisar sair da sala muitas vezes. Afinal, não sabemos o que a banca ou os próprios candidatos podem interpretar das suas inúmeras idas ao banheiro.

Há consulta antes do início da prova? Existem as seleções que sim e as que não. As que preveem consulta, explicitam a forma, o tempo e os recursos autorizados em edital. O tempo de consulta pode ser de uma ou duas horas. Então, verifique o edital ou consulte a organização do concurso. Geralmente, a consulta é autorizada somente a materiais bibliográficos impressos e próprias anotações do candidato. Poucas são as seleções que fazem o sorteio do ponto da prova escrita 24h antes da prova em si.

Para finalizar, leia a prova do início ao fim e verifique se o texto foi conduzido para um fechamento com suas reflexões e apontamentos sobre o ponto. Caso não e se houver tempo e espaço na folha, elabore mais um ou dois parágrafos finalizando sua prova escrita.

Tem leitura coletiva? Há os casos que sim e que não. Geralmente, quando há, essa leitura é feita em sessão pública na presença de todos os candidatos (sendo a presença obrigatória e sua ausência implica em eliminação) após uma ou duas horas do término da prova. A leitura geralmente é gravada (voz e/ou imagem).

Dicas:

- Comece a estudar os pontos/temas que possui menos afinidade ou domínio;

- Esboce alguns textos, ideias, para você criar uma linha de raciocínio sobre o que irá escrever no dia da prova;

- Cronometre quanto tempo você leva mais ou menos para escrever uma redação (com ou sem rascunho, por exemplo);

- Foque no ponto sorteado e não fuja do tema;

- Evite repetições e não seja prolixo;

- Capriche na letra, afinal a banca precisa compreender o texto;

- Estruture logicamente o texto, faça uso de recuo de parágrafo na primeira linha e evite parágrafos muito longos.

Essas são algumas reflexões que venho fazendo a partir das vivências em concursos públicos. Bons estudos e boa prova escrita!

Ref.: out. 2021


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JOÃO ARLINDO DOS SANTOS NETO

Professor Colaborador do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Estadual de Londrina (UEL) desde 2013. Doutor e Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Estadual Paulista e Bacharel em Biblioteconomia pela UEL.