ALÉM DAS BIBLIOTECAS


ENTRE AUTORIA E PLÁGIO: JOGOS E DESCOBERTAS DELICIOSAS INCLUINDO A REMIXAGEM

Dentre as palavras que mais nos afetam no cotidiano – mudança – com suas múltiplas variações, ocupa lugar de destaque. Há, inclusive, interessantes jogos entre gerações quando se mensura a distância que se impõe entre uma e outra linhagem por mais que os velhos corram atrás das inovações. Transformações afetam ritmos musicais, linguagens, posturas, gestos, vestuários, enfim, qualquer segmento comportamental, sem contar os avanços nos rumos da educação, incluindo alguns de maior dificuldade de assimilação, como as diretrizes em discussão para inclusão da diversidade sexual na formação dos educadores em nome de um Estado laico. As mutações advindas da ciência e da tecnologia com suas garras que alcançam com força total todos os segmentos da vida cotidiana do homem contemporâneo – que, às vezes, nem as percebe –, também são imensas e irreversíveis.

 

Dentre a imensidão dos elementos afetados estão a doce escrita e a deliciosa leitura. Da mesma forma que ainda mais ou menos nos anos 30 do século XX, a coautoria passou a marcar presença na comunidade científica e acadêmica, desde sempre ou desde muito, a palavra – plágio – passou a ser preocupação de escritores de diferentes estirpes, incluindo a literária. De início, os pequenos, com sua inocência natural, aliada ao despreparo de alguns educadores foram estimulados a consultar almanaques, enciclopédias e dicionários volumosos, sob o pretexto de “pesquisar” para as primeiras séries. Poucos eram instruídos de como usar o material de referência para ir adiante e explorar suas próprias ideias e trazer à tona suas próprias inferências. O esclarecimento do uso das aspas... A diferença entre citação literal e paráfrase e, sobretudo, a justificativa para partimos sempre de noções preconcebidas – não há 100% de ideia original – para analisá-las, apontar seus pontos fortes, suas aparentes fragilidades, extrair seus pontos inéditos e impor facetas originais. Impor e investir na capacidade criadora e na inventividade...

 

Como resultado, os pequeninos estão, hoje, completamente envolvidos no mundo dos inventos tecnológicos que afetam, e muito, leitura e produção textual. Agora, frequentam, com orgulho, as instituições de ensino superior e prosseguem a realizar os célebres trabalhos de equipe em que, quase sempre, um ou dois assumem o encargo de compilação e / ou “colcha de retalhos”, e muitos outros assinam, salvo honrosas exceções. As cópias prosseguem. Alguns educadores e cidadãos menos astutos culpam as redes eletrônicas de informação e de comunicação, ênfase para a internet, por suas imensas facilidades (que sempre existiram sob outros véus), como se fora ela a grande vilã pela falta de caráter dos indivíduos.

 

Para noção mais precisa, na atualidade, há um número quase incalculável de artigos, capítulos de livros, livros, dissertações e teses que se dedicam a discutir o plágio em sua amplitude – o Google, em termos brutos, sem seleção acurada, fornece incríveis 1.120.000 referências sobre o assunto, julho 2015. Incrível! No entanto, entre os limites extremos – cópia autêntica e plágio – há uma série de jogos e descobertas deliciosas incluindo pastiche, remixagem, cópia literal, citação literal, citação indireta (quando se recorre ao controvertido apud), paráfrase, intertextualidade, imitação criativa e outros termos. E a pergunta reincidente que ocupa destaque em eventos técnico-científicos relaciona-se à posição de orientadores e coorientadores em sua condição (ou não) de autores centrais ou secundários. Não há resposta consensual. E sobre a ordenação sequencial dos autores: que critérios devem ser adotados – nível de envolvimento (como mensurar?); titulação (é justo?). Idem, sem resposta única. O autoplágio é ético? Idem...

 

E o que dizer do uso criativo e divertido do espaço virtual para obras literárias como criações coletivas, que oportunizam a quem quiser acrescer, suprimir, mudar parágrafos, etc. etc. até que os autores se deem por satisfeitos com textos extremamente ricos ou inesperados ou risonhos. De forma similar, também desperta atenção a expressão disseminada pelo cientista da informação Aldo de Albuquerque Barreto, Rio do Rio de Janeiro. Trata-se de remixing. Em síntese, é a recombinação de artefatos previamente existentes visando à criatividade social no espaço virtual. Para Barreto, os adeptos da cultura remix veem suas produções como ecossistemas novos e criativos, ou seja, apesar de existir um fluxo constante de mídia compartilhada livremente na web, tão somente certa porção dos trabalhos originais é remixada, de tal forma que mesmo sem ser diferente dos originais, tal parcela é construída a partir delas. A pergunta fica no ar: plágio e / ou remixagem? Vale a pena conferir (http://aldobarreto.wordpress.com/2013/05/24/a-remixagem-e-uma-criatividade-social-online)! É fantástico!


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MARIA DAS GRAÇAS TARGINO

Vivo em Teresina, mas nasci em João Pessoa num dia que se faz longínquo: 20 de abril de 1948. Bibliotecária, docente, pesquisadora, jornalista, tenho muitas e muitas paixões: ler, escrever, ministrar aulas, fazer tapeçaria, caminhar e viajar. Caminhar e viajar me dão a dimensão de que não se pode parar enquanto ainda há vida! Mas há outras paixões: meus filhos, meus netos, meus poucos mas verdadeiros amigos. Ao longo da vida, fui feliz e infeliz. Sorri e chorei. Mas, sobretudo, vivi. Afinal, estou sempre lendo ou escrevendo alguma coisa. São nas palavras que escrevo que encontro a coragem para enfrentar as minhas inquietudes e os meus sonhos...Meus dois últimos livros de crônica: “Palavra de honra: palavra de graça”; “Ideias em retalhos: sem rodeios nem atalhos.”