ALÉM DAS BIBLIOTECAS


PLAGIANDO LYA LUFT: RIO DE LAMA, RIO DE LÁGRIMAS

Alguns dias de trégua. Trégua aparente, dissimulada, astuciosa e / ou ardilosa. Nunca sabemos o que está por vir, quando virá e aonde virá. Todos nós que vivemos na dita sociedade da informação, sabemos que o terrorismo chegou a galope e chegou para ficar. Seu fim e o reencontro com a paz ou a quietude é o devaneio de todos. É um sonho acalentado e comparável a mil outros. É a ilusão da menininha ninando a boneca imaginária da publicidade da TV. É a esperança da viúva de marido vivo que sumiu numa esquina de subúrbio com a mulher do casal “mais amigo” da família. É o sonho da adolescente em ser estrela da TV Globo. É o sorriso escancarado do cidadão comum que dorme sonhando com o prêmio milionário da loteria. É a doméstica que se vê como madame para exercitar o comando.  E assim sucessivamente...

 

O terrorismo ingressou sorrateiramente e de forma maquiavelicamente arquitetada no cotidiano do ser humano. Traz consigo tão somente sentimentos nefastos, a exemplo do medo (em diferentes modalidades e facetas), da incerteza do amanhã, da perplexidade, da violência em si mesma. São emoções que acarretam consequências físicas cruéis, como o agravamento de enfermidades da contemporaneidade, como depressão, estresse, insônia, doença do pânico, TOC [transtorno obsessivo compulsivo], dentre outras.

 

Além de se apoderar do corpo humano, a expansão da violência e do terrorismo, em particular, tece em nossos corações uma teia nefasta e lúgubre. De tão intensa, enterra a esperança que alimenta a alegria de viver. Tal como aquelas teias de aranha que tomam conta de casarões abandonados, com fios que, de tão finos, são quase imperceptíveis até formarem uma rede poderosa que permite às aranhas sobreviverem à custa da captura de insetos necessários à sua alimentação, o terrorismo, como teia de desesperança, leva embora sorrisos e expectativas de dias melhores.  Dias melhores não apenas para o meio ambiente e os cuidados climáticos (haja vista a Cúpula do Clima de Paris, a COP21, ocorrida no dia 30 de novembro último), como também para o combate à fome e à desnutrição e tantas outras questões universais de cunho social, econômico, tecnológico e jurídico. Dias melhores, sim, no que diz respeito ao quesito paz no coração dos homens.

 

Mesmo assim, ao tempo em que as mídias nacional e internacional arrefecem um pouco o noticiário sobre o terrível 13 de novembro em Paris, críticas, cada vez mais frequentes, espocam na imprensa brasileira. Traçam paralelo, no caso de Lya Luft (revista Veja, ed. 25 nov. 2015), de forma sutil, entre a vigília dos brasileiros diante dos parisienses enlutados e a esperada vigília da autora ante a morte do Rio Doce. O primeiro fato – a dor de Paris – causa perplexidade e paralisa a humanidade. O segundo – a dor de Mariana e adjacências – horroriza e envergonha a todos nós, brasileiros ou não. Mas não são fatos comparáveis entre si. O desastre brutal que assola nosso rio e nossa gente tem agentes com feições definidas. Possivelmente, relapsos, irresponsáveis e gananciosos, mas, decerto, sem a intenção explícita de causar dano de tamanha dimensão, não por bondade, mas porque os efeitos de catástrofe de tal proporção trariam (e trouxeram), inevitavelmente, sérias consequências para seu patrimônio. Enquanto isso, o terrorismo é indefinível. É o caos. É a barbárie absoluta. É a desumanização do humano. É a impotência de nações até então potentes e poderosas!


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MARIA DAS GRAÇAS TARGINO

Vivo em Teresina, mas nasci em João Pessoa num dia que se faz longínquo: 20 de abril de 1948. Bibliotecária, docente, pesquisadora, jornalista, tenho muitas e muitas paixões: ler, escrever, ministrar aulas, fazer tapeçaria, caminhar e viajar. Caminhar e viajar me dão a dimensão de que não se pode parar enquanto ainda há vida! Mas há outras paixões: meus filhos, meus netos, meus poucos mas verdadeiros amigos. Ao longo da vida, fui feliz e infeliz. Sorri e chorei. Mas, sobretudo, vivi. Afinal, estou sempre lendo ou escrevendo alguma coisa. São nas palavras que escrevo que encontro a coragem para enfrentar as minhas inquietudes e os meus sonhos...Meus dois últimos livros de crônica: “Palavra de honra: palavra de graça”; “Ideias em retalhos: sem rodeios nem atalhos.”