A HORA E A VEZ DAS MEDIATECAS
Elis Monteiro
Bibliotecas nos EUA atraem mais pelos PCs do que pelos livros. E no Brasil, como está o cenário?
Salas enormes, estantes repletas de livros, leitores vorazes em busca de cultura sob a forma de obras de papel. O cenário romântico não é mais realidade para a maioria dos americanos, é o que provou uma pesquisa publicada recentemente pela Pew Internet & American Life Project. Segundo dados levantados pela consultoria, mais da metade dos americanos visitaram uma biblioteca em
O fenômeno se dá pelo surgimento, diz ainda a Pew, de uma nova geração, a “Y”, formada por jovens de
É que, na terra do Tio Sam, as bibliotecas há tempos deixaram de ser o que o presidente da
No Brasil, relação livraria/habitante é baixa
Os EUA ainda estão anosluz à frente do Brasil no que diz respeito ao tamanho do mercado editorial. O Brasil tem, hoje, 2.767 livrarias, numa proporção de 70 mil leitores para cada livraria; nos EUA, esta relação é de 15 mil habitantes por livraria.
O índice americano é o melhor do mundo.
- Segundo a Unesco, o ideal é uma relação de dez mil habitantes por livraria - diz Muniz Sodré.Há números ainda piores: em 2006, o Brasil editou 22 mil livros; os EUA, nada menos que 500 mil títulos.
- Temos um problema de livrarias e de escoamento de livros. Em 2007, foram comercializados no Brasil 310 milhões de livros; destes, 185 milhões foram comprados pelo governo. Ou seja, aqui não basta informatizar as bibliotecas, você tem que criar uma cultura livresca. E esta expansão é dificultada pelos meios audiovisuais, como a TV, o computador e a internet - diz Muniz. - O livro perdeu a centralização simbólica, não é mais o único veículo transmissor de cultura.
Biblioteca Nacional já faz parte de projeto mundial
Mas engana-se quem acha que o presidente da
Para Muniz, todas as novas formas de leitura são “plurais e válidas”. O entusiasmo com a exploração de novas tecnologias como a internet e com a criação de “mediatecas” é tanto que a Fundação foi uma das primeiras a aderir ao projeto Biblioteca Digital Mundial, capitaneado pela Biblioteca do Congresso Americano e pela Unesco, e já enviou, para o banco de dados mundial, milhares de mapas e documentos raros da coleção da Biblioteca, dona de um acervo de 9,5 milhões de itens, dentre os quais dois milhões de livros.
A digitalização do acervo, principalmente de mapas raros, é a “menina dos olhos”. Ela é feita por técnicos da própria Fundação - que chegou a “dispensar” uma oferta feita pelo Google para realizar o trabalho.
- Não queria aquele monte de gente trabalhando aqui; podemos fazer por conta própria - diz o presidente da Fundação.
A intenção agora, diz Muniz, é “nacionalizar” uma biblioteca que não é apenas da cidade do Rio de Janeiro - como o próprio nome diz, ela é nacional. Ou seja, a idéia é usar a digitalização do acervo para levar as obras da Biblioteca a todos os cantões do país.
- Queremos incrementar ainda mais a digitalização porque uma biblioteca parada não passa de um estoque de livros. Dedicar-se só ao livro é ser reacionário - diz Muniz Sodré.
A nacionalização da Biblioteca, que é a oitava maior do mundo e primeira da América Latina, passa não só pela digitalização do acervo como também pela criação de novas bibliotecas
Outro projeto já em andamento é a Rede Memória Virtual, que reúne, na internet, no site da Biblioteca http://www.cbn.br, material digital de instituições públicas e privadas brasileiras. Atualmente, o projeto já reúne dez instituições. A intenção, diz Muniz Sodré, é aumentar a rede ainda mais.
A propósito: na edição da semana que vem, falaremos mais sobre o projeto de biblioteca virtual da Fundação e sobre outros projetos que já fazem o maior sucesso internet afora.