SINUCA DIGITAL
Paulo Pacini
Quando, em 1999, o neurobiólogo Joseph Miller pediu à Nasa acesso aos dados das missões Viking, que aterrissaram em Marte em 1976, sua solicitação foi prontamente atendida. As fitas magnéticas, corretamente armazenadas, foram localizadas e entregues. Infelizmente, delas não foi possível se extrair nada, pois o formato digital no qual a informação foi codificada já tinha sido esquecido, e seus criadores haviam falecido ou se aposentado. Graças a algumas anotações em folhas de papel, anexadas às fitas, depois de muito esforço foi possível recuperar um terço da informação. O episódio acendeu uma luz vermelha em todas instituições que trabalham com o armazenamento de informações digitais, acerca dos riscos que a evolução tecnológica pode ocasionar para o resgate futuro dos dados.
Um dos grupos mais preocupados com a conservação de seus arquivos é a indústria do cinema, e, para situar o problema, a Academy of Motion Picture Arts and Sciences (instituição que concede os Oscars) divulgou, em 2007, um estudo abrangente, no qual também são analisados casos de outros setores. Para os estúdios, a preservação dos filmes é uma questão de vida ou morte, pois um terço de sua renda provém de reprises, comercializadas para a TV ou em DVDs.
Em outros setores, a questão é igualmente grave.
A imprensa também lida com dificuldades relativas ao arquivamento de informações, especialmente de imagens, pois é prática corrente o descarte de material não utilizado, apagando-se a memória das máquinas.
Não existem mais negativos que possam ser utilizados no futuro,
Esses problemas, que pouca gente vê, são extremamente sérios. O único meio encontrado até o momento para se garantir o acesso futuro aos arquivos digitais é, antes de tudo, ter-se uma política de preservação da informação, e também um esquema de migração contínua para novos formatos, a ser feita a cada poucos anos, a um custo elevado.
A maioria dos países está se conscientizando das limitações da tecnologia atual com relação ao arquivamento a longo prazo, ao mesmo tempo em que buscam soluções. Será necessário um grande esforço das instituições governamentais e privadas brasileiras para que o costumeiro imediatismo e aversão ao planejamento não faça com que no futuro exista uma enorme lacuna em todo tipo de dados relativos ao período histórico que então será o nosso presente.
Paulo Pacini - Psicólogo e pesquisador