CONSELHO DE BIBLIOTECONOMIA ACIONA PRESIDÊNCIA CONTRA REDUÇÃO DE BIBLIOTECA PARA ACOMODAR MICHELLE BOLSONARO
Para instituição de Biblioteconomia, conservação do espaço constitui direito à informação e ao conhecimento
O Conselho Federal de Biblioteconomia (CFB) encaminhou ofício ao ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Jorge Oliveira, posicionando-se contrariamente à redução do espaço destinado à biblioteca localizada no Palácio do Planalto. O local dará lugar a um gabinete para primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e sua equipe do projeto Pátria Voluntária.
Localizada em um prédio anexo ao Palácio do Planalto, a biblioteca foi fundada durante a presidência de Wenceslau Brás (1914-1918), sendo transferida do Rio de Janeiro para Brasília com o restante do governo nos anos 1950. Ela abriga monografias, periódicos e normas inferiores (portarias, atos, circulares entre outros). Segundo o site da instituição, a biblioteca é especializada em Ciências Sociais, com ênfase em Direito. O catálogo, com mais de 42 mil itens, incluindo 3 mil discursos, pode ser consultado online.
Oficialmente intitulado Programa Nacional de Incentivo ao Voluntariado, a iniciativa conduzida pela primeira-dama foi fundada em julho com o objetivo de promover o trabalho voluntário no país. Segundo o jornal O Globo, que publicou a informação sobre a obra no sábado (15), esta é a segunda reforma feita pelo governo federal em prol do projeto de Michelle. Há sete meses, o governo já teria investido R$ 330 mil para reformar espaços no Ministério da Cidadania.
Conforme o CFB, a redução do espaço pela metade, que deixaria o acervo fechado e eliminaria os espaços de convivência, estudo e leitura, comprometeria o papel da biblioteca perante a sociedade. “A preservação do espaço, a manutenção dos serviços bibliotecários e a coleção de livros e documentos como preservação da memória nacional se constituem em direito à informação e ao conhecimento de todas as gerações dos brasileiros”, diz o documento, assinado pelos presidentes do CFB, Marcos Luiz Cavalcanti de Miranda, e do Conselho Regional de Biblioteconomia da 1ª Região, Fábio Lima Cordeiro.
Após a reação negativa à alteração, Jair Bolsonaro comentou o caso na saída do Palácio da Alvorada no sábado (15).
— Minha esposa faz um trabalho para as pessoas deficientes de graça. Arranjei um lugar para ela trabalhar lá na Presidência porque é melhor, fica mais perto dos ministros para despachar. E a biblioteca teve uma pequena diminuição — afirmou ao Globo. — Estão descendo a lenha porque a biblioteca vai diminuir. Em vez de elogiar a primeira-dama ficam criticando. Quem age dessa maneira merece uma outra banana.
Em seguida, o presidente finalizou sua fala com o gesto de uma banana. Nas redes sociais, muitos perfis repercutiram um vídeo em que os livros da biblioteca são vistos empilhados nos corredores do anexo, em razão das obras.
A Secretaria-Geral da Presidência emitiu uma nota, publicada pelo portal G1, em que defende as reformas e afirma que a instituição está em um processo de modernização.
Atualizada em 17/02/2020 - 20h28min