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SOBRE A COMUNICAÇÃO VIRTUAL E AS AMIZADES

Isso de pensar mais profundamente sobre caminhos que o mundo moderno nos força a trilhar não é fácil. Até venho colecionando algumas ideias sobre a comunicação virtual e as amizades, mas o difícil para mim é ordenar tais ideias de uma forma mais objetiva, antes que fujam, como certos sonhos bons ao acordarmos, até porque pensar objetivamente, em português, já é em si um ato heroico.

Aprendi a usar a Internet para enviar e receber trabalhos de revisão de texto, metiê a que me dedico com afinco e prazer desde o ano 2000. Daí a cair no poço sem fundo dos relacionamentos virtuais foi um pulo, mas ao fazê-lo entrei num mundo à parte, novo, para o qual não estava preparada (alguém estava?).

De fato, meio ingenuamente, acreditei que seria sobretudo uma forma de consolidar velhas amizades e fazer novas, de cultivá-las melhor, de conhecer as ideias e anseios dos meus velhos e novos amigos e conhecidos, e de fazê-los me conhecerem melhor. Enfim, achei que seria uma rica troca, em todos os sentidos. 

Desde logo aprendi que, na Internet, há leis próprias que se desenvolvem a partir de regras diferentes das que regiam a comunicação, antes cultivada pessoalmente, por telefone ou, mais antigamente, à base de longas cartas, bilhetes e similares. Estas, mal ou bem, eu as conhecia e aprendi a segui-las ao longo da vida. Agora, já me vi até perdendo para sempre algumas amizades. 

Uma das regras que vislumbrei e que me frustraram, é que quanto menos você escrever, melhor. Um "valeu", por exemplo, vale mais do que mil palavras, pois serve para tudo. Um simples "ok" ou o já consolidado "curti" também. Quase não dizem nada, mas emanam concordância; por isso mesmo não comprometem ninguém, e, de quebra, podem nos salvar dos outros e, mais importante, de nós mesmos. 

Aprendi que, para consolidar velhas amizades ou fazer novas, deve-se responder apenas a algumas mensagens - de preferência poucas, e sempre de forma breve e positiva, a menos que se queira ser considerado um "chato-mór virtual". Há também que se ter "feeling" para reconhecer como, quando, quanto e a quem responder. 

É vital não chatear os amigos ou conhecidos com reflexões de qualquer tipo. Além disso, certamente é bem arriscado expressar algo de negativo sobre uma mensagem. Se não gostamos, melhor é não dizer nada e esquecer. No máximo, nas redes sociais por exemplo, pode-se clicar ou digitar com cautela um "não curti", ainda que se arrisque a iniciar alguma polêmica. 

À primeira vista pode parecer democrática a comunicação virtual, mas bem que tem seu lado ditatorial, para quem não se contenta com pouco. 

As "críticas construtivas" também não costumam ser bem-vindas, porque soam frias e categóricas, muito diferentemente de quando escrevíamos longas missivas, e, mais ainda, de quando estamos diante do nosso interlocutor. Cara a cara, sempre se pode abrandar algo que soaria mais ferino; já via Internet... 

Às vezes há um saldo positivo, quando se consegue manter duas ou três preciosas amizades virtuais que, ó surpresa, também gostam de escrever longamente!

Em compensação, o costume de repassar qualquer coisa, só para passá-la adiante, infelizmente ainda não virou um pecado capital na Internet e, parece, jamais o será. É pena! 

Posso estar enganada, mas desde que começou este "abre-te sésamo" virtual, creio que a maioria das pessoas nunca parou para se fazer uma pergunta: Qual a importância dessas trocas de mensagens eletrônicas, no real cultivo das amizades? 

Os estudiosos das áreas da Comunicação têm analisado o tema, mas a grande massa de usuários desses serviços continua a usá-los freneticamente, sem parar para pensar. 

A meu ver, esse tipo avassalador de comunicação tem sido usado aos trancos e barrancos, e o aprendizado, quando existe, vem sendo feito por ensaio e erro. 

Sempre vale aprender com os erros, mas talvez seja uma pena que o cultivo das amizades esteja agora sujeito a outras normas. 

Saudades do tempo das trocas de cartas e de quando só se podia papear pessoalmente ou por telefone! Mas esses hábitos antigos se foram ou estão em franco desuso, pois a agilidade do contato virtual vence tudo, e a preguiça humana é um fato. 

A preguiça e a invenção da urgência!!!!

Autor: Marília Ludgero

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Seção Mantida por OSWALDO FRANCISCO DE ALMEIDA JÚNIOR

Professor associado do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Estadual de Londrina. Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UNESP/Marília. Doutor e Mestre em Ciência da Comunicação pela ECA/USP. Professor colaborador do Programa de Pós-Graduação da UFCA- Cariri - Mantenedor do Site.