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CONTANDO E RECONTANDO HISTÓRIAS

Quando as histórias são contadas com dignidade e veracidade, ajuda-se muito a criança a saber fazer o seu próprio caminho.

Desde a mais tenra idade, todo ser humano é ávido por querer saber o início de tudo, a origem das coisas. Fica vidrado quando escuta alguém contar a sua própria história. Quando criança, pede sempre mais, mais e mais. E volta a pedir inúmeras vezes que sejam repetidos os trechos que a pessoa considerou os mais emocionantes.

Não cansa de ouvir a narração dos fatos mais representativos da sua vida, como os rituais de passagem, que são os episódios marcantes tão necessários para a sua individualidade e integridade. Por que não dizer que esses seriam o seu referencial de orgulho ou de vergonha da sua descendência?

O brasileiro, em geral, com a sua pluralidade e diversidade, encontra nas histórias familiares verdadeiros contos de fada, novelas, dramas, sagas para contar à sua criançada.

Por quê? Por que meu avô veio estudar em São Paulo? Por que tenho olhos azuis? Cabelos loiros? Olhos negros e puxados para cima como chinês? E para baixo como japonês? E a minha irmã, por que é loira e de olhos claros? Cabelos encaracolados, pixaim? E cor negra, parda etc. etc.? Por que meu irmão nasceu com a mancha escura no bumbum? Por que o cabelo enroladinho e negro, e não branco como o meu? Por que tenho três avós?

Vemos nesse interesse e nessa curiosidade da criança pequena a necessidade de conhecer as histórias das raízes familiares e até mesmo de fazer as árvores genealógicas até a quinta geração e, se possível, do lado da família do pai e da mãe: tetravô/tetravó, bisavô/bisavó, avô/avó...

Até os sete anos de idade, a criança sai contando, à moda dela, a sua origem e fica conhecendo o porquê das diferenças e o porquê da religiosidade e das crenças da família. Depois dessa etapa, ela está preparada para aprofundar e entender os porquês das diferenças de cada grupo familiar.

Quando as histórias são contadas com dignidade e veracidade, ajuda-se muito a criança a saber fazer o seu próprio caminho. Sua auto-estima cresce e se fortalece ao saber de onde veio e quem é.

Tudo é importante: o ritual do casamento dos pais, o seu nascimento, o hospital, o primeiro banho, a chegada em casa, a primeira mamada, o batismo, a circuncisão, a apresentação ao terreiro ou a ida ao berçário, à creche ou ao maternal. A primeira chupeta, os paninhos e os bichinhos, "amuletos" que algumas crianças carregam pela vida afora.

As doenças infantis, mesmo amenizadas com as vacinas, são marcantes para as crianças, assim como a chegada de novos irmãos e até de primos. E o ritual da morte!? - episódio que faz parte do ciclo vital, que é o nascer, o viver, o morrer como todo ser vivo, e que hoje é tão negado, camuflado e escondido pelos adultos, que não sabem contar aos filhos sobre enfermidades, hospitais, cemitérios e enterros.

Mesmo com toda a modernidade do mundo atual, escutar sua própria história continua sendo uma necessidade pertinente às crianças. Cabe ao adulto contá-la e recontá-la!
Não sei qual será a necessidade das novas crianças de proveta, de mães de aluguel, de clonagens. Só o tempo nos mostrará! Mas, enquanto a longevidade nos favorecer, vamos nos empenhar em contar histórias e "causos"!

Texto de 2003

(THEREZA SOARES PAGANI ("Therezita") é educadora e diretora da Tearte, escola de educação infantil; e-mail: tepagani@uol.com.br)

Autor: Thereza Soares Pagani ("Therezita")
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Seção Mantida por OSWALDO FRANCISCO DE ALMEIDA JÚNIOR

Professor associado do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Estadual de Londrina. Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UNESP/Marília. Doutor e Mestre em Ciência da Comunicação pela ECA/USP. Professor colaborador do Programa de Pós-Graduação da UFCA- Cariri - Mantenedor do Site.