COMPETÊNCIA EM INFORMAÇÃO


COMPETÊNCIA EM INFORMAÇÃO: REFLEXÕES E REFERENCIAIS SOBRE O PONTO DE PARTIDA - PARTE 1

Os manifestos políticos sobre CoInfo 1 2 3 4 são unânimes em destacar o potencial educativo das bibliotecas na promoção dessa competência, visto que é por meio delas que os bibliotecários podem empregar e efetuar “[...] estratégias pedagógicas com o propósito de fomentar e facilitar a aprendizagem em informação para a produção de conhecimento, o exercício da cidadania, o empoderamento, a atualização profissional, dentre outros” 1.

De acordo com esses manifestos, o bibliotecário é o protagonista na viabilização das ações e estratégias formativas em CoInfo nas bibliotecas. Porém, antes de ofertar a CoInfo em uma biblioteca, é primordial que ele reflita sobre algumas questões: a biblioteca em que atua possui serviços, ações ou atividades que vão ao encontro dos princípios da CoInfo? Ele, enquanto bibliotecário(a)(e), tem competência em informação para prover as condições ideais de desenvolvê-la nos sujeitos da comunidade que atende?

As reflexões propostas convergem para uma autorreflexão do bibliotecário competente em informação e conferem a ele uma visão holística e integrada sobre as ações institucionais, gestoras, formativas, pessoais e interpessoais que permeiam o processo de mapeamento, implantação e desenvolvimento/aprimoramento da CoInfo em uma biblioteca. Este é o nosso ponto de partida.

O bibliotecário deve compreender a CoInfo de maneira transversal, em uma “espiral” que engloba esferas institucionais, pessoais e da comunidade que ele atende:

Figura 1 - CoInfo: o ponto de partida

 

 

Fonte: Elaborado pela autora

O bibliotecário deve ter um olhar global sobre as ações que antecedem, efetivamente, a implantação, o mapeamento e o desenvolvimento/aprimoramento da CoInfo para que as práticas formativas em informação sejam efetivas e significativas para os sujeitos.

Essa visão holística sobre como iniciar, arquitetar, desenvolver e integrar ações e estratégias formativas de CoInfo em uma biblioteca pode ser colocada em prática a partir da adoção de frameworks, que são quadros (marcos referenciais), “lentes” (recomendações) que permitem ao bibliotecário delinear atividades, planos e estratégias em uma transversalidade que abrange as esferas institucional, de ensino e de aprendizagem 5 6.

Os frameworks são constituídos de referenciais teórico-práticos sobre CoInfo e objetivam guiar as ações dos bibliotecários a partir das reflexões: “Como começar? – Esfera Institucional”, “Como desenvolver? – Esfera do Ensino” e “O que desenvolver? – Esfera da Aprendizagem”:

Figura 2 - Marcos referenciais de CoInfo: início para ações e estratégias formativas em uma biblioteca

 

 

Fonte: Santos (2020, p. 142)

Para cada framework há: i) Ideia central: contextualização de cenários, experiências e de conceitos em que a biblioteca está inserida; ii) Marcos gerais: conjunto de estratégias e disposições didáticas para a operacionalização da ideia central; iii) Linhas de ação: levam à aplicação, por meio de ações concretas e articuladas, dos marcos gerais.

A Parte 1, conforme mencionada no título deste texto, condiz ao Framework “Esfera Institucional”. Esse frame tem a função de fazer com que o bibliotecário compreenda o cenário, a globalidade, que a biblioteca está inserida. Ele também desempenha um papel diagnóstico e de mapeamento, visto que confere um olhar macro e transversal sobre as ações, estratégias e práticas de CoInfo contempladas ou não na missão, nos valores e nos serviços oferecidos pela biblioteca:

Figura 3 – Framework “Esfera Institucional”

 

 

Fonte: Baseado em Santos (2020)

Na “Ideia Central”, o contexto refere-se aos elementos que influenciam e balizam a prática do bibliotecário nas ações e estratégias formativas de CoInfo, como:

- Se a biblioteca está ligada a uma instituição educacional, organizacional, pública, privada ou de outra natureza;

-  Se a biblioteca atende um público variado ou específico;

- Todos os sujeitos e suas demandas e necessidades informacionais;

- Os elementos sociais, culturais, políticos, tecnológicos, econômicos, geográficos e históricos que permeiam a biblioteca;

- A cultura institucional da biblioteca.

O bibliotecário, nessa etapa, se reúne com sua equipe e com pesquisadores sobre a temática para identificarem os princípios da CoInfo. Aqui, o objetivo consiste em lançar um olhar crítico sobre as ações institucionais: como ele pode inserir a CoInfo em sua biblioteca de maneira que consiga desenvolvê-la, posteriormente, em seus usuários?

Os “Marcos Gerais” servem para o bibliotecário direcionar as atividades formativas de acordo com a necessidade informacional de seus usuários, ou seja, eles utilizam a informação para qual propósito? Acadêmico, social, político, tomada de decisão, empoderamento, exercício da cidadania, resolução de problemas etc.? Ter a percepção e a sensibilidade críticas de compreender para qual objetivo seu usuário utiliza a informação é determinante para que as ações, as estratégias, as atividades e os serviços em CoInfo sejam significativos e de valor pessoal para ele.

Nas “Linhas de Ação” coloca-se em prática os “Marcos Gerais”. É primordial, como já apontado anteriormente, que o bibliotecário, nesse primeiro momento, estabeleça parcerias com pesquisadores cuja trajetória está direcionada para os estudos sobre CoInfo. O pesquisador é um especialista que domina os aspectos teóricos e empíricos sobre a temática e oferecerá as condições ideais sobre o “estado da arte” da CoInfo em termos institucionais.

Destaco que todas as ações, as estratégias e os encaminhamentos que constam nos frames demandam tempo, planejamento, engajamento e colaboração de toda a equipe para que a CoInfo possa ser internalizada pelos bibliotecários e pela instituição.

As explanações aqui dissertadas não objetivam esgotar ou limitar as ações e estratégias formativas de CoInfo, pois elas são projetivas e podem/devem ser complementadas com a prática. O ideal é que se crie uma rede de compartilhamento de experiências entre bibliotecários e bibliotecas, a partir do uso dos frames, para que esse modelo seja aprimorado e útil ao mapeamento, implantação e desenvolvimento/aprimoramento da CoInfo no Brasil.

Em nosso próximo bate-papo, conversaremos sobre a competência em informação do bibliotecário com foco no “Framework do Ensino” – Parte 2.

REFERÊNCIAS

[1] FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE ASSOCIAÇÕES DE BIBLIOTECÁRIOS, CIENTISTAS DE INFORMAÇÃO E INSTITUIÇÕES. Manifesto de Florianópolis sobre competência em informação e as populações vulneráveis e minorias. 2013. Disponível em: http://febab.org.br/manifesto_florianopolis_portugues.pdf. Acesso em: 18 abr. 2021.

[2] FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE ASSOCIAÇÕES DE BIBLIOTECÁRIOS, CIENTISTAS DA INFORMAÇÃO E INSTITUIÇÕES. Declaração de Maceió sobre a competência em informação. 2011.  Disponível em: http://febab.org.br/declaracao_maceio.pdf. Acesso em: 18 abr. 2021.

[3] INTERNATIONAL FEDERATION OF LIBRARY ASSOCIATIONS AND INSTITUTIONS. Declaração de Alexandria sobre competência informacional e aprendizado ao longo da vida. 2005. Disponível em: https://www.ifla.org/files/assets/wsis/Documents/beaconinfsoc-pt.pdf. Acesso em: 18 abr. 2021.

[4] UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA; UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA; INSTITUTO BRASILEIRO DE INFORMAÇÃO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA. Carta de Marília sobre Competência em Informação. 2014. Disponível em:  Disponível em:  https://ofaj.com.br/textos_conteudo.php?cod=546. Acesso em: 18 abr. 2021.  

[5] SANTOS, Camila Araújo dos. O uso do framework para a implantação e o desenvolvimento da competência em informação (CoInfo) em bibliotecas. Revista Bibliomar, São Luís, v. 19, n. 2, p. 126-146, jul./dez. 2020. Disponível em: http://www.periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/bibliomar/article/view/15400. Acesso em: 16 abr. 2021.

[6] SANTOS, Camila Araújo dos. Competência em Informação na formação básica dos estudantes da educação profissional e tecnológica. 2017. 287 f. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) – Universidade Estadual Paulista, Marília, 2017. Disponível em: https://repositorio.unesp.br/handle/11449/150036. Acesso em: 15 abr. 2021.


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Setembro/2019



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CAMILA ARAÚJO DOS SANTOS

Doutora e Mestra pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Estadual Paulista(UNESP) - Campus de Marília. Graduada em Biblioteconomia pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) - Campus de Marília.