O primeiro texto da Descrição Bibliográfica Internacional Normalizada (ISBD), data de 1969, quando a IFLA Committee on Cataloguing patrocinou a Reunião Internacional de Especialistas em Catalogação (International Meeting of Cataloguing Experts – IMCE). O evento deliberou pela criação de uma norma para regularizar a forma e o conteúdo das descrições bibliográficas. O Comitê de Catalogação da IFLA desenvolveu o trabalho que resultou em um aumento considerável do compartilhamento e intercâmbio de dados bibliográficos: o “conceito das ISBDs”.

A primeira das ISBDs foi a ISBD(M) para monografias, em 1971. Em 1973, o documento havia sido adotado por várias bibliografias nacionais e traduzido do inglês para vários outros idiomas, impactando a reformulação de regras nacionais e multinacionais de descrição.

Em 1975, o Joint Steering Committee for Revision of the Anglo-American Cataloguing Rules – JSC, propôs ao Comitê de Catalogação da IFLA o desenvolvimento de uma descrição bibliográfica geral, para todos os materiais de biblioteca. Surge assim, a ISBD(G), em 1977.

O AACR2 assimilou, em sua parte I, a proposta da ISBD (G), conforme acordo entre a IFLA e o JSC. O Código passa a adotar a estrutura geral referente à ordem dos elementos e à sua pontuação. Na sua última atualização – AACR2r, alguns dos seus capítulos foram atualizados com edições da Normativa, como: o capítulo 12 (Recursos Contínuos), harmonizado com a ISBD(S); o capítulo 9 (Recursos Eletrônicos), alinhado com a ISBD (ER).

Notícias recentes, destacam que o ISBD Review Group encomendou ao grupo de trabalho: ISBD for Manifestation Task Force, em 2019, a missão de alinhar a edição consolidada da ISBD (atualização de 2021), com a entidade da Manifestação, do modelo IFLA LRM (Library Reference Model). O modelo pretende ser um guia para formulação de regras catalográficas e implementação de sistemas bibliográficos. O alinhamento, também envolveu o desenvolvimento de um conjunto de elementos com as especificações de atributos, descrição e relacionamentos.

O Grupo de Trabalho concluiu a primeira versão da ISBD para Manifestação (ISBDM), na forma de uma ferramenta online. Essa proposta encontra-se em fase de revisão preliminar, para seguir a uma etapa final: a revisão oficial mundial, planejada para ocorrer entre maio e julho de 2024.

Ressalte-se que a atualização da ISBD consolidada visou fornecer uma adequação do conteúdo da Norma às propostas da sua comunidade usuária. Também, procurou estender a sua cobertura para incluir uma variedade de recursos, além de otimizar a capacidade de descrição granular, proporcionando mais organização, refinamento e harmonização na descrição dos recursos publicados ou não, de qualquer tipo.

Ressalte-se, ainda, que a ISBD é um padrão de promoção do controle bibliográfico universal. Disponibiliza, em uma forma internacionalmente aceita, os dados bibliográficos de recursos informacionais. E, desde a sua criação, o objetivo foi fornecer consistência ao compartilhar informações bibliográficas.

Ela determina que os elementos de dados são registrados, obedecendo a uma sequência específica, como base da descrição aplicada. Além disso, emprega pontuação como meio de reconhecer e exibir elementos de dados, tornando-os compreensíveis independentemente do idioma da descrição.

Com a nova Declaração dos Princípios Internacionais de Catalogação, publicada pela IFLA, em 2009, em substituição aos Princípios de Paris, de 1961, em sua seção 5, dedicada à descrição bibliográfica, é ressaltado que os dados descritivos devem ser baseados em um padrão.

A ISBD é indicada como o padrão para a comunidade bibliotecária, pois a Declaração se destina não só às bibliotecas, mas também aos arquivos, museus e outras comunidades de informação.

Destaque-se que, um mapeamento da ISBD para o LRM já foi publicado, restando agora o alinhamento com o modelo. Esse objetivo implica dar à ISBD uma adequação compatível à visão do universo bibliográfico da LRM. Estabelecer nas futuras revisões da Norma, melhor compreensão das relações semânticas entre os elementos de dados, os atributos e as relações definidos no IFLA LRM.

A citada ferramenta online, é uma demonstração do potencial de conteúdo, layout e estilo da ISBDM, como um padrão de metadados para a entidade Manifestação.

No IFLA LRM, hierarquicamente, a entidade Manifestação é uma subclasse da entidade Res. Identificada no modelo como: LRM-E4 Manifestação. É uma das quatro entidades do Modelo, que representa aspectos distintos de um recurso de informação. As outras entidades de recursos são: Obra, Expressão e Item. A Manifestação é a entidade que dá materialização à Expressão da Obra. Nenhuma Expressão pode existir sem haver pelo menos uma Manifestação.

No LRM, a Manifestação é definida como um conjunto de suportes que compartilham características semelhantes do conteúdo intelectual ou artístico e da forma física. Uma manifestação é reconhecida pelas características comuns exibidas pelos itens resultantes de um mesmo processo de produção.

A produção pode ser planejada para ocorrer ao longo do tempo, como em uma impressão sob demanda. Pode envolver aspectos controlados diretamente pelo produtor, como a mídia de armazenamento específica, na qual um arquivo é baixado por diferentes usuários.

A Manifestação pode ser definida por suas propriedades e seus atributos específicos, que qualquer item pertencente a essa manifestação deve representar.

Os limites entre uma Manifestação e outra se baseiam no conteúdo intelectual ou artístico e na forma física. Quando o processo de produção envolve alterações na forma física, o produto resultante é considerado uma nova Manifestação.

De maneira aplicada, o grau em que as distinções entre as manifestações são registradas nos catálogos depende das necessidades dos usuários e das diferenças reconhecidas pelo bibliotecário de catalogação.

A ISBDM tem utilidade similar à ISBD consolidada, pelo foco de ambas na entidade Manifestação, com cobertura menor para as outras entidades do LRM.

A maior parte da informação registrada, em uma descrição realizada com a ISBD consolidada, pode ser registrada com a descrição pela ISBDM, embora numa estrutura diferente.

A ISBDM, portanto, fornece elementos para a descrição de uma Manifestação e suas relações com outras entidades. Os elementos são agrupados em quatro categorias:

1. Declarações: indicação dos elementos da Manifestação
2. Notas: elementos da nota da Manifestação
3. Atributos: elementos de atributos da Manifestação
4. Relacionamentos: elementos de relacionamento da Manifestação

1. Declaração de Manifestação: relaciona à Manifestação aos elementos que aparecem na mesma, para representar seus aspectos. Esses elementos fornecem suporte à tarefa do usuário de “identificar a manifestação”. Os tipos de elementos de indicação, são: edição; extensão; identificador e termos de disponibilidade; fascículo ou iteração; publicação, produção, fabricação ou distribuição; categoria; título e responsabilidade.

2. Notas: elemento que registra informações sobre a Manifestação fornecidas por uma agência de catalogação. Este elemento dá suporte à tarefa do usuário de identificar a Manifestação. O elemento inclui notas sobre: a Manifestação; categoria de Manifestação; entidade associada à Manifestação; Agente associado à Manifestação; Expressão associada à Manifestação; Item associado à Manifestação; Manifestação associada à Manifestação; Nomen associado à Manifestação; Local associado à Manifestação; Intervalo de tempo associado à Manifestação; Obra associado à Manifestação; indicação de Manifestação; indicação da categoria da Manifestação; indicação da edição da Manifestação; indicação da extensão da Manifestação; identificador e termos de disponibilidade da Manifestação; indicação do fascículo ou iteração da Manifestação; publicação, produção, fabricação ou distribuição da Manifestação; indicação de título e responsabilidade da Manifestação; característica física.

3. Atributos: elementos usados para registrar valores de sequência controlado ou não controlado fornecidos por uma agência de catalogação. Apresenta especificações gerais, como: registrar um atributo se útil para os usuários dos metadados. É válido se for um atributo real e que se saiba que existe ou existiu. O atributo contempla os seguintes elementos:

• categoria da manifestação: suporte; conteúdo incorporado; tipo de mídia.
• característica física: vínculos; formato de codificação; equalização; extensão.
• alinhamento de quadros
• layout de conteúdo incorporado
• processo de fabricação
• materiais: material aplicado; material base.
• redução de ruído
• velocidade de execução
• método de gravação
• codificação regional
• configuração de trilha
• estrutura unitária
• direitos de uso: público-alvo; termo de disponibilidade.

4. Relacionamentos: elementos usados para registrar um ponto de acesso, identificador ou o valor URI de uma entidade relacionada, fornecida pela agência de catalogação. Contempla os elementos de relacionamento para:

• Entidade Agente: definida no IFLA LRM como "Uma entidade capaz de ações deliberadas, de receber direitos e de ser responsabilizada por suas ações". Agente Coletivo é definido como “Uma reunião ou organização de pessoas com um nome específico e capazes de atuar como uma unidade”. Pessoa é uma entidade definida como “Um ser humano individual”.
• Entidades de um recurso:  Obra definida como “O conteúdo intelectual ou artístico de uma criação distinta”. A ISBDM contempla a Obra associada à manifestação. Expressão é definida como “Uma combinação distinta de sinais que transmitem conteúdo intelectual ou artístico”. A ISBDM contempla a Expressão associada à Manifestação. O Item é definido como “Um objeto ou objetos que carregam sinais destinados a transmitir conteúdo intelectual ou artístico”. A ISBDM contempla o Item associado à Manifestação, por: ter propriedade; Item reproduzido por Manifestação; Item que exemplifica a Manifestação. Uma Manifestação relacionada é uma Manifestação distinta. A ISBDM contempla a Manifestação associada, englobando Manifestação alternativa; Manifestação reproduzida por outra; Manifestação que reproduz também outra; se tem subunidade e super unidade.
• Entidades Lugar e Intervalo de tempo: lugar é definida como "Uma determinada extensão de espaço". Intervalo de tempo é definido como "Uma extensão temporal com início, fim e duração". As relações destas entidades contemplam: Lugar:  associado à manifestação; local de coleta; local de criação da manifestação; local de fabricação; local de produção; local de publicação; local de distribuição. Intervalo de tempo: associado à manifestação; data dos direitos autorais; data de criação; data de fabricação; data de produção; data de publicação; data de distribuição.
• Entidade Nomen: definida como "Uma associação entre uma entidade e uma designação que se refere a ela". Os elementos contemplam: Ponto de acesso da Manifestação: possui ponto de acesso autorizado; ponto de acesso variante. Identificador da Manifestação: tem número de catálogo; número da editora; designação cronológica; tem impressão digital; tem designação numérica; número de placa; localizador uniforme de recursos. Título da Manifestação: tem título próprio; tem título variante da Manifestação.

Cada categoria é diferenciada pelas fontes de informação para os valores do elemento, e pela utilidade destes valores para a recuperação de informação. Os elementos são organizados em uma hierarquia semântica dentro de uma categoria. A hierarquia reflete a granularidade das definições dos elementos e das notas de escopo.

Embora não detalhada, neste texto, é possível observar que a ISBDM acomoda, ainda que parcialmente, informações entidades do IFLA LRM, como: Obra, Expressão, Item, Agente, Agente Coletivo, Local, Intervalo de tempo e Nomen que estão associados na descrição da Manifestação.

No registro de livro, a seguir, pode-se visualizar um exemplo de aplicação da normativa:

Harry Potter and the goblet of fire (2000; Listening Library; audiocassette)

O exemplo descreve um conjunto de fitas cassetes que incorporam uma gravação de áudio de uma obra de ficção. Os cassetes estão contidos numa caixa. A Manifestação é publicada em múltiplas subunidades. A entidade não é um agregado. Ela corporifica uma obra estática. O idioma da catalogação é o inglês. A descrição elaborada, destina-se a uma aplicação de banco de dados relacional.

A ISBD representou importante passo no processo histórico da catalogação descritiva e denominado de processo de formalização. Este processo foi aperfeiçoado com a organização dos dados bibliográficos transformada em estrutura lógica e ordenada. Os elementos bibliográficos foram transformados em unidades informativas dentro de categorias homogêneas de dados. Agora, ganham nova concepção para o ambiente da web semântica e dos dados vinculados.

Observa-se que o legado catalográfico ganha um reforço com a expectativa de atualização e alinhamento da ISBD com os modelos conceituais e o cenário da web semântica e dados vinculados.