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COMENTÁRIOS SOBRE A MANUTENÇÃO DE RECURSOS TECNOLÓGICOS EXISTENTES NA BIBLIOTECA

Faço parte de uma geração de bibliotecários que acompanhou o advento dos microcomputadores nas bibliotecas, a geração CP/M - Programa de Controle para Microcomputadores (alguém se recorda). Na época, a maior preocupação era: não danificar os aparelhos, levar choque elétrico ou empenar os disquetes de 5 ¼, densidade simples com inimagináveis 175 Kbytes de armazenamento.

Orgulho foi quando a biblioteca, em que trabalhava, recebeu o seu próprio equipamento, um
Apple II, modelo Unitron. Alegria maior, foi evoluir para um IBM/PC xt (popular xtreco), com drive para disquete 5 ¼ , dupla densidade (350 Kb) e disco rígido de 10 Megabytes.

Era possível, agora, rodar o software do momento, o Dbase III para cadastrar artigos de revistas e livros e o WordStar para DOS (Sistema Operacional em Disco), na elaboração de bibliografias, listas de obras para permuta e ofícios administrativos. Como não havia mouse ou uma interface com menu amigável, a solução era decorar as diversas combinações de teclas para executar a manipulação dos programas no processamento dos dados (um exercício e tanto para a memória).

Na época, o cuidado principal era evitar a contaminação dos registros por um dos primeiros vírus de computadores, o "ping-pong" - uma bolinha passeando pela tela do monitor, apagando o texto do arquivo, comparado com os vírus atuais soa ridículo.

Estas recordações são para ilustrar as mudanças nas preocupações que hoje afligem a nós bibliotecários no trato dos recursos tecnológicos existentes na biblioteca. Atualmente, não sabemos o que é pior problema: falta de energia, quebra de equipamento, vírus de computador, equipe despreparada na lide da tecnologia e/ou usuários mal-intencionado ou inaptos no uso dos serviços e produtos baseados em recursos tecnológicos, entre outras questões.
O blecaute independe do controle da biblioteca, a não ser que possua geradores próprios. Já, questões relacionadas a quebras, vírus, capacitação, treinamento e controles envolvem adoção de procedimentos que não eliminando de imediato o problema ao menos amenizam suas conseqüências.

No caso da quebra de equipamento há uma variável interessante chamada paciência, ela começa a influir quando acionamos a assistência técnica, uma oportunidade de testamos os limites de nossa paciência, não técnica.

O treinamento da equipe é uma ação contínua a ser adotada, bem como, a avaliação do que foi aprendido e aplicado, embora sempre haverá aquele que por mais treinado não conseguirá interagir com a máquina, nem com suporte psicológico. Nestes casos o melhor será adequá-lo em outra função.

Em relação aos usuários, estes merecem um programa de orientação e treinamento no uso dos recursos oferecidos pela biblioteca. Com o advento das tecnologias como instrumento de acesso aos serviços e produtos de informação, compete às bibliotecas capacitarem seu público. Aos usuários mal-intencionados, cabe uma política rígida de advertência ou punição.

Recomendação importante aos gestores de biblioteca é o de destacarem alguém ou uma equipe de responsáveis pela manutenção dos recursos tecnológicos. Atualmente, é comum encontramos bibliotecários ou técnicos em biblioteconomia com a responsabilidade de dar suporte ao funcionamento dos equipamentos.

Não são necessariamente, especialistas em análise de sistemas ou técnicos de processamento de dados, mas pessoal que detém conceitos básicos de informática e sabem identificar ou prever problemas no funcionamento das máquinas e seus sistemas.

Aprendendo na rede
Hoje é possível encontrar, na Internet, informações sobre conceitos de informática e programas de educação à distância voltados para capacitação no uso de recursos computacionais. Exemplo, nesse sentido, é o site WebAula, onde é possível encontrar cursos gratuitos, bastando conectar-se, registrar-se e acessar as aulas desejadas. Há, também o E-cursos oferecendo cursos online pagos e gratuitos; outra fonte de leitura é procurar o site tutoriais de informática.

Limpeza dos equipamentos
Em relação à manutenção de computadores, há os defeitos ocasionados pelo acúmulo de sujeira que provocam aquecimentos nos componentes internos da máquina. Assim, é necessário verificar a situação dos equipamentos mensalmente, trimestralmente ou semestralmente, dependendo da biblioteca.

É recomendável a verificação do cooler (ventilador acoplado sobre o processador para seu resfriamento) e a saída de ar da fonte elétrica. O acúmulo de poeira pode causar travamento da máquina, não custando realizar limpeza interna, com a retirada da poeira por aspiração.

Da mesma forma, mouse e teclado merecem o mesmo cuidado. Aliás, deve-se evitar que o pessoal de limpeza (não preparado), faça até mesmo a limpeza externa dos equipamentos.

Causa horror, ver computadores sendo limpos com aqueles panos úmidos de limpeza, chamados "panombril" (mil e uma utilidades - do chão para as prateleiras, mesas, cadeiras, computadores e etc), ao invés de limparem, eles transferem apenas a poeira de lugar.

Ainda sobre teclado e mouse, recomenda-se limpar as peças cuidadosamente com álcool isopropílico (nunca álcool comum). No teclado pode-se usar um soprador para desalojar a poeira e, depois um aspirador pequeno para sugá-la.

Nas lojas de informática é possível encontrar material para finalidade de limpeza, além de outros kits para a limpeza específica dos drives de disquete, leitores e gravadores de CD e DVD. Os kits devem ser usados dentro dos prazos de validade, depois do qual o material se torna impróprio.

Instalação física
Preocupação com a manutenção das máquinas, diz respeito à instalação elétrica, principalmente se a biblioteca situa-se em região geográfica com muita ocorrência de chuvas, acompanhadas de raios ou variações bruscas de energia elétrica.

Nessas situações, o computador e outros equipamentos eletrônicos necessitam estar conectados a energia através de bons reguladores de voltagem. No caso dos raios elétricos, para se evitar danos, os filtros-de-linha, estabilizadores e no-breaks precisam estar equipados com dispositivos específicos para tais ocorrências. Sobre o tema vale leitura de matéria publicada no suplemento de informática do jornal "Estado de São Paulo". Porém, a maior garantia dos computadores da biblioteca não sofrerem dano algum durante uma tempestade é serem desligados e desconectados das tomadas.

Manutenção do Disco Rígido e Programas
Os computadores são utilizados para diversas finalidades da biblioteca, além de meio de acesso ao catálogo eletrônico. Conseqüentemente, os equipamentos são operados por uma grande quantidade de pessoas com interesses diversos de consulta. Com o uso constante, os arquivos armazenados no disco rígido acabam se fragmentando, podendo apresentar erros na coordenação dos fragmentos, provocando perda de dados ou de funcionamento dos programas. Para evitar a ocorrência é recomendado realizar, periodicamente, uma "faxina" que consiste em corrigir erros nos arquivos e programas e, depois, desfragmentá-los. O processo visa reorganizar arquivos e espaços não utilizados no disco rígido, para que os programas sejam executados com maior rapidez.

No Windows 98 e Me, use o ScanDisk e, depois, o Desfragmentador de Disco. Para executá-lo, clique no botão Iniciar -> Programas -> Acessórios -> Ferramentas do Sistema.

Em caso de dúvida, consulte a ajuda do Windows. Como a tarefa de desfragmentação é demorada, programe-a para o final do expediente de trabalho ou dispare-a manualmente, em horário ocioso na biblioteca.

Na mesma opção, Ferramentas do Sistema, há o recurso de limpeza de disco. Um utilitário que elimina do disco rígido arquivos temporários sem importância que ocupam espaços preciosos na mídia magnética e afetam a performance do computador. Estes arquivos se armazenam na:

· Pasta Temporary Internet Files, contém páginas da Web, que são armazenadas no disco rígido para exibição rápida. As configurações personalizadas para páginas da Web não são alteradas.
· Pasta Lixeira, contém arquivos excluídos do computador que só serão removidos permanentemente quando a pasta for esvaziada.
· Pasta TEMP, contém informações temporárias geradas por programas. Normalmente, antes do encerramento do programa, estas informações são excluídas.

Arquivos Indesejados
Outro problema, enfrentado pelas bibliotecas, refere-se aos seus computadores de acesso público para navegação a Internet. Os equipamentos, em conseqüência, acabam com os seus discos rígidos, entupidos de arquivos indesejados, como: cookies e outros programas do gênero ou plugins, muitas vezes acompanhados de vírus anexos.

Os cookies são pequenos arquivos de texto usados pelos sites para reconhecer os internautas quando do retorno à suas páginas eletrônicas. Aparentemente são inofensivos, mas podem ser criados para determinadas finalidades; rastrear o caminho percorrido pelo Internauta, mostrar propagandas ou janelas direcionadas para algum tipo de publicidade ou anúncio. Em certas situações sua eliminação pode impedir a abertura de alguns sites.

As bibliotecas que possuem o programa de navegação Internet Explorer - IE, podem bloquear os sites de terceiros e periodicamente apagar os demais gravados no disco dos seus computadores. Basta abrir o menu de ferramentas do IE, escolher opções da internet, aba Geral, onde se localiza o botão para essa finalidade de controle.

Para broquear as ações de terceiros, pode ser realizada no mesmo menu ferramentas, escolha a aba Privacidade, botão Avançado, onde poderá ser configurado o acesso dos cookies, garantindo que o programa de navegação só aceitará os pequenos arquivos dos sites que forem visitados.

Mas no processo de "navegar" pela rede, há outros perigos como programas que se instalam no computador enquanto se visita um Website; eles podem ser úteis e inofensivos (caso dos plugins do Flash, ShockWave e do Windows Update) ou servirem para espionar e monitorar a navegação do usuário (spyware), e mostrar anúncios personalizados ou publicidade irritante (Gator, Bonzi e Xupiter), chamados de programas parasitas (parasiteware).

Estes programas, além de vasculharem a máquina procurando informações pessoais, atuam no chamamento de certos sites automaticamente, assim que a navegação a Internet é iniciada. Normalmente, são endereços de páginas de jogos, de sexo ou páginas pessoais de cracker ou hacker.

Os parasitas provocam a abertura de janelas do programas de navegação para inúmeros sites não solicitados; deixam os computadores lentos e inserem como página padrão no carregamento do programa, página eletrônica de sua orientação.

Sua remoção manual não é simples, pois alguns podem se ramificar por diretórios do sistema operacional e arquivo de registros do sistema. Os programas parasitas introduzem-se no computador dentro de um pacote que inclui outros softwares distribuídos, gratuitamente, na Internet, ou baixado distraidamente pelo usuário quando da vista de algum site pouco ortodoxo. Um endereço a ser evitado pelas bibliotecas é o do Xupiter (http://www.xupiter.com), exemplo deste comentário. Bibliotecas contaminadas por programas desta empresa, podem colher informações no endereço (http://www.doxdesk.com/parasite/xupiter.html) ou utilizar o Spyboot.

Para controlar a infestação de cookies ou vírus como: spyware e parasiteware nos computadores da biblioteca, a profilaxia pode ser obtida na própria rede. Os programas mais populares são Ad-ware, e o Spyboot. Embora gratuitos, pesa contra o primeiro a falta de atualização e contra o segundo a não apresentação de uma interface intuitiva. A opção padrão do Spyboot apaga somente os arquivos criados por programas maliciosos ou mal-intencionados.

Conclusão
No inicio o computador era um equipamento misterioso, utilizado por experimentação. Os cuidados decorriam mais do medo de danificar do que o próprio uso das máquinas, de aplicação limitada.

Atualmente, a precaução passa a ser uma norma das bibliotecas diante da necessidade de lidar com a tecnologia como instrumento de desenvolvimento e implementação das atividades de informação. Bibliotecas hoje são dependentes destas ferramentas.

Se puder contar com pessoal capacitado ou uma equipe dedicada a atuar na política de gestão de recursos tecnológicos tanto melhor, caso contrário deve buscar alternativas para manter uma manutenção de seus sistemas evitar a continuidade dos seus serviços e produtos.

Logicamente, não se esgota aqui toda a problemática envolvida com a questão, mas abre-se oportunidade de enfoque sobre outros temas relacionados.

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RHUMOR BIBLIOTECÁRIO

Extraído de uma desaparecida obra-rara escrita pelo famosíssimo bibliotecário grego, o desconhecido Modestkus, a seguinte indagação ao oráculo:
Pergunta: O que tem em comum a Biblioteca e o Presídio?
Resposta: Em ambos, tudo que há dentro, está fichado.

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FERNANDO MODESTO

Bibliotecário e Mestre pela PUC-Campinas, Doutor em Comunicações pela ECA/USP e Professor do departamento de Biblioteconomia e Documentação da ECA/USP.