UM LONDRINENSE CHAMADO CIRCUITO
Não me pergunte e nem pergunte para a minha geração o nome dele, pois era conhecido apenas como "Circuito".
De vez em quando me lembro dele e isso me amplia um saudosismo da infância e o desejo de eternizar algumas pessoas.
Na verdade fico na expectativa e na esperança de que alguém escreva um livro a respeito dele. Quem sabe quando me aposentar!
Mas, eis que me encontro com um texto/carta (sim, encontrar um texto é mais do que ler um texto e ser surpreendido e se apaixonar por ele) publicado num jornal de minha cidade no dia 30 de junho de 2005, cujo título é "Circuito e a modernidade".
Fantástico! Fantástico! Preciso que alguém fale para o José Gaspar Novelli (autor do texto/carta) que seu texto é fantástico.
Apodero-me do texto de Novelli para explicar como era nosso mágico nissei fazedor de kirigami. "Circuito apresentava alguma disfunção neurológica que provocava sobressaltos e tremedeiras espasmódicas e regulares. Portanto, algo da 'perfeição mecânica' do mundo para ele não funcionava - poderiam ser válvulas, resistores, capacitadores". Com uma mala no ombro, de tempo em tempo, dava pequenos pulos como se estivesse tomando um choque.
Mas o que tem essa história com uma coluna que aborda a literatura infanto-juvenil? A minha resposta é: vou me utilizar do "Circuito" para defender (mais uma vez) a necessidade de preservação do "espaço de infância", da imaginação e do lúdico.
Para mim, "Circuito" era um LIVRO VIVO. Suas mãos ágeis e sua inseparável tesoura cortando papéis em formato de flores e crianças brincando de cirandinha. Seus animais que surgiam misteriosamente no ar como num passe de mágica encantava cada um de nós, mais do que isso, nos entorpecia.
"Circuito" era pura magia e mesmo aqueles que muitas vezes se sentiam incomodados - principalmente as mulheres que tinham as mãos beijadas por ele, sem a menor preocupação de secar os lábios molhados de saliva - não podem deixar de concordar com Novelli, quando ele afirma em sua carta: "Circuito faz falta. Por todo o encantamento de suas alegorias, por ser portador de sonhos que se realizam e por sua vida de mascate".
Torço para que novos personagens como "Circuito" invadam o nosso mundo, pois às crianças faltam espaços de liberdade para imaginar, indagar, inquietar e maravilhar-se.
E aos adultos? Bom, aos adultos falta a coragem de voltar a infância, mesmo que ela possa trazer alguma amargura.
Parafraseando Roberto Freire - "ame e dê vexame", peço: "sonhe e dê vexame".