ONLINE/OFFLINE


NO MEIO DO CAMINHO PARA A BIBLIOTECA DIGITAL TEM O GREENSTONE; TEM O GREENSTONE NO MEIO DO CAMINHO PARA A BIBLIOTECA DIGITAL

As tecnologias de informação têm mudado estruturas e modos de consulta das fontes de informação, tornando o procedimento mais acessível e atrativo sob formato digital. Neste cenário, os profissionais de informação têm uma importante atuação na produção e gestão de recursos digitais. Assim, softwares para a estruturação e organização e divulgação de conteúdos digitais tornam-se ferramentas valiosas, e as alternativas disponíveis no mercado um conhecimento tão necessário. Permitem a compreensão do que vem a ser uma biblioteca digital e os procedimentos para sua criação.

 

 

Da tradicional à digital: o termo "biblioteca"

 

O termo biblioteca digital adota a palavra biblioteca, porém, esta tem significado coisas diferentes para diferentes pessoas. Há aquelas que pensam a biblioteca como um espaço de tijolos e argamassa onde livros são depositados.

 

Para os bibliotecários, bibliotecas são organismos que atuam na coleção, organização, preservação e acesso do conhecimento. Não é um espaço determinado ou denominado somente para livros, mas composto de filmes, registros sonoros, objetos culturais, dentre outros materiais e espécies.

 

Os estudiosos e pesquisadores compreendem as bibliotecas como um sistema que fornece acesso ao conhecimento mundial registrado, sendo um ambiente de suporte às comunidades de especialistas e de leitores. Já, a sociedade em geral entende a biblioteca como uma web.

 

Nestes contextos, a biblioteca digital pode ser uma nova maneira de focar o acervo de conhecimento humano como processo de preservação, organização, difusão e acesso. Não trata de desconstruir o modelo tradicional existente ou de como colocá-lo em uma caixa eletrônica.

 

Saliente-se que existem várias definições para a biblioteca digital. Entretanto, podemos compreendê-la como sendo uma coleção de objetos ou recursos digitais, que inclui texto, vídeo e áudio, junto a componentes que permitem o acesso e a recuperação, além da seleção, organização e manutenção desta coleção.

 

Apesar da variedade de definições, observa-se a existência de um conjunto de elementos que, embora não consensuais, ao menos possibilitam compor um panorama de componentes que devem estar presentes na qualificação de um serviço de informação digital. Neste aspecto, os elementos básicos de uma arquitetura de serviço digital devem considerar os seguintes tópicos:

 

  • Coleção: envolve a criação e gestão dos recursos digitais locais ou distribuídos, independente de seu formato.

 

  • Serviço de valor agregado: o simples dispor do acesso não deve ser considerado um serviço. Isto seria todo o produto criado para valorar o conteúdo da coleção, adequado às necessidades e aos requisitos de seus usuários.

 

  • Personalização: possibilidade de o usuário estabelecer sua própria organização e seleção de elementos da coleção.

 

  • Ciclo da informação: a coleção digital tem algumas fases estruturadas em diversas etapas de construção, se comparado com os processos existentes em uma coleção tradicional baseada no suporte físico.

 

 

À luz deste enfoque, o fluxo de estruturação de uma biblioteca digital pode ser exemplificado na seguinte seqüência:

 

 

 

Conteúdo Digital (conteúdo interno e conteúdo externo)

 


Organização do Conteúdo (representação do conteúdo)

 

 

 

Metadados (descrição); Repositório de conteúdos; Conteúdos (armazenar, processar e preservar)

 

 

Consulta aos recursos (acompanhar acessos; monitorar uso; distribuição e interoperabilidade)

 

 

Usuários


Fonte: (Pandian; Sonker; Moorthy, 2003)

 

 

Ao compreender o significado do termo biblioteca digital e seu fluxo de estruturação, ainda resta considerar as suas vantagens, por mais óbvias que possam parecer. Algumas vantagens consistem em

 

  • Aproximação dos conteúdos aos seus usuários.
  • Consulta e acesso fácil ao texto completo se comparado com o ambiente impresso.
  • Compartilhamento de informação.
  • Atualização rápida dos conteúdos.
  • Disponibilidade de informação (não limitada pelo espaço e tempo).
  • Adesão de novos formatos digitais.
  • Estimulo à formação de redes humanas e de comunicação.
  • Interoperabilidade.
  • Baixo investimento.
  • Rapidez na comunicação científica e de pesquisa.

 

Outra abordagem encontrada na literatura, sobre a importância da biblioteca digital, destaca o aspecto crítico do conhecimento para o desenvolvimento das nações. Observa-se que entre os países em desenvolvimento, são pouco os que efetivamente participam desta chamada revolução da informação. É, justamente, na era da globalização que tem aumentado o abismo entre os que têm e os que não têm acesso e uso à informação e ao conhecimento. Em resumo, as tecnologias de informação aumentam ainda mais o abismo entre os que sabem e os que não sabem. Neste contexto, a biblioteca digital torna-se uma valiosa alternativa para diminuir este abismo, ao menos em quatro áreas:

 

  1. Disseminação de informação humanitária: as publicações impressas têm falhado na circulação de informação pelo seu alto custo. Enquanto uma biblioteca norte-americana, especializada em saúde, assina milhares de títulos de periódicos ou adquire outros milhares de livros, bibliotecas universitárias da mesma área em muitos países em desenvolvimento, mal conseguem assinar algumas dezenas de títulos ou sequer comprar uma dúzia de livros. Realidade encontrada até mesmo no Brasil. A biblioteca digital, pode assim distribuir o conhecimento produzido e torná-lo livremente acessível.

 

  1. Socorro em catástrofe: desastres naturais (terremotos, furacões, etc.), ações humanas (ataque terrorista e acidente nuclear) demandam respostas imediatas de informação em um ambiente com a infra-estrutura prejudicada. A biblioteca digital pode rapidamente ser criada e sua coleção organizada e tornada acessível para responder a natureza do desastre ou apoiar tomada de decisão relacionada ao cataclismo.

 

  1. Otimizar informações criadas localmente: propiciar uma estratégia efetiva de sustentação do desenvolvimento humano. Os Educadores, por exemplo, podem preparar material instrucional dirigido aos problemas das comunidades. As minorias sociais podem preservar e disseminar suas informações ou memórias.

 

  1. Acesso ao mercado global: alguns países em desenvolvimento têm que incumbir-se da tarefa de processamento da informação. O desenvolvimento da biblioteca digital pode auxiliar na organização e apresentação desta informação, podendo criar valor na formação de seu mercado exportador.

 

 

Software Greenstone

 

Ao pensar na necessidade e vantagem da biblioteca digital é importante, também, conhecer as opções de sistemas. Entre as alternativas existentes, encontra-se o Software Greenstone. Seu principal objetivo é o de incentivar universidades, bibliotecas e outras instituições a construírem as suas próprias bibliotecas digitais.

 

Na página eletrônica dos seus desenvolvedores, encontra-se em epígrafe que: “as bibliotecas digitais estão alterando radicalmente a maneira como a informação é disseminada e obtida pelas comunidades parceiras da Unesco e as instituições envolvidas com a educação, ciência e cultura ao redor do mundo e, particularmente, nos países em desenvolvimento. Espera-se que este software incentive o desenvolvimento das bibliotecas digitais para compartilhar informação e colocá-la em domínio público”.

 

Neste sentido, o Greenstone é um programa de código-fonte aberto, distribuído sob a licença Pública Geral do GNU (General Public License). É composto de um conjunto de rotinas e aplicações voltadas para a criação, construção e difusão de coleções digitais, oferecendo uma forma de organização e publicação de informações na Internet ou em mídias removíveis (CD-ROM/DVD). Foi desenvolvido pelo Departamento de Informática da Universidade de Waikato, Nova Zelândia, sendo distribuído em cooperação com a Unesco e a organização não governamental Human Info NGO. Insere-se como parte do programa informação para todos.  Algumas das suas características são:

 

  • Ampla acessibilidade: as coleções digitais são acessadas através de navegadores padrões da web.

 

  • Multiplataformas: os conteúdos digitais podem ser criados em sistemas operacionais Windows, Unix, Linus, SunOs e MacOs/X.

 

  • Utilização de metadados: faz uso do padrão Dublin Core.

 

  • Extensões: permite desenvolver rotinas de programação (plug-ins) para acomodar novos tipos de recursos e formatos digitais, ampliando a capacidade do sistema.

 

  • Vários idiomas: os documentos digitais podem estar em qualquer idioma. O programa utiliza padrão Unicode, o que permite processar qualquer conjunto de caracteres, convertido pelo navegador do usuário.

 

  • Grande volume: a base de dados pode conter milhões de documentos ou vários gigabytes de tamanho. Utiliza o recurso de compressão de dados, reduzindo o tamanho dos índices e dos textos, tornando a pesquisa mais rápida.

 

  • Protocolo de intercâmbio: compatibilidade com o protocolo Z39.50, suportado para conexão com servidores externos.

 

  • Flexibilidade de pesquisa: pesquisa registros por índices de autor, títulos, assuntos e datas, entre outros.

 

  • Multimídia: coleções podem conter imagens, música, áudio e vídeo.

 

  • Software de código aberto: possibilidade de incrementar modificações.

 

 

A aplicação do Greenstone em um projeto de construção de biblioteca digital envolve algumas etapas. Em síntese, consistem em:

 

  • Criar uma coleção: definir nome, descrever o seu conteúdo e identificar os responsáveis pela gestão.

 

  • Seleção de conteúdo: especificar os materiais a serem inseridos na coleção.

 

  • Configuração da coleção criada: determinar os parâmetros de tratamento, indexação e apresentação da coleção. Definir as interfaces de acesso ao usuário. O software oferece configuração padrão que pode ser modificada.

 

 

Todas as especificações para criação de uma coleção, no ambiente do sistema são configuráveis e modificáveis. Na elaboração de um projeto, segundo os parâmetros definidos, os conteúdos são importados, processados, convertidos ao formato XML e indexados. São também gerados os índices textuais e as estruturas de organização denominados classificadores. Tais instrumentos permitem realizar os processos de busca, localização e acesso às informações cadastradas.

 

 

Os metadados do Greenstone

 

Metadados é uma forma de estruturação e uso dos recursos eletrônicos dispostos na Internet. Genericamente, podemos definir o termo como um conjunto de elementos que possuem uma semântica padronizada que possibilita descrever recursos eletrônicos de maneira bibliográfica. Pode ser também entendido como o meio de descobrir quais os recursos existentes e como podem ser obtidos e acessados, evitando a ambigüidade dos dados.

 

Publicar conteúdos na Internet é um processo relativamente simples, porém, localizar, controlar e acessar a informação publicada é algo complexo, havendo a necessidade do estabelecimento de normas e de elementos que devem conter qualquer descrição dos recursos disponibilizados na rede.

 

O Greenstone, para seu controle interno, extrai os metadados dos documentos formando um conjunto de dados que recebem o prefixo ex (não são editáveis para alterações). Já, os metadados baseados no Dublin Core, são selecionados pelos usuários para a descrição dos registros e recebem o sufixo mds. O procedimento é para evitar o conflito entre os dois tipos de metadados.

 

 

Sobre os plug-ins do Greenstone

 

Para a criação de uma coleção digital, o programa processa diferentes formatos de documentos ou arquivos eletrônicos. Cada formato é operado pelo seu respectivo plug-in. Alguns dos tipos utilizados:

 

  • TEXTPlug (.txt) – interpretador de arquivos em formato texto.

 

  • HTMLPlug (.htm; .html; .shtml; .shm; .asp; .php; .cgi) – interpretador para arquivos html (hyper text markup language).

 

  • WORDPlug (.doc) – importa e processa documentos em formato Microsoft Word. O software utiliza programas independentes para converter arquivos word em html.

 

  • PDFPlug (.pdf) – interpretador de arquivos em formato pdf (portable document format), criado pela  Adobe. Utiliza um programa independente (pdftohtml) para converter arquivos pdf em html.

 

  • PSPlug (.ps) – interpretador para importação de documentos em formato postscript. Formato disponível para ambiente Unix e Linux.

 

  • EMAILPlug (e-mail) – interpretador que importa arquivos contendo mensagens de correio eletrônico. Opera com os formatos mais comuns. Não processa mensagens codificadas no formato MIME (multipurpose internet mail extension). Este é um padrão de envio de arquivos não texto (imagens, áudio ou vídeo) como anexo de mensagem eletrônica.

 

  • ZIPPlug (.gz; .z; .tgz; .taz; .bz; .zip; .tar) – interpretador para arquivos compactados. Opera em ambiente operacional Linux.

 

 

Requisitos de plataformas operacionais

 

Embora já mencionado, o Greenstone opera sob diferentes sistemas operacionais com distintas configurações. Basicamente, são:

 

MS Windows: a criação de coleções pode ser projetada nas versões Windows 95/98/Me; NT/2000 e XP. Versões mais antigas como 3.1 e 3.11 não permitem o desenvolvimento, mas possibilitam a visualização de bases criadas com o software. Esta opção é útil para bibliotecas que ainda fazem uso destas plataformas operacionais.

 

Unix, Linux e SunOs: para os ambientes operacionais Unix e Linux, o Geenstone proporciona versão completa. Para outros tipos de variantes do sistema operacional Unix (SunOs) é oferecido versões para compilação e rotinas complementares.

 

MacOs/X: é um sistema operacional desenvolvido pela Apple. Apresenta diversos recursos visuais e multimídia.

 

 

Servidores de Rede

 

Como a finalidade principal é dispor conteúdos digitais acessíveis na Internet, servidores são essenciais para tal finalidade. Os sistemas mais comuns são:

 

Apache Web Server: software livre que opera em ambiente operacional Windows e Linux.

 

Servidores Windows: Personal Web Server (PWS), servidor padrão da Microsoft para ambiente Windows versões 95 e 98. Internet Information Services (IIS), servidor para Windows versões 2000 e XP. A versão Windows NT opera com qualquer dos dois servidores.

 

 

Programas e linguagens associadas

 

Diversos programas ou linguagens de programação são compatíveis para aplicação ou desenvolvimento de rotinas de expansão do Greenstone.

 

Perl

Para a criação de coleções é utilizada a linguagem Perl (Pratical Extraction and Report Language). Uma linguagem de programação indicada para processar textos, em função desta característica se tornou um recurso popular no desenvolvimento de scripts de CGI (Common Gateway Interface) para transferência de dados entre um servidor e o navegador do usuário. Para utilização no ambiente Windows é recomendado o programa ActivePerl. Na plataforma Unix e compatíveis a linguagem já se encontra instalada.

 

Java

Para uso da interface de gestão do sistema denominada interface de bibliotecário é necessário ter instalado um executável da linguagem Java. A linguagem pode ser usada em múltiplas plataformas computacionais.

 

Navegador (Browser) Web

Entre os programas citados que permitem acesso aos recursos da world wide web, temos: Netscape Navigator; Internet Explorer; Mozilla e Firefox.

 

CDS/ISIS

Versões recentes do software incorporam um plug-in para importação de bases de dados desenvolvidas em CDS/ISIS o que amplia as possibilidades de integração e padronização para sistemas bibliográficos. A interface denominada interface do bibliotecário (Greenstone Librarian Interface, GLI) é responsável pelo processo de transferência dos dados. Neste processo migratório, o software analisa e aproveita a estrutura de campos definidas na base de dados em Isis, identificando e individualizando cada registro. Como o CDS/ISIS é um programa distribuído pela UNESCO para apoiar a informatização de unidades de informação nos países em desenvolvimento, a integração destes sistemas é um reforço neste sentido.

 

 

Concluindo

 

O texto apresenta, resumidamente, o software Greenstone para construção de bibliotecas digitais. Um programa de código-fonte aberto, apoiado pela UNESCO, como alternativa para organização e distribuição de conteúdos digitais nos países em desenvolvimento.

 

A difusão desta ferramenta, pelas suas características pode contribuir para que qualquer pessoa ou instituição de diversos tipos e tamanho possam desenvolver projetos e iniciativas de bibliotecas digitais com baixo custo financeiro e de recursos humanos especializados e computacionais.

 

Certamente, o maior empenho dos bibliotecários em projetos de criação de conteúdos digitais pode reverter até mesmo em uma revalorização da própria biblioteca tradicional, ampliando a agregação de valor aos serviços e produtos de informação convencionais e inovados. Por fim, servindo considerável parcela dos usuários, deixando-os a um clique de distância dos recursos bibliográficos de confiabilidade.

 

 

Indicações de projetos com Greenstone

 

The New Zealand Digital Library Project

 

China: Peking University digital library

 

Germany: Digitale Bibliothek Information und Medien

 

Russia: Mari El Republic government information

 

The New York Botanical Garden

 

United States: Aladin digital library

 

United States: Center for the Study of Digital Libraries

 

 

Indicações de leitura:

 

Garrido Picazo, P.; Tramullas Saz, J. Um experimento de creación de biblioteca digital com Greenstone. El profesional de la información, v. 13, n.2, p.84-92, marzo-abril 2004.

 

Greenstone digital library software. Disponível em: <http://www.greenstone.org/cgi-bin/library>. Acesso em: 09/09/05.

 

Pandian, M. B.; Kumar; S. S.; Moorthy, R. Creating digital libraries : an experiment with Green Stone Digital Library Open Source Software. In Ally Sornam, S.; Geetha, V., Eds. Proceedings National Conference on Change Management in Library and Information Centers 3, Tiruchirapalli, Tamil Nadu, India, 2003. Disponível em: <http://eprints.rclis.org/archive/00000305/01/CDL.pdf/> Acesso em 09/08/05.

 

Witten, I. H.; Loots, M.; Trujillo, M. F.; Bainbridge, D. The promise of digital in developing countries. Communications of the ACM, v. 44, n. 5, p.82-85, may 2001. Disponível em: <http://citesser.ist.psu.edu/501979.html>.  Acesso em 08/08/2005.


   1023 Leituras


Saiba Mais





Próximo Ítem

author image
DSPACE NA BIBLIOTECA PARA AMPLIAR OS SERVIÇOS DE INFORMAÇÃO
Dezembro/2005

Ítem Anterior

author image
A BIBLIOTECA E OS RECURSOS INFORMACIONAIS NA ERA DIGITAL: COPYRIGHT E LICENCIAMENTOS
Setembro/2005



author image
FERNANDO MODESTO

Bibliotecário e Mestre pela PUC-Campinas, Doutor em Comunicações pela ECA/USP e Professor do departamento de Biblioteconomia e Documentação da ECA/USP.