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AS MANIFESTAÇÕES POPULARES E A MANIFESTAÇÃO CONSOLIDADA DA POPULAR ISBD

O povo brasileiro escreve uma nova obra de mobilização popular. Uma mobilização que se expressa em diversas formas de protestos, e é realizada em diversas culturas, mundo afora.

 

Uma expressão de indignação, de ódio (alguns vândalos), de repulsa, de revolta, no geral contra o desrespeito e desmandos dos poderes públicos em todos os seus níveis.

 

As manifestações se dão em diversos formatos de conteúdo e tipos de mídias de comunicação e de registro das suas ideias e dizeres. Materializa-se na convocação via redes sociais, nos textos dos cartazes, e na sonoridade das vozes carregadas de mensagens, antes sufocadas na garganta.

 

Milhões de biografias brasileiras, de forma coletiva reescrevem o destino de uma nação. Não há o desejo de que o Brasil se ferre, mas se estabeleça um FRBR a modelar uma nova relação entre o social (povo) e política (governo). Transparência Brasil!

 

A pauta de reivindicações pode ser ampla, mas é feita de requisitos mínimos – a participação popular. Alguns dos pontos de acesso preferidos pela população ensejam: Educação de Qualidade, Saúde de Qualidade, Segurança Efetiva, e Transporte Digno, no mesmo padrão FIFA ou superior. Outros pontos de acesso não menos importantes são pontuados, e deste levantamento do vocabulário popular, controlado é a adoção de um cabeçalho uniforme e unânime, o FIM DA CORRUPÇÃO. Utopia? Precisamos de algumas para digerir o viver.

 

Realizar a representação descritiva dos acontecimentos acaba sendo indescritível, pois é a manifestação popular com todos os seus elementos essenciais contidos em todas as áreas da sociedade. O título principal, ainda que genérico, é o #vemprarua. Títulos equivalentes ou outras denominações para títulos podem ser dados para estabelecer um relacionamento efetivo desta Obra das massas.

 

A indicação de responsabilidade não apresenta uma entrada principal, afinal é uma autoria coletiva sob a coordenação do cidadão brasileiro. A edição é atual, com alguma revisão ampliada, em certo sentido, das Diretas Já e do Impeachment do presidente Collor. O local de distribuição da manifestação é toda cidade na qual resida um brasileiro no exercício de sua cidadania. O editor ou produtor dos acontecimentos sou eu, é você, é cada um de nós que viabilizamos os fatos e os acontecimentos, e o exercício de nossa soberania social. A data é agora, o ano é um futuro melhor do que hoje. Acorda uma esperança de recuperação do Brasil.

 

A descrição física (ou na terminologia atual, a descrição do suporte) é milhões de cartazes e inúmeras bandeiras, ilustradas e coloridas na indignação e nos pedidos de um país melhor. As notas têm todos os grifos, destaques e muito mais mensagens que complementam os anseios da população.

 

O número normalizado é o RG ou CPF que individualiza quem somos, e nos soma ou agrega contra os impostos mal empregados em prioridades que não queremos. Indexa Brasil!

 

Todo bibliotecário é um cidadão, e a sua atividade é um exercício contínuo na defesa desta cidadania (que acorda o Brasil), e do bem estar social e informacional da população.

 

Enquanto catalogador ao descrever a manifestação das obras do criador popular brasileiro, também exerço meu apreço pelo bem comum, e a minha indignação a tudo que restrinja o desenvolvimento humano. As práticas e os padrões biblioteconômicos convergem para este fim, aplicá-lo de forma contrária e transgredir contra a missão social da profissão.

 

Neste aspecto é importante olhar toda mudança que ocorre em nossa volta, bem como, também nos instrumento que normatizam a atividade bibliotecária em relação à organização e ao tratamento do conhecimento humano.

 

Se os parágrafos anteriores parecem panfletários é proposital. Apenas para realçar nossa adesão ao movimento popular do grande acervo Brasil. Tecer algumas palavras sobre a consolidação da democracia no país. Mas a intenção deste texto é comentar, superficialmente, a ISBD Consolidada.

 

Especificamente, ao tratar dos códigos utilizados para descrever recursos documentais, vale lembrar as mudanças que ocorrem e parecem desestabilizar práticas catalográficas adotadas por décadas. A atual substituição da AACR2r (Código de Catalogação Anglo-Americano, segunda edição, revista) pela RDA (Recursos: Descrição e Acesso) não determina o fim da representação descritiva, mas uma evolução de um processo tradicional baseado no físico, para um outro baseado nas formas de suporte e do conteúdo digital, e os relacionamentos passíveis de serem estabelecidos. Aliás, a mais de 50 anos a catalogação está em mudanças. Ser catalogador não é um desafio, é um aprendizado persistente.

 

No Brasil, ocorre uma discussão ainda centrada no uso prático da RDA, sem uma reflexão mais ampla sobre os conceitos da norma ainda existente e as alterações sofridas, bem como dos instrumentos descritivos que ela (AACR) contempla. Neste caso, refiro-me a ISBD (Descrição Bibliográfica Normalizada Internacional) que desde a versão da AACR2 (edição 1978), encontra-se incorporada às orientações de pontuação e formato de apresentação bibliográfica. A RDA não incorpora mais estas especificações no corpo de suas regras, portanto, em qual estrutura descritiva o registro será transcrito? Na estrutura do MARC 21? No caso da RDA, a ISBD torna-se um apêndice (apêndice D), a ser opcionalmente utilizada ou não pelo bibliotecário. Neste sentido, como fica a tomada de decisão a ser tomada sobre a formatação do registro? Enquanto bibliotecário de catalogação estou preocupado com isto? Não é algo relevante para o desempenho da atividade? Não vai afetar o usuário da biblioteca?

 

Indagações a parte, importa destacar que a Descrição Bibliográfica Normalizada Internacional serve como a principal norma de promoção do controle bibliográfico universal. Ela contribui para a disponibilidade da informação bibliográfica de todos os recursos publicados no mundo, de forma aceitável internacionalmente. O seu objetivo essencial é oferecer coerência aos registros bibliográficos para o intercâmbio. Neste sentido, ela determina os elementos de dados que permitem transcrever em uma ordem específica a descrição de um recurso. Para este fim prescreve uma pontuação determinada como meio de reconhecer e apresentar estes elementos de dados de forma compreensível e independente do idioma empregado na descrição. Nas figuras 01, 02 e 03 exemplifica-se a importância do uso de um padrão bibliográfico para a apresentação e o intercâmbio de dados, e em especial a ISBD. Na figura 01, tente identificar os dados do título ou da responsabilidade, ou mesmo de distribuição entre outros. Consegue?

 

Figura 01 – Dados Bibliográficos sem Formato definido

 


Fonte: Full ISBD Examples Preliminary edition, 2009 (http://www.ifla.org/en/isbd-rg).

  

 

Figura 02 – Registro Bibliográfico Pontuado – ISBD

 


Fonte: Full ISBD Examples Preliminary edition, 2009 (http://www.ifla.org/en/isbd-rg).

 

A pontuação prescrita na ISBD funciona como um código linguístico, interpretável em si mesmo. Basta visualizar a Figura 02, e embora não dominando o idioma japonês pode-se identificar pela posição e pontuação, alguns dados bibliográficos.

 

Figura 03 – Registro Bibliográfico Formatado por Área da ISBD

 


Fonte: Full ISBD Examples Preliminary edition, 2009 (http://www.ifla.org/en/isbd-rg).

 

No processo de intercâmbio, independente do idioma de transcrição a compreensão fica evidente e rápida, além de mais proveitosa ao serviço de informação e ao conceito do controle bibliográfico.

 

Sobre a ISBD, saliente-se que, em 2009, ano da publicação, pela IFLA, da nova Declaração dos Princípios Internacionais de Catalogação que substituiu e ampliou as Declarações dos Princípios de Paris de 1961, ficou estabelecido que os dados bibliográficos de uma descrição, deve se basear em norma acordada internacionalmente. A ISBD é a norma acordada como padrão internacional pela comunidade bibliotecária. Como a declaração dos princípios não é destinada, exclusivamente, para bibliotecas, mas servem também aos arquivos e museus, além de outras comunidades de informação, resta cada área ter suas normativas descritivas.

 

Apesar das informações serem conhecidas e aprendidas nas disciplinas de Representação descritiva, vale repetir a tabela evolucionária das ISBD, até para inserir a norma atual, ISBD Consolidada. Assim, sintetiza-se um breve histórico.

 

A origem da Descrição Bibliográfica Normalizada Internacional remonta a 1969, quando sob a promoção do Comitê sobre Catalogação da IFLA realizou-se a Reunião Internacional de Especialista em Catalogação – RIEC, em Copenhague. Do evento emergiu a proposta de criação de normas que regulassem a forma e o conteúdo das descrições. Esse aspecto resultou no aumento da cooperação e intercâmbio bibliográfico, e na formulação do conceito da ISBD.

 

Em agosto de 1977, no Congresso Mundial da IFLA ocorrido em Bruxelas, o Comitê sobre Catalogação adotou novas decisões para o programa da ISBD, em especial, determinou a vigência dos seus textos, fixadas em 25 anos, período no qual revisões deveriam ser consideradas e aplicadas. Para tanto constituiu um Comitê de Revisão da ISBD que iniciou os trabalhos em 1981. Quanto à série de edições das ISBD, pode-se mapeá-las da seguinte maneira:

 

§  ISBD (M) [Monographs / Monografia]: 1971 (texto inicial); 1973 (o texto original inglês adaptado por várias agências bibliográficas e traduzidos a diferentes idiomas); 1973 (1ª. Edição); 1978 (edição revisada); 1987 (edição revisada); 2002 (edição revisada). O fato de ser a primeira norma específica publicada marca um período no qual imperava maior preocupação com o tipo documental.

§  ISBD (G) [General / Geral]: 1977 (1ª. Edição); 1992 (edição revisada); 2004 (edição revisada); Em 1975 o Comitê responsável pela AACR, propôs ao Comitê de Catalogação da IFLA o desenvolvimento de uma norma de descrição bibliográfica geral, adequada à todos os tipos de materiais bibliográficos. A norma nasce específica, torna-se geral, se especializa e volta a ser, atualmente, geral. Fato curioso.

§  ISBD (CM) [Cartographic materials / material cartográfico]: 1977 (1ª. Edição); 1987 (edição revisada).

§  ISBD (S) [Serials / Seriado]: 1974 (1ª. Edição); 1977 (edição revisada) é harmonizada com a AACR2; 1988 (edição revisada); torna-se ISBD (CR) [Serials and Other Continuing Resources / Recursos Contínuos]: 2002 (edição revisada).

§  ISBD (CF) [Computers Files / Arquivo de Computador]: 1990 (1ª. Edição); torna-se ISBD (ER) [Electronic Resources / Recursos Eletrônicos]: 1997 (edição revisada).

§  ISBD (NBM) [Non-Book Materials / Materiais não Livro]: 1977 (1ª. Edição); 1987 (edição revisada).

§  ISBD (A) [Antiquarian / Publicações Monográficas Antigas]: 1980 (1ª. Edição), 1991 (edição revisada).

§  ISBD (PM) [Printed Music / Música Impressa]: 1980 (1ª. Edição); 1991 (edição revisada).

 

Outras normas foram propostas ao longo do período, mas não evoluíram de textos delineadores para publicações de normas definitivas. É o caso da:

 

§  ISBD (AN) [Analytic Entries / Analíticas]: 1977 (proposta de norma surgida durante Congresso Mundial, em Bruxelas, para definir requisitos de descrição de obras e partes de obras contidas em uma Série e/ou em outras Obras); 1979 (Inicio de atividade do Grupo de Trabalho, das discussões havidas e definições levantadas, o Grupo renomeou sua nomenclatura e o da norma); passa a denominar-se ISBD (CP) [Component Parts / Partes Componente], 2003 (texto inicial apresentado, sem documento publicado definitivo).

 

Não há edições revistas das normas específicas depois de todas as ISBD publicadas serem consolidadas em uma única norma. Retornou-se para uma norma geral, ou seja, de certo modo, retornou-se ao ponto de partida da ISBD(G). Em suma, segundo Rios Hilários e Guerreiro o processo teve inicio em 2003 quando o Grupo de Revisão das ISBD cria o Grupo de Estudos sobre a Futura Direção das ISBD, responsável pela análise de viabilidade sobre a unificação das normas, com o objetivo de facilitar a descrição dos recursos que compartilhem características de mais de um formato e contribuísse para o trabalho de manutenção e coesão das distintas normas. Um ano depois Tom Delsey publicou o trabalho: Mapping ISBD elements to FRBR entity attributes and relationships. O texto logrou apresentar uma adaptação terminológica entre a ISBD e as entidades dos FRBR. Por ser um modelo conceitual de alta abstração, optou-se pela manutenção da terminologia das ISBD e criar-se um documento isolado que as relacionasse com os FRBR. Ademais, o Grupo de Revisão introduziu mudanças terminológicas nas ISBD, dentre estas, por exemplo, conta a substituição dos termos: item, exemplar e publicação, pelo termo recurso. Em 2005 o Grupo de Estudos sobre a Futura Direção das ISBD conclui ser viável criar uma ISBD Consolidada, tendo publicado um texto preliminar em 2007. Posteriormente, em 2009 é proposta a criação da Área 0 (área de forma do conteúdo e do tipo de mídia), que objetiva solucionar os problemas relativos à Designação Geral de Material – DGM, encontrados na edição preliminar da ISBD. Finalmente, em 2011 é publicada a primeira edição da ISBD consolidada, que continua em discussão.

 

A área 0 indica no começo da descrição tanto a forma ou formas na qual se expressa o conteúdo do recurso, como o tipo ou tipos de mídias utilizadas. Em relação ao primeiro elemento, da forma de conteúdo (imagem, música, texto, etc.), pode-se detalhar um ou mais qualificadores, segundo trata de especificar o tipo de conteúdo (cartográfico, anotado, executado), o movimento (movimento, fixo), a dimensão (duas dimensões, três dimensões), os sentidos (visual, tátil, etc.).

 

Quanto ao tipo de mídia, os termos são extraídos de uma lista terminológica (áudio, eletrônico, microforma, etc.). Outra prescrição recomenda fornecer os qualificadores sempre que conteúdo apresentar-se em diferentes formas e, ainda que o recurso não requeira nenhum tipo de mediação, há que indicar o elemento no registro, utilizando o termo: sem mediação. Na tabela 01 é exemplificado um registro de livro.

 

Tabela 01 – Descrição de Livro – ISBD Consolidada

Área 0

Texto (visual): sem mediação

Área 1

Reestruturação do espaço urbano e regional no Brasil / organizadoras Lena Lavinas, Liana Maria da Frota Carleial, Maria Regina Nabuco ; autores, Cassio Frederico Camargo Rolim ... [et al.]

Área 2

 

Área 3

 

Área 4

São Paulo : HUCITEC, 1993

Área 5

205 p. ; 23 cm

Área 6

(Geografia : teoria e realidade ; 19)

Área 7

Coedição com a ANPUR – Associação Nacional de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional. – Apoio FINEP.

Área 8

ISBN 85-271-0221-8

Fonte: Exemplo extraído de: Antonia Memória. Catalogação de recursos bibliográficos: AACR2r em MARC21. 3ª ed. Brasília : Do Autor, 2006.

 

A ISBD incorpora novas mudanças, mas simplifica a catalogação de recursos que compartilham características comuns por meio de um formato. Integra os registros de ontem com os de hoje. Para os bibliotecários de catalogação Sem dólares para a licença do RDA Toolkit; Sem ânimo para novas desventuras na migração de recurso; Sem recursos orçamentários para comprar acesso de internet banda larga, OPAC comercial, manuais, e cursos; para os Bibliotecários Sem tudo em termos de acesso e uso de padrões bibliográficos, a ISBD Consolidada pode ser uma alternativa excelente. Apesar da dificuldade que é o manuseio de um código com mais de 368 páginas, e com certa confusão na localização das regras aplicadas aos materiais específicos. Enfim, EU QUERO BIBLIOTECAS NO PADRÃO, PODE ATÉ SER FIFA!

 

Indicação de leitura:

 

Ríos Hilario, Ana Belén; Guerreiro, João. La aplicación de la ISBD consolidada en la descripción de los recursos electrónicos: similitudes y diferencias con la ISBD (ER). Scire, vol. 17, n.1, p. 41-48, 2011.

 

IFLA Cataloguing Section and ISBD Review Group. International Standard Bibliographic Description. Disponível em: http://www.ifla.org/publications/international-standard-bibliographic-description Acesso em 10/06/2013.


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FERNANDO MODESTO

Bibliotecário e Mestre pela PUC-Campinas, Doutor em Comunicações pela ECA/USP e Professor do departamento de Biblioteconomia e Documentação da ECA/USP.