ONLINE/OFFLINE


ENRIQUECER O CATÁLOGO BIBLIOGRÁFICO COM BOOK TRAILERS

Apesar de já existir a algum tempo, só recentemente deparei-me com uma moda que parece ser a sensação do mercado editorial e, mesmo, entre os leitores de livros. Trata-se do conceito book trailers e, como o termo em inglês sugere, refere-se a vídeos editados de livros, ou uma espécie de videoclipe literário.

 

A ideia é oriunda do cinema. Todos os filmes, ou pelo menos os mais interessantes, possuem um trailer, que nada mais é do que um trecho, excerto ou conjunto de excertos do filme (principais cenas) editadas para efeito de divulgação junto à mídia e ao público em geral.

 

O conceito adotado no marketing das editoras, é o mesmo do adotado pela indústria cinematográfica, chamar a atenção e despertar o interesse de consumo do público.

 

O que muda de um ambiente para outro é a forma de fazer. Diferente do trailer dos filmes para o cinema, no book trailer a montagem é elaborada com frases e/ou imagens do ou sobre o livro e o seu conteúdo que chamem a atenção do leitor, e tudo isso envolto com música. É recomendável que tenha curta duração, em média, deve durar de 20 segundos a 1:30 minutos.

 

No mercado editorial norte-americano, os trailers de livros têm sido elaborados como verdadeiras produções. É o caso dos exemplos: “RED QUEEN” de Victoria Aveyard; e "One More Thing" de B.J. Novak.

 

No Brasil, exemplos de book trailers são poucos, mas pode-se visualizar na obra de Leandro “Radrak” Reis, para os seus livros da trilogia Legado Goldshine: Os Filhos de Galagah e O Senhor das Sombras.

 

O book trailer não é de elaboração simples e tão pouco barato se montado como superprodução, enquanto um investimento de publicidade com a finalidade de apresentar uma obra de forma atrativa para o leitor, e instigá-lo a comprá-la. Porém, o recurso não faz tudo sozinho. Existem ações que trabalham o marketing literário. Mas, o audiovisual faz diferença e o livro não o tem.

 

Assim, estimular a imaginação do público é menos desafiador com o uso das ferramentas pertencentes ao cinema e à televisão. Entretanto, como a imagem tem poder, o book trailer tem o mesmo efeito dos trailers de filmes, ao gerar a curiosidade. É uma espécie de capa para quando o leitor não tem o livro em mãos ou, no caso da biblioteca, tenha somente o registro bibliográfico mostrado pelo catálogo.

 

Apesar das produções sofisticadas, é possível a qualquer pessoa elaborar um book trailer com ferramentas preexistentes em um computador como: editor de vídeo, programa de apresentação (powerpoint e afins) ou editor de texto, embalada com uma música (de domínio público). Há que realçar os cuidados com os diretos autorais de música, imagens e outros conteúdos utilizados na produção de book trailer. Sugestão de recursos gratuitos é encontrado em:

 

§  Windows movie maker: para criação de vídeo, utilizado na produção de um trailer de livro. Permite incluir imagens estáticas e clipes de vídeo.

§  Microsoft Photo Story para Windows: para criação de vídeo e apresentações de slide usando suas fotos digitais. Permite retocar, cortar ou girar as imagens, além de acrescentar efeitos especiais, trilhas sonoras e narrações com sua própria voz.

§  Recursos de imagem: Flickr (creative commons pesquisa); Pics4Learning.com (site de imagens gratuitas para uso educacional); ImageBase (banco de imagens livres).

§  Recursos de áudio: Vimeo Music Store (inclui música livre); Purple Planet Royalty Free Music (coleção de música livre para download); Incompetech Royalty Free Music (coleção de música gratuita).

§  Recurso de vídeo: Vimeo (inclui vídeos sob licença creative commons).

 

Apesar da indicação de ferramentas de softwares, qualquer programa similar de uso gratuito pode ser utilizado. Entretanto, o que interessa sobre o tema, é saber se o book trailer pode ser aproveitado no ambiente bibliotecário, como alternativa para o enriquecimento do catálogo bibliográfico, indo além da digitalização ou inclusão de imagem da capa do livro catalogado. A área de notas, na descrição bibliográfica, pode absorver a indicação do material por meio de citação e indicação do link de visualização do vídeo.

 

O catálogo bibliográfico não é apenas um índice do acervo da biblioteca, mas uma vitrine importante e pouco valorizada pelo mercado editorial.

 

Aliás, na cadeia produtiva do livro, no Brasil, a biblioteca não é um elemento muito significativo para o setor editorial. Embora para as entidades da área o mercado de consumo e promoção de venda sejam alvos prioritários, entretanto, sem a promoção do livro e da leitura, não há consumo. E leitura é uma ação contínua promovida pelas bibliotecas, apesar do apoio difuso das políticas públicas e empresariais.

 

Ainda em relação ao catálogo bibliográfico, o seu potencial é pouco explorado e inovado tanto pelo bibliotecário, quanto por seus fornecedores e desenvolvedores de softwares, no Brasil. Todos seguem receita tradicional de concepção e interface. Se um lado não ousa o outro lado não se mexe, e vice-versa.

 

Se para a editora, livraria e distribuidores o livro precisa ser comercializado, para a Biblioteca ele necessita ser consultado, usado, circulado ou lido. Neste aspecto, a ideia do trailer parece contribuir para movimentar o mercado (editorial e bibliotecário), bem como, despertar entre os jovens (já que são os maiores usuários de internet) e, mesmo, entre os adultos, o desejo de ler e consumir livros.

 

Karen Springen comenta que as intenções comerciais na produção dos vídeos de trechos de livros são válidos e têm o seu lugar como recursos que servem à uma função específica: vender livros. Mas não é o que se imaginava a dez anos quando o conceito foi criado e o termo Digital booktalk foi cunhado. A visão do book trailers foi o de criar oportunidades para que estudantes pudessem reencenar a história principal dos livros que leram, usando vídeo, imagens, música, gravação sonora e outras ferramentas digitais. A intenção original era fornecer um meio para que os leitores com dificuldades ou problemas de leitura pudessem visualizar melhor o que estavam lendo, bem como, ajudá-los a fazer melhores escolhas na seleção de livros a partir de listas de leitura.

 

Neste contexto, o book trailer também pode ser explorado pelo bibliotecário brasileiro, em programas de leitura, para motivar antigos e novos leitores na biblioteca. Por exemplo, concurso entre leitores podem ser criados como estimulo para divulgação de vídeos baseados em obras lidas e na sua interpretação das passagens de leituras captadas. E os resultados podem contribuir para o desenvolvimento da coleção, ampliação do acesso e circulação das obras. Novas aquisições de livros podem ser acompanhadas de seus vídeos promocionais e disponibilizadas na página, blog ou facebook da biblioteca, na web, como um mostruário digital muito mais dinâmico.

 

Neste sentido, experiências são encontradas na Internet. É o caso da Madison Public Library, com o programa “Bubbler”, que oferece capacitação básica em animação, música, design de vestuário, dança ou pintura. Possibilita, aos participantes, contato com especialistas locais que compartilham seus talentos e recursos. A biblioteca oferece uma variedade de palestras, demonstrações, apresentações, realizadas em todas as bibliotecas ramais do sistema. Os trabalhos produzidos pelos seus usuários são disponibilizados no site da biblioteca, e neles se incluem a produção dos vídeos sobre livros.

 

Quem quiser conhecer mais sobre book trailer, é só acessar o youtube ou vimeo e conferir as produções disponibilizadas.

 

Indicação de leitura:

 

Springen, K. The big tease: Trailers are a terrific way to hook kids on books. School Library Journal, 28-31, 2012.


   613 Leituras


Saiba Mais





Próximo Ítem

author image
DIÁLOGO COM O USUÁRIO DO CATÁLOGO DA BIBLIOTECA
Fevereiro/2016

Ítem Anterior

author image
A REGRA DO JOGO NA REPRESENTAÇÃO DESCRITIVA
Novembro/2015



author image
FERNANDO MODESTO

Bibliotecário e Mestre pela PUC-Campinas, Doutor em Comunicações pela ECA/USP e Professor do departamento de Biblioteconomia e Documentação da ECA/USP.