O PROPÓSITO
Um pouco de medo
ou muito medo.
Exagero de medo.
Medra a alma
na ânsia do fim.
Sou covarde
para algumas coisas.
Outras, não.
Extremas, não.
A lâmina pulsa e sangra.
Meu coração expulsa,
o sangue lateja, jorra,
esguicha, pulveriza.
Marca o chão,
avermelha o chão.
Sou o chão.
Não sei para onde
vou. Voo. Voragem.
Toda viagem se acaba.
É a sina da viagem.
Toda viagem é assassina.
Toda vida é assassina.
Por que deixar nas mãos
de outros o meu destino?
Destino aos outros
um pobre legado.
Uma fala boba,
perdida no espaço,
escritas vazias,
porque sem atos.
É passado, ficou
na história.
Fez-se estória e se
Perdeu.
(Mas, o que ficou
na história, fica).
Palavras gritadas
no calabouço,
escritas gravadas
nas paredes escuras.
Quase nada exposto.
Não há espaço,
não é possível.
Quase tudo virou cinza.
E o que não virou
é cinzento, cinza escuro.
Há um escuro,
que não sei onde dá.
Começou no berço.
Nem as milhares de
manhãs, amanhãs,
clareou.
A eterna busca.
No escuro.
Avermelha o que não se vê.
Talvez se descubra, depois,
o propósito.