CRÔNICAS E FICÇÃO


DO NOSSO POVO

Quero meu rosto marcado,

Não com meu sofrimento,

Mas com o que padece

A maior parte do nosso povo.

 

Que meu corpo se dobre,

Não sob a força de meu trabalho,

Mas soterrado pela triste lida

Da maior parte do nosso povo.

 

Espero minha língua travada,

Não por culpa de minhas débeis palavras,

Mas pelas impositivas censuras impostas

À maior parte do nosso povo.

 

Prevejo meus pés parados, estanques,

Não por obstáculos que a mim mesmo impingi,

Mas pelos campos minados e armadilhas que matam

A maior parte do nosso povo.

 

Quero minhas mãos calosas e cheias de rasgos,

Não pela profissão que me foi dada,

Mas pelos tristes trabalhos que impuseram

À maior parte do nosso povo.

 

Vaticino meu caminhar trôpego e cambaleante,

Não pelos meus pequenos problemas,

Mas pela fome e pela miséria que dizem ser normais

Para a maior parte do nosso povo.

 

Antevejo meu mundo destruído,

Não por culpa da maior parte do nosso povo,

Mas pela ganância, pela usura social e pela hipocrisia

Da menor parte do nosso povo.

Autor: Oswaldo Francisco de Almeida Junior

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OSWALDO FRANCISCO DE ALMEIDA JÚNIOR

Professor associado do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Estadual de Londrina. Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UNESP/Marília. Doutor e Mestre em Ciência da Comunicação pela ECA/USP. Professor colaborador do Programa de Pós-Graduação da UFCA- Cariri - Mantenedor do Site.