NAS COSTAS DO PRETO
Chia
a chibata
nas costas
do preto.
Chibata
chibatando
nas costas
do preto.
Preteja
o preto,
avermelha
o preto.
Chia,
Mais forte
nas costas
do preto.
Festa
no pelourinho.
Obedeça,
chibata,
nas costas
do preto.
Sai de perto
preto torpe.
Baila
a chibata
como rendas
pingentes
de um vestido
violento.
A chibata veste
as costas
do preto.
Marca sua
vida,
sua sina.
Bata, chibata,
bata nas costas
do preto.
Ela vive, cresce
da chibata
ela é
a chibata.
Basta, diz
o preto,
basta.
Mas, não
basta
o desejo
não
basta
a vontade.
A fuga
também é
chibata.
Quilombo
é chibata.
Alforria –
ria a casa
grande –
também
é chibata.
Correntes,
argolas,
mudaram.
mas nada
mudou.
São outras
correntes,
outras
argolas.
Não estão
nos pescoços,
nos pés,
nos braços.
No entanto,
pesam do
mesmo
jeito,
da mesma
maneira.
Prendem,
machucam,
sufocam
do mesmo
jeito.
Novas
chibatas,
preto,
novos
grilhões.
Apesar disso,
os quilombos
crescem,
tomam,
ocupam
espaços,
mais espaços.
A liberdade
não é
áurea
ou Isabel.
A liberdade é
tomada.
Mão fechada,
punho erguido.
A terra,
preto,
não é
branca.
O mundo,
preto,
não é
branco.
A liberdade,
o direito,
a vida,
preto,
nada disso
é
branco.
O mundo
não tem
dono,
preto.
Sem
chibata
nas costas,
preto,
sem vermelho
no corpo,
mas respeito
no peito,
no preto.