CRÔNICAS E FICÇÃO


UM DIA, UM MENINO

Minha mãe,

tecendo conversas

com vizinhas,

nós, rindo alegres,

brincando de

momentos felizes.

Esconde, esconde,

mãe da rua,

bate lata,

mão na mula...

O chamado

e o suor

exigindo

o banho indesejado,

mas obrigado.

Rosto vermelho,

memória da

pequena felicidade.

A cama,

ansiada pelo cansaço,

e a tristeza

pela perspectiva

da escola.

Manhã de sono,

cabeça no joelho,

outro chamado,

urgente,

mais alto.

Mãos sobre o quente

do leite no fogão.

Pão com manteiga

molhado no café.

Mala na mão,

sono em pé,

caminhada,

porta da escola,

parto de escola.

A tia falando, longe.

Nós também longe,

no campinho,

na brincadeira.

Pavor da prova.

O alarme libertando.

Tropeço no amigo.

Cai, caindo,

rala o joelho,

Põe a blusa, menino.

Arroz, feijão e bife,

gritos dos amigos,

fruta metade na mão,

metade na boca.

Calção, kichute e bola,

ops, a bola é do amigo.

Água no pescoço,

no pulso,

mãos em concha,

água reparadora,

começa o jogo de taco,

bétis para outros,

ou pião,

ou bafo,

ou gude,

ou o que foi lembrado.

Olha a lição.

Não dá mais pra protelar.

Antes, a banana amassada,

com aveia e leite frio.

Caneta no caderno

e ouvido na rua.

A escola é a rua.

Escurece e minha mãe

Volta a tecer conversas.

São, ela e as outras,

professoras,

nossas professoras

da vida.

Autor: Oswaldo Francisco de Almeida Junior

   224 Leituras


author image
OSWALDO FRANCISCO DE ALMEIDA JÚNIOR

Professor associado do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Estadual de Londrina. Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UNESP/Marília. Doutor e Mestre em Ciência da Comunicação pela ECA/USP. Professor colaborador do Programa de Pós-Graduação da UFCA- Cariri - Mantenedor do Site.