UM DIA, UM MENINO
Minha mãe,
tecendo conversas
com vizinhas,
nós, rindo alegres,
brincando de
momentos felizes.
Esconde, esconde,
mãe da rua,
bate lata,
mão na mula...
O chamado
e o suor
exigindo
o banho indesejado,
mas obrigado.
Rosto vermelho,
memória da
pequena felicidade.
A cama,
ansiada pelo cansaço,
e a tristeza
pela perspectiva
da escola.
Manhã de sono,
cabeça no joelho,
outro chamado,
urgente,
mais alto.
Mãos sobre o quente
do leite no fogão.
Pão com manteiga
molhado no café.
Mala na mão,
sono em pé,
caminhada,
porta da escola,
parto de escola.
A tia falando, longe.
Nós também longe,
no campinho,
na brincadeira.
Pavor da prova.
O alarme libertando.
Tropeço no amigo.
Cai, caindo,
rala o joelho,
Põe a blusa, menino.
Arroz, feijão e bife,
gritos dos amigos,
fruta metade na mão,
metade na boca.
Calção, kichute e bola,
ops, a bola é do amigo.
Água no pescoço,
no pulso,
mãos em concha,
água reparadora,
começa o jogo de taco,
bétis para outros,
ou pião,
ou bafo,
ou gude,
ou o que foi lembrado.
Olha a lição.
Não dá mais pra protelar.
Antes, a banana amassada,
com aveia e leite frio.
Caneta no caderno
e ouvido na rua.
A escola é a rua.
Escurece e minha mãe
Volta a tecer conversas.
São, ela e as outras,
professoras,
nossas professoras
da vida.