PROFUSÃO DE SONS
A procissão dos possessos
para os pessimistas;
os possessos da procissão
para os otimistas.
Os protestos à procissão
que se alonga.
Todos estão longe
dos olhos nus.
Milhares de mãos
que se avolumam,
mas nunca se encontram.
O sol esfola as costas
de todos.
Olham-se apiedados
mas com as mãos
nos bolsos.
Estão rasgados e rotos.
E rotos arrotam raiva.
Escaparam as esperanças
das trombetas e dos
clarins.
A paz apenas,
apenas a paz.
E rugem rugidos roucos,
os loucos.
Apenas a paz.
E a paz morreu
na garganta
do primeiro baleado.
Apenas a paz.
E antes do segundo,
a fome
devorava o amor.
Em vômitos que dilaceram
toda a essência,
buscando inconsciente
o infinito,
a procissão apodrece.
Não sabem que
a poucos passos
tudo termina...
em sangue.
Amôrte,
amôrte.
E rugiam rugidos roucos,
os loucos.
E rugem rugidos roucos,
os loucos.
Profusão de sons;
lindo colorido.
Profusão de sons;
lindo colorido.
A terra sulcada,
corrompida
e baleada:
por sangue.
Lindo colorido.
O corpo manchado:
estrebuchando.
Profusão de sons.
E a gente morrendo:
Por palavras,
por gestos,
por armas,
por mas,
por ar,
por nós,
por raiva.