CRÔNICAS E FICÇÃO


PROFUSÃO DE SONS

A procissão dos possessos

para os pessimistas;

os possessos da procissão

para os otimistas.

Os protestos à procissão

que se alonga.

Todos estão longe

dos olhos nus.

Milhares de mãos

que se avolumam,

mas nunca se encontram.

O sol esfola as costas

de todos.

Olham-se apiedados

mas com as mãos

nos bolsos.

Estão rasgados e rotos.

E rotos arrotam raiva.

Escaparam as esperanças

das trombetas e dos

clarins.

 

A paz apenas,

apenas a paz.

 

E rugem rugidos roucos,

os loucos.

 

Apenas a paz.

 

 

E a paz morreu

na garganta

do primeiro baleado.

 

Apenas a paz.

 

E antes do segundo,

a fome

devorava o amor.

Em vômitos que dilaceram

toda a essência,

buscando inconsciente

o infinito,

a procissão apodrece.

Não sabem que

a poucos passos

tudo termina...

em sangue.

 

Amôrte,

amôrte.

 

E rugiam rugidos roucos,

os loucos.

E rugem rugidos roucos,

os loucos.

 

Profusão de sons;

lindo colorido.

Profusão de sons;

lindo colorido.

 

A terra sulcada,

corrompida

e baleada:

por sangue.

 

Lindo colorido.

 

O corpo manchado:

estrebuchando.

 

Profusão de sons.

 

E a gente morrendo:

 

Por palavras,

por gestos,

por armas,

por mas,

por ar,

por nós,

 

por raiva.

 

Autor: Oswaldo Francisco de Almeida Junior

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OSWALDO FRANCISCO DE ALMEIDA JÚNIOR

Professor associado do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Estadual de Londrina. Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UNESP/Marília. Doutor e Mestre em Ciência da Comunicação pela ECA/USP. Professor colaborador do Programa de Pós-Graduação da UFCA- Cariri - Mantenedor do Site.